A economia da China esteve à beira de uma deflação em junho, o que intensificou a pressão sobre Pequim para lançar um pacote de estímulos mais fortes para dar sustentação à recuperação cambaleante do país no pós-pandemia.
O índice de preços ao consumidor (IPC) mostrou estabilidade na comparação anual e teve uma queda de 0,2% em relação ao mês anterior, enquanto os preços na “porta da fábrica” tiveram o maior declínio desde 2016, afetados pelo enfraquecimento na demanda por bens de consumo e manufaturados.
Analistas preveem que os números levarão o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) a voltar a reduzir os juros, dando sequência ao corte de junho, mas muitos acreditam que isso ainda precisará ser complementado por políticas governamentais de estímulo fiscal.
“A China ainda está crescendo, a questão é se atingirá sua meta”, disse Heron Lim, economista da Moody’s Analytics. “Em termos de recuperação, isso ainda está ocorrendo, mas a preocupação é que esteja em desaceleração.”
A China almeja um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, com a economia emergindo dos rigorosos controles impostos contra a covid-19, mas a recuperação vem se mostrando frágil, com os preços dos imóveis e das exportações em queda.
— Foto: Tomohiro Ohsumi/Bloomberg
O consumo ainda está em alta, mas há a preocupação de que o governo precisará fazer mais para sustentar a recuperação diante da desaceleração do crescimento econômico mundial, que reduz a demanda por exportações chinesas.
O enfraquecimento da economia se dá enquanto Pequim tenta atenuar as tensões com os EUA, a quem muitos culpam pela falta de confiança dos investidores na China após uma série de sanções do tipo olho por olho.
Durante visita a Pequim no fim de semana, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tentou reassegurar aos anfitriões, incluindo a segunda maior autoridade do país, o premiê da China, Li Qiang, que os EUA não querem um descasamento econômico em larga escala.
O IPC ficou fora do previsto por analistas numa pesquisa da “Reuters”, que projetava aumento de 0,2%.
O índice de preços no atacado em junho recuou 5,4% em comparação ao mesmo período de 2022, caindo mais do que os 4,6% de queda registrados em maio e mais do que a projeção dos analistas consultados pela “Reuters”, que previam declínio de 5%.
Analistas do Goldman Sachs disseram que a baixa se deve, em parte, à queda das commodities e à continuidade nos cortes de preços em função do festival de compras on-line “618” [referência a 18 de junho, o Shopping Day] realizado na metade do ano na China.
A inflação dos alimentos aumentou em junho, em parte afetada pela alta dos preços dos vegetais, que tiveram um aumento de 10,8% em comparação com mesmo mês de 2022, após terem recuado 1,7% em maio.
Por sua vez, os preços da carne suína caíram em junho influenciados pela baixa demanda, com um recuo de 7,2% na comparação anual.
“A leitura ultrabaixa da inflação dá suporte à nossa visão de que o Banco do Povo da China provavelmente realizará mais duas rodadas de cortes nos juros”, escreveram economistas do Nomura em nota a investidores.
Eles acrescentaram que o BC chinês também poderia injetar mais liquidez no sistema monetário se voltar a reduzir as exigências de reservas bancárias, o volume de dinheiro que os bancos precisam reter como medida prudencial.
Lim, da Moody’s, diz que poucos preveem algum pacote de estímulos gigantescos, do tipo “tiro de bazuca”. “Apesar do fato de a economia estar bem perto de uma deflação, não parece que o Banco do Povo da China está pensando em estímulos monetários como os que o Fed dos EUA ou o Banco Central Europeu (BCE) estariam fazendo”.
O enfraquecimento do desempenho econômico se dá enquanto economistas chineses conclamam o governo a orientar suas miras para o consumidor, alterando sua forma tradicional de estímulos – investir em projetos de infraestrutura grandiosos.
“Isso pode responder mais diretamente a nossas atuais deficiências e bloqueios econômicos”, disse Cai Fang, economista sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais — que é estatal —, segundo a transcrição de um fórum de negócios publicada pelo site chinês de notícias “Caijing”.
No mercado de câmbio na China continental, a moeda chinesa abriu o dia negociada a 7,2256 yuans por dólar e por volta do meio-dia local estava em 7,2239, com ligeira desvalorização em relação ao fechamento da sessão anterior, segundo a “Reuters”.