COP30: ONU envia carta ao governo brasileiro criticando segurança e estrutura da conferência em Belém
A realização da COP30 em Belém, já em pleno funcionamento desde o início do mês, voltou ao centro das atenções internacionais após o governo brasileiro receber uma carta da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) com críticas diretas à segurança, à infraestrutura e ao planejamento operacional da conferência. O documento, encaminhado à Casa Civil e ao comitê organizador brasileiro, destacou episódios recentes que ocorreram dentro do espaço oficial e apontou fragilidades que exigem intervenção imediata enquanto as negociações seguem ativas na capital paraense.
A manifestação da ONU ocorre no momento em que chefes de Estado, ministros, cientistas, ativistas, delegações indígenas e representantes de mais de 190 países participam dos debates climáticos mais relevantes do ano. Com Belém recebendo dezenas de milhares de pessoas diariamente, a conferência já registrou episódios que levantaram questionamentos sobre a capacidade de resposta à altura do porte do evento.
A carta assinada pelo secretário-executivo Simon Stiell reforça preocupação com incidentes ocorridos dentro de áreas restritas do pavilhão e faz recomendações diretas ao governo brasileiro, apontando falhas consideradas incompatíveis com um encontro climático desse nível. A Casa Civil respondeu às críticas e afirma que ajustes já estão em curso para garantir o pleno funcionamento da COP30.
ONU relata falhas durante invasão de manifestantes
O estopim para a carta enviada ao governo brasileiro foi o episódio registrado na noite de terça-feira (11/11), quando um grupo de manifestantes rompeu o sistema de triagem inicial e avançou sobre uma das entradas destinadas a participantes credenciados. Embora o grupo tenha sido contido antes de adentrar a área principal da conferência, o tumulto causou danos estruturais e deixou um agente de segurança ferido.
A ONU descreveu o ocorrido como um exemplo claro de vulnerabilidade operacional. O documento menciona:
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falhas no sistema de raio-X e detectores de metal;
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portas sem reforço adequado;
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ausência de barreiras físicas em pontos críticos;
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equipes insuficientes para conter avanços rápidos;
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resposta tardia de autoridades estaduais e federais.
Segundo a UNFCCC, o episódio caracterizou violação do protocolo de segurança adotado para conferências climáticas e demonstra a necessidade de revisão imediata dos procedimentos.
A carta afirma ainda que o risco de repetição não pode ser descartado, já que o número de manifestações externas e internas aumentou nos primeiros dias da COP30.
Infraestrutura da COP30 também motivou críticas
Além da segurança, a ONU apontou problemas estruturais observados por delegações e equipes técnicas ao longo da conferência. A organização registrou reclamações sobre:
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temperaturas elevadas nos pavilhões;
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climatização insuficiente;
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falhas em equipamentos de ar-condicionado;
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espaços improvisados que não suportam grandes fluxos simultâneos;
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dificuldades logísticas em corredores e áreas de convivência;
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relatos de goteiras em instalações temporárias.
A UNFCCC destacou que a sensação térmica em algumas áreas chegou a ultrapassar limites aceitáveis para eventos internacionais, comprometendo o bem-estar de delegados e equipes de apoio, além de colocar em risco equipamentos de mídia, sistemas de transmissão e estruturas de informática.
O documento afirma que as condições atuais exigem “intervenção imediata” para garantir o andamento adequado das atividades, já que a COP30 continua recebendo milhares de pessoas diariamente.
Governo brasileiro rebate críticas e anuncia reforços
Diante da repercussão, a Casa Civil divulgou nota afirmando que parte das questões já estava mapeada e que ações corretivas estavam em andamento antes mesmo do envio da carta. Segundo o governo, a segurança interna do evento segue coordenada pelo Departamento das Nações Unidas para Segurança e Proteção (UNDSS), que trabalha com apoio das forças de segurança federais e estaduais.
O governo afirmou que, no dia seguinte ao incidente, representantes federais, estaduais e do UNDSS realizaram uma reavaliação completa do plano de segurança da COP30, resultando em:
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aumento do efetivo policial;
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reforço dos perímetros das áreas Laranja, Vermelha e Azul;
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instalação de gradis e barreiras metálicas em pontos vulneráveis;
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ampliação do espaço intermediário entre zonas internas;
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implementação de novos equipamentos de climatização;
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revisão das calhas e sistemas de drenagem após casos de goteira.
