Congresso derruba taxação e cria crise fiscal para Lula em 2026
O Congresso derruba taxação proposta pelo governo federal e impõe um novo revés à equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A rejeição da Medida Provisória 1.303, que previa o aumento de impostos sobre investimentos e apostas, não apenas frustrou as expectativas de arrecadação de até R$ 20 bilhões, como também agravou a dificuldade do governo em alcançar a meta de déficit zero em 2026.
A decisão, tomada em votação relâmpago na Câmara dos Deputados, simboliza o enfraquecimento da base governista no Congresso e acende um alerta sobre a sustentabilidade fiscal do país em um ano que será marcado por eleições presidenciais.
Entenda a MP 1.303 e o que estava em jogo
A MP 1.303, editada em junho de 2025, fazia parte do pacote de medidas elaboradas pela equipe do Ministério da Fazenda, liderada por Fernando Haddad, com o objetivo de compensar a perda de arrecadação após a rejeição de um aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A proposta previa a taxação de investimentos hoje isentos, como LCAs, LCIs, CRIs e CRAs, além de um aumento na tributação das bets — as populares casas de apostas esportivas online. O plano também unificava em 18% o imposto de renda sobre títulos do Tesouro Direto e CDBs, que atualmente variam entre 15% e 22,5%, de acordo com o prazo de aplicação.
O cálculo inicial da Fazenda indicava que a medida poderia gerar R$ 20,5 bilhões em novas receitas já em 2026. Após negociações com parlamentares, o valor foi reduzido para algo próximo de R$ 17 bilhões, ainda considerado fundamental para o equilíbrio das contas públicas.
O efeito dominó da rejeição no Congresso
Com a derrubada da taxação, o governo perde uma importante fonte de arrecadação que seria usada para fechar o orçamento do próximo ano. Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter restabelecido parte do aumento do IOF, o montante obtido não cobre completamente o rombo deixado pela rejeição da MP.
A soma das duas medidas — o aumento do IOF e a MP 1.303 — garantiria um reforço de cerca de R$ 51 bilhões em novos impostos. Sem a contribuição da MP, o governo perde aproximadamente R$ 20 bilhões, valor suficiente para comprometer a meta de déficit zero em 2026.
O déficit zero é uma das promessas centrais do governo Lula para manter a confiança do mercado e conter a pressão sobre os juros. Pela regra fiscal, o governo tem uma margem de tolerância de 0,25% do PIB, o que representa cerca de R$ 34 bilhões. Ainda assim, a perda de receita empurra o governo para uma posição de fragilidade em um cenário econômico que já demonstra desaceleração no crescimento.
Impacto direto no plano econômico de 2026
Com o Congresso derrubando a taxação, o Plano Fiscal de 2026 sofre um abalo significativo. A arrecadação menor aumenta a necessidade de cortes e contingenciamentos orçamentários, especialmente em áreas consideradas estratégicas para o governo, como investimentos sociais e infraestrutura.
A decisão ocorre em um momento de fragilidade econômica. Após dois anos de crescimento impulsionado pelo consumo e pelo crédito, a economia brasileira dá sinais de desaceleração. A receita pública cresce em ritmo mais lento, e as despesas continuam em trajetória ascendente.
Segundo economistas, essa combinação pode obrigar o governo a reduzir gastos públicos em pleno ano eleitoral. O risco é político e econômico: o presidente Lula pode ter que escolher entre cumprir a meta fiscal e preservar sua popularidade.
Reação do mercado e incertezas no cenário fiscal
O mercado financeiro reagiu com cautela ao resultado da votação. Analistas avaliam que o Congresso derrubando a taxação envia um sinal negativo sobre a capacidade do governo de aprovar medidas fiscais impopulares, mas necessárias.
A percepção de risco fiscal tende a pressionar o câmbio e os juros futuros, já que investidores passam a exigir prêmios maiores para financiar a dívida pública. O ambiente político fragmentado, com uma base parlamentar dividida, torna ainda mais difícil a aprovação de novas medidas de arrecadação nos próximos meses.
Lula e Haddad enfrentam novo teste político
A derrota da MP 1.303 é interpretada como um teste da capacidade de articulação política do governo. Mesmo com esforços de última hora, a equipe de Fernando Haddad não conseguiu convencer os líderes partidários a manter a proposta.
Para o Palácio do Planalto, o impacto político é duplo: além do prejuízo econômico, a derrota reforça a percepção de que o governo tem pouco controle sobre o Congresso, o que pode prejudicar futuras votações — inclusive as que envolvem o orçamento de 2026.
Internamente, cresce a pressão sobre o núcleo político de Lula para reformular a estratégia de diálogo com o Legislativo. A falta de alinhamento entre os ministérios e os partidos aliados tem sido apontada como uma das causas da fragilidade na articulação política.
TCU impõe nova regra e agrava o desafio fiscal
Somando-se à crise provocada pela derrubada da taxação, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o governo deverá cumprir a meta central de resultado fiscal, e não mais a banda inferior de tolerância.
Na prática, isso significa que o governo Lula terá de entregar um déficit zero real em 2026, sem recorrer à margem de 0,25% do PIB, equivalente a R$ 34 bilhões. Essa decisão técnica amplia o desafio fiscal e deixa o governo sem espaço para manobras contábeis.
Economistas alertam que, sem a receita da MP, o governo terá de recorrer a contingenciamentos mais severos, o que pode afetar diretamente programas de investimento e repasses para estados e municípios.
Ano eleitoral e risco de paralisia econômica
O ano de 2026 tende a ser um dos mais complexos da gestão Lula. Além da pressão fiscal, o governo enfrentará o desafio de manter o crescimento econômico em meio à incerteza política.
A proximidade das eleições e a possibilidade de reeleição de Lula tornam o debate fiscal ainda mais sensível. Qualquer corte de gastos pode gerar desgaste junto à base eleitoral, enquanto novas propostas de taxação enfrentam resistência imediata no Congresso.
Analistas políticos avaliam que o governo precisará escolher entre ajustar as contas públicas e preservar o capital político necessário para buscar um novo mandato.
Um cenário de incertezas para 2026
A decisão do Congresso de derrubar a taxação proposta pelo governo é um divisor de águas no cenário fiscal e político do país. O episódio escancara as dificuldades de Lula em manter coesa sua base parlamentar e em aprovar medidas de ajuste em um ambiente polarizado.
Com a arrecadação comprometida e novas regras fiscais mais rígidas, o governo entra em 2026 pressionado por todos os lados: pela necessidade de cumprir o déficit zero, pela desaceleração econômica e pela proximidade de um novo ciclo eleitoral.
Sem os R$ 20 bilhões da MP 1.303, o desafio de equilibrar receitas e despesas se transforma em uma missão quase impossível — e a responsabilidade política recai diretamente sobre o Palácio do Planalto.
O episódio mostra que, mesmo com a economia dando sinais de cansaço, o Congresso mantém o poder de definir o rumo das finanças públicas e da política nacional.






