A Coca-Cola acaba de lançar uma plataforma digital para permitir a troca de conhecimento e conexão de seus mais de 80 parceiros de organizações da sociedade civil na América Latina, envolvidos em centenas de iniciativas que a empresa é patrocinadora ou cocriadora. A plataforma, chamada de Aliados, é, segundo Andrea Mota, diretora de Sustentabilidade e Aliados de Coca-Cola na região, um instrumento para “destravar o potencial e a força da rede de parcerias” que a empresa veio criando nos últimos três anos.
“Começamos com o que chamo de ‘núcleo duro’, as 62 organizações que conhecemos e sabemos que faz coisas impressionantes”, diz. “A ideia é que seja uma plataforma de impacto coletivo de colaboração e que possa atrair outros sócios. Vamos começar com a gente, mas queremos acelerar o impacto, criando formas diferentes de alavancar as ações”, acrescenta, se referindo a busca de outras empresas que queiram se engajar e investir na plataforma.
A executiva explicou no evento, que contou com a presença de representantes de mais de 60 ONGs e de alguns jornalistas da imprensa latina, incluindo o Valor, que a ideia surgiu quando perceberam que muitos dos desafios e objetivos dos projetos havia pontos em comum nos países latinos.
“Quando deixei a função no Brasil e passei a trabalhar com a América Latina, me dei conta de que muitas coisas boas estão sendo feitas em outros países e que coisas que fazemos no Brasil podem ser interessantes também para eles”, diz. “Claro, o contexto local importa muito, mas, de forma geral, os desafios são parecidos e há como alinhar as iniciativas e os esforços de comunicação, escalar a colaboração em um ecossistema”, ressalva, citando a necessidade de desenvolvimento econômico, social e de bem-estar de populações vulneráveis, proteção de recursos naturais e florestas e empoderamento feminino.
Apesar de ter uma capilaridade grande e poder financeiro, a empresa não tem todas as experiências, técnicas, recursos humanos, habilidades e contatos que são importantes para impactar as pessoas na ponta, de acordo com executivos que participaram do evento. Sergio Londoño, vice-presidente de Relações Públicas, Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola América Latina, explica que o programa Aliados é “um combo de crescimento sustentável na região” e a forma de melhorar a qualidade de vida de todos e preservar o planeta. Ante dos desafios sociais, ambientais e econômicos, não podemos fazer sozinhos, temos que apostar na ação coletiva. Agora dobraremos nossos esforços para cumprir objetivos traçados”, diz.
Os aliados, como são chamados os parceiros, são divididos nas três principais frentes de atuação nas questões socioambientais da empresa: água, economia circular e empoderamento econômico da cadeia. Em água, o foco está em gestão de recursos hídricos dentro da operação industrial, com eficiência de uso de água, proteção de nascentes, e dar a 2 milhões de pessoas acesso à água potável e saneamento.
Em resíduos, a atenção está voltada para tornar as garrafas de bebidas 100% recicladas, incluindo tampas e rótulos, até 2025, e chegar a 2030 com 50% das embalagens com conteúdo reciclado. Para isso, investe em programas com catadores, cooperativas e centros de reciclagem em vários países. Já em empoderamento, a meta é impactar 2 milhões de comerciantes que vendem seus produtos, ensinando finanças, marketing digital e outras habilidades, assim como ensina produtores agrícolas fornecedores de matéria-prima sobre técnicas sustentáveis e gestão de negócios.
“Estamos vendo hoje uma mudança de paradigma, com a sustentabilidade se tornando uma forma de viver, pensar e consumir. Da mesma forma, nossos resultados não podem ser mais só financeiros. Tão importante quanto eles é como chegamos aos resultados de impacto das comunidades e cuidado com o meio ambiente, e como estamos criando um modelo de negócio sustentável ao longo do tempo”, disse David Moreno, gerente de Sustentabilidade Corporativa na Coca Continental.
Na prática, a plataforma vai permitir que os parceiros conheçam as iniciativas de outras organizações e possam trocar contatos, experiência e também fazer negócios, mesmo que não passem pela Coca-Cola. A empresa não revelou os investimentos feitos no projeto.
Durante o evento na Guatemala, os participantes tiveram uma amostra do que a empresa quer promover. Eles tiveram, por exemplo, acesso a um aplicativo em que poderiam preencher sua biografia, disponibilizar contatos e links sobre seus projetos, além de conversar por chat com outras pessoas. Também foram promovidos momentos de discussões e cocriação de soluções para as principais causas socioambientais apoiadas pela empresa.
Também foram feitas apresentações para mostrar o trabalho de algumas organizações parceiras, que foram de inovação para coletar água de geleiras no Chile, passando por aplicativos para ajudar no trabalho de mulheres catadoras do Equador, até trabalhos de valorização da floresta em pé e acesso à água potável, energia e telemedicina para comunidades da Amazônia brasileira. Entre as palestrantes, duas brasileiras: Valcleia Soledad, superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e de Verônica Silva Machado, fundadora e diretora institucional da ONG Mensageiros da Esperança. Também compareceram ao evento representantes do Imaflora, Aliança Empreendedora, Instituto Cerrados e Pacto Global da ONU no Brasil.
Ao serem perguntadas sobre como as parcerias podem ajudar a alavancar o impacto social, Machado comenta que financiamento para treinamentos de equipe é parte relevante e nem sempre compreendida. Além disso, destaca que é preciso abrir a mente para ideias complexas e que parecem muito difíceis. “O caos faz parte da teoria de mudança nas causas sociais”.
Para Soledad, é preciso mostrar a realidade, seus desafios e dificuldades para engajar verdadeiramente as pessoas. “Quando as pessoas enxergam a dificuldade, internalizam o problema, o esforço é maior no sentido para colaborar”, acredita. Além disso, aponta que as organizações precisam deixar de lado a autopromoção e priorizar o trabalho em si de modo que o “ego” dê lugar a um trabalho colaborativo mais eficiente.
*A jornalista viajou a convite da Coca-Cola
A plataforma, chamada de Aliados, é um instrumento para destravar o potencial e a força da rede de parcerias — Foto: Naiara Bertão