A Casa Civil ressaltou que não foram registrados alagamentos generalizados na conferência, mas apenas infiltrações pontuais já corrigidas pela equipe técnica.
COP30 em andamento: impacto internacional e preocupação diplomática
A carta da ONU durante o andamento da COP30 tem espalhado preocupação entre delegações internacionais, que veem o evento como oportunidade histórica para consolidar acordos climáticos em território amazônico. O simbolismo de realizar a conferência em Belém é grande, mas a logística de sediar um evento desse porte em uma cidade que ainda enfrenta desafios estruturais também impõe riscos operacionais.
Países participantes compartilham preocupação com a segurança de autoridades e com o conforto de equipes técnicas. A COP30 recebe diariamente:
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chefes de Estado;
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ministros de Meio Ambiente e Relações Exteriores;
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negociadores climáticos;
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lideranças indígenas;
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especialistas em energia e clima;
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organizações da sociedade civil;
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representantes de cidades e estados brasileiros.
A atmosfera diplomática exige estabilidade, previsibilidade e fluxos organizados. Incidentes como o registrado nos primeiros dias podem gerar desconforto e repercussão internacional desfavorável.
Belém enfrenta desafios logísticos previstos desde 2024
A capital paraense já vinha sendo alvo de discussões sobre sua capacidade logística para sediar a COP30. Embora a cidade tenha passado por obras de mobilidade, revitalização urbana, ampliação da rede hoteleira e investimentos na região portuária, técnicos alertavam desde o ano passado que sistemas de climatização e drenagem seriam pontos sensíveis durante a conferência.
As altas temperaturas amazônicas e a umidade extrema colocam pressão sobre estruturas temporárias, especialmente aquelas montadas para abrigar debates, coletivas de imprensa e reuniões bilaterais. O problema se intensifica quando o fluxo de participantes excede o previsto.
A carta da ONU confirma que esses riscos se materializaram logo nos primeiros dias da conferência.
Segurança reforçada passa a ser prioridade imediata
Com a conferência em andamento, a prioridade agora é garantir que novos incidentes não ocorram. A organização trabalha com múltiplos níveis de segurança divididos em:
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perímetro externo, sob responsabilidade estadual;
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perímetro intermediário, com forças federais;
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perímetro interno, sob supervisão do UNDSS.
Após o episódio registrado, o reforço passa a incluir:
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aumento de detectores de metal;
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instalação de portas blindadas;
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fortalecimento dos bloqueios internos;
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controle reforçado de crachás;
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revisão de acessos exclusivos para delegações.
Para especialistas, essas medidas são fundamentais, mas devem ser aplicadas com agilidade, já que a COP30 ocorre simultaneamente às adequações emergenciais.
Climatização vira ponto crítico da conferência
As reclamações sobre calor intenso vêm de diversas delegações. O clima amazônico, combinado ao movimento constante nos pavilhões, tornou o sistema de ar-condicionado insuficiente em alguns horários.
A organização já começou a instalar novas unidades e reforçar equipamentos existentes. No entanto, técnicos alertam que a climatização de grandes estruturas temporárias depende de ajustes finos e constante monitoramento.
Se não houver estabilização do sistema, o conforto térmico poderá se tornar tema recorrente até o encerramento da COP30.
Conferência continua apesar das críticas
Apesar da carta e dos episódios registrados, a programação oficial da COP30 segue normalmente, com painéis, reuniões bilaterais, negociações multilaterais e eventos paralelos. Delegações seguem participando ativamente de debates sobre:
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redução de emissões;
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financiamento climático;
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transição energética;
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proteção de florestas;
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políticas de adaptação;
A expectativa é que as negociações permaneçam firmes ao longo do evento, apesar dos desafios logísticos.
A carta enviada pela ONU ao governo brasileiro durante a COP30, já em pleno andamento em Belém, expõe fragilidades importantes na segurança e na infraestrutura do evento. O incidente envolvendo manifestantes, os problemas de climatização e a necessidade de reforço imediato do planejamento despertaram atenção internacional. O governo respondeu rapidamente, anunciou correções e afirmou que está comprometido com a realização de uma conferência segura e estruturada.
Com o evento ainda em curso, cada ajuste passa a ser acompanhado de perto por delegações e pela ONU, que esperam que o Brasil mantenha a integridade operacional de um dos maiores encontros climáticos do planeta.






