Cláudio Castro vai a Brasília após governo federal enviar comitiva ao Rio para discutir operação que deixou 64 mortos
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou na noite desta terça-feira (28) que viajará a Brasília nesta quarta (29) para discutir com o governo federal os desdobramentos da megaoperação policial que deixou 64 mortos nos Complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio.
A decisão foi tomada após o Palácio do Planalto informar o envio de uma comitiva ministerial ao Rio de Janeiro, composta por ministros e representantes da Polícia Federal (PF), para acompanhar a situação de segurança pública no estado. Com a mudança de agenda, a reunião será realizada na capital federal, com a presença de Cláudio Castro, em um encontro que promete ser tenso diante da escalada de críticas e trocas de acusações entre os dois governos.
Governo Lula envia comitiva para tratar da crise no Rio
O governo federal convocou uma reunião de emergência no fim da tarde desta terça-feira (28), no Palácio do Planalto, para discutir a operação policial considerada a mais letal do Rio de Janeiro em 2025. O encontro foi presidido pelo vice-presidente e presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e contou com a presença de ministros de áreas estratégicas.
Entre os participantes estiveram Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secom), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos), além de representantes dos ministérios da Justiça, Defesa e da Polícia Federal.
Durante a reunião, ficou decidido que os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) e Rui Costa viajariam ao Rio de Janeiro para avaliar a situação e dialogar com o governo estadual. No entanto, com o anúncio da viagem de Cláudio Castro a Brasília, a comitiva federal adiará a ida ao Rio e participará de uma reunião na capital federal para debater o assunto diretamente com o governador fluminense.
Cláudio Castro muda de rota e tenta reverter desgaste político
A decisão de Cláudio Castro de ir a Brasília é vista por analistas como uma tentativa de controlar o desgaste político após a operação com alta letalidade, que gerou repercussão nacional e internacional. O governador enfrenta pressões de diferentes frentes: do Supremo Tribunal Federal (STF), que cobra um plano de redução da violência policial, e de setores do governo federal, que acusam o Rio de atuar sem coordenação e sem inteligência de segurança.
Fontes próximas ao Palácio Guanabara informaram que Cláudio Castro deve ligar ao ministro Rui Costa na manhã de quarta (29) para acertar os detalhes da reunião. O objetivo do encontro, segundo interlocutores, é alinhar discursos e tentar reduzir o clima de embate entre os dois governos.
A operação que desencadeou a crise foi deflagrada na madrugada de terça-feira, com participação de forças estaduais, e terminou com pelo menos 64 mortos, incluindo suspeitos, civis e policiais. O episódio reacendeu o debate sobre a letalidade policial no Rio de Janeiro e a falta de cumprimento das decisões do STF, que exigem estratégias de inteligência e cooperação com a PF e o Coaf no combate ao crime organizado.
Cláudio Castro x Governo Federal: a nova disputa política
Desde o início da crise, Cláudio Castro e o governo Lula vêm trocando acusações sobre a responsabilidade pela escalada da violência no Rio. Enquanto o governador afirma que faltam recursos e apoio federal, ministros do Planalto afirmam que o estado não apresentou plano estruturado de segurança pública nem cumpriu determinações judiciais.
Essa tensão cresceu após declarações de Castro culpando Brasília pela falta de blindados e equipamentos nas operações. Em resposta, integrantes do governo federal classificaram as falas como uma tentativa de desviar o foco da falta de planejamento estratégico.
O Planalto defende que o Rio precisa abandonar a política de operações improvisadas e investir em inteligência policial e ações coordenadas. O STF, por sua vez, determinou em abril que o estado apresente um plano de retomada territorial e de redução da letalidade policial, com participação de órgãos como a Polícia Federal, o Coaf e a Secretaria da Fazenda estadual.
Lula acompanha a situação em retorno da Ásia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que estava em viagem oficial à Malásia, acompanhou a repercussão da operação durante o voo de retorno ao Brasil. Ele desembarcou em Brasília por volta das 20h desta terça-feira (28), após um longo trajeto sem comunicação externa.
De acordo com fontes do Planalto, Lula foi briefado por assessores e ministros sobre a tragédia no Rio e pretende acompanhar diretamente as discussões nos próximos dias. O presidente não participou da reunião de emergência, mas delegou ao vice-presidente Geraldo Alckmin e aos ministros Rui Costa e Lewandowski a condução inicial do diálogo com o governo fluminense.
A expectativa é que, após o encontro com Cláudio Castro, o governo federal anuncie medidas conjuntas para tentar reduzir a tensão política e estabelecer um plano coordenado de segurança pública no estado do Rio de Janeiro.
A operação e suas consequências
A operação policial nos Complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, mobilizou centenas de agentes e resultou em 64 mortes confirmadas, além de dezenas de feridos. Foi a ação mais letal do estado em 2025 e reacendeu o debate sobre violência policial, direitos humanos e ausência de políticas preventivas.
Organizações da sociedade civil e parlamentares cobraram uma investigação independente sobre as circunstâncias das mortes e o cumprimento das regras determinadas pelo STF para operações em áreas densamente povoadas.
O Ministério dos Direitos Humanos, liderado por Macaé Evaristo, deve incluir o caso em um relatório nacional sobre letalidade policial, a ser apresentado até o fim do ano. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também monitora o caso, que pode se transformar em uma crise federativa caso a responsabilidade sobre as ações policiais não seja esclarecida.
Brasília será o palco da tentativa de conciliação
O encontro entre Cláudio Castro e os ministros do governo federal em Brasília será decisivo para definir o tom da relação entre os dois poderes.
De um lado, o Planalto tenta conter a repercussão negativa e garantir que o país não mergulhe em uma crise institucional entre União e estado. Do outro, Castro busca mostrar protagonismo político e preservar sua imagem, desgastada por sucessivos episódios de violência e falta de resultados concretos na segurança pública.
Analistas avaliam que a reunião deve resultar em um pacto de cooperação emergencial, com foco em inteligência, integração de dados e presença coordenada das forças federais e estaduais. No entanto, há dúvidas sobre a capacidade de execução dessas medidas, diante da falta de sintonia entre os governos.
Falta de comando e desafios para o Rio
A crise expõe a fragilidade da segurança pública fluminense e a falta de comando político e operacional. O Rio enfrenta há anos um cenário de domínio territorial de facções criminosas, ausência do Estado em áreas vulneráveis e reincidência de operações com alto número de mortes.
Enquanto o governo estadual insiste em operações repressivas, o governo federal e o STF cobram estratégias estruturais e de longo prazo, com foco em investigação, rastreamento financeiro e políticas sociais nas comunidades mais afetadas.
O desafio agora é transformar o confronto político em cooperação técnica, algo que o encontro em Brasília tentará colocar em prática.
O impasse entre Cláudio Castro e o governo Lula
O desdobramento da crise no Rio de Janeiro evidencia o impasse entre o governo estadual e o governo federal. De um lado, Cláudio Castro busca apoio político para se proteger da pressão crescente por resultados na segurança pública; do outro, o Planalto tenta evitar que a tragédia se transforme em uma crise federativa.
Com 64 mortos e uma disputa de narrativas em curso, o país aguarda o resultado da reunião em Brasília, que pode definir os próximos passos na gestão da segurança fluminense. Resta saber se a conversa entre Castro e os ministros de Lula marcará o início de uma cooperação efetiva — ou se o episódio reforçará a imagem de um estado em colapso, com falta de comando, planejamento e diálogo institucional.






