Pequenos negócios do Pará se mobilizam para transformar a COP30 em vitrine da economia amazônica
Com a proximidade da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, prevista para 2025 em Belém (PA), os pequenos negócios do Pará vivem um momento de transformação. A expectativa é alta: empresários, cooperativas e artesãos estão se preparando para transformar o evento em uma vitrine global da economia amazônica, mostrando ao mundo o potencial sustentável, criativo e produtivo da região.
De oficinas de capacitação a projetos de bioeconomia e turismo de base comunitária, o Pará se mobiliza para fazer da COP30 não apenas um evento internacional, mas também uma oportunidade histórica de geração de renda e fortalecimento de identidades locais.
O protagonismo dos pequenos negócios na COP30
Segundo o Sebrae-Pará, cerca de 95% dos negócios brasileiros são de pequeno porte, e no contexto amazônico esse índice é ainda maior. Esses empreendimentos representam não apenas a base econômica do estado, mas também um elo direto com as comunidades locais e com o território.
Para garantir sua presença na COP30, o Sebrae estruturou um plano de ação com quatro eixos principais: mobilidade urbana, hospitalidade, alimentos e bebidas e economia criativa. O objetivo é ampliar o número de negócios preparados para atender às demandas da conferência, desde hospedagem e gastronomia até produtos culturais e experiências turísticas.
O programa já realizou mais de 40 mil atendimentos, beneficiando 15.467 empresas. Em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Pará, o Capacita COP30 formou mais de 7 mil empreendedores até maio de 2025, com cursos de gestão, marketing, atendimento e sustentabilidade.
Essas ações visam garantir que os pequenos empreendedores estejam prontos para atender ao público internacional que desembarcará em Belém. Para muitos, será a primeira oportunidade de comercializar seus produtos para turistas estrangeiros e ampliar seus negócios de forma duradoura.
Formação e letramento climático: a nova mentalidade empreendedora
Mais do que uma preparação técnica, o trabalho do Sebrae incluiu um processo de letramento climático entre os empreendedores. O objetivo foi fazer com que cada empresário entendesse o significado e a importância da COP30 — e como ela se relaciona com suas atividades.
Esse movimento tem mudado a forma como os pequenos negócios se percebem dentro da agenda ambiental. Ao compreender o papel estratégico da Amazônia no equilíbrio climático global, os empreendedores passam a enxergar valor em suas práticas e produtos locais.
Um exemplo simbólico vem do Ver-o-Peso, mercado histórico de Belém. Ali, comerciantes e feirantes participaram de cursos e capacitações e hoje se mostram mais engajados em atender turistas e delegações estrangeiras. O aprendizado sobre sustentabilidade e atendimento ao público internacional tem despertado o orgulho local e o senso de pertencimento à COP30.
Programas de destaque: do NISA ao Sustentem Nova
Entre os projetos apoiados pelo Sebrae, o NISA (Negócios de Impacto Socioambiental) se tornou referência. Com investimento de cerca de R$ 700 mil, o programa já atendeu 180 negócios, muitos deles liderados por mulheres empreendedoras que conciliam inovação, impacto social e sustentabilidade ambiental.
Outro destaque é o Sustentem Nova, programa europeu com aporte de 4,6 milhões de euros, que promoveu restauração produtiva em mil hectares e o fortalecimento de quase 20 cadeias produtivas na Amazônia. O projeto é considerado um exemplo de como a COP30 pode estimular a integração entre iniciativas locais e investimentos internacionais, reforçando o papel da região como laboratório global de soluções sustentáveis.
Essas iniciativas mostram que a preparação para a conferência vai além da infraestrutura física: trata-se de uma verdadeira mudança de mentalidade. Os pequenos negócios paraenses estão se reconhecendo como <strong data-start="4581" data-end=”4618″>protagonistas da agenda climática, aptos a dialogar com investidores, turistas e consumidores conscientes.
O turismo comunitário da Ilha do Combu e a COP30
Na Ilha do Combu, a cerca de 15 minutos de barco de Belém, o clima também é de preparação. A comunidade ribeirinha, conhecida por sua relação íntima com a natureza, se mobiliza para receber visitantes da COP30 com hospitalidade e profissionalismo.
A Cooperativa de Transporte por Embarcação da Ilha do Combu (Coppertrans), formada por 51 barqueiros e ribeirinhos, vem investindo em cursos de inglês, gestão de negócios e atendimento ao público. A iniciativa busca profissionalizar o transporte fluvial, principal meio de acesso à ilha, e garantir que os visitantes tenham uma experiência segura e acolhedora.
Com apoio do Sebrae e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), os cooperados têm aprimorado sua atuação e expandido a frota de embarcações. Mesmo sem apoio financeiro direto do governo, o grupo tem se fortalecido com base em autogestão, capacitação e empreendedorismo coletivo.
Além do transporte, a ilha se prepara para oferecer experiências turísticas sustentáveis, como trilhas, visitas a casas de produção artesanal e passeios gastronômicos. A expectativa é que a COP30 consolide o turismo amazônico como uma das principais fontes de renda da comunidade.
Artesanato amazônico ganha o mundo na COP30
A arte cerâmica marajoara, um dos símbolos culturais mais fortes do Pará, também ganhará destaque na COP30. A artesã Maynara Sant’Ana e sua família, de Belém, desenvolveram uma coleção especial de peças inspiradas na cultura marajoara, que serão expostas e comercializadas durante a conferência.
Maynara, neta de uma tradicional família de ceramistas, viu na COP uma oportunidade de resgatar e valorizar o trabalho artesanal da Amazônia. Para atender à nova demanda, seu ateliê ampliou a equipe e passou a produzir entre 200 e 300 peças mensais, conciliando a produção autoral com encomendas de atacado.
Além das peças, os visitantes da COP terão a oportunidade de vivenciar a experiência imersiva da cerâmica amazônica no ateliê da família, localizado em Coraci, distrito de Belém. A iniciativa conecta cultura, turismo e sustentabilidade, três pilares fundamentais para o legado da COP30.
Para Maynara, o maior impacto do evento será o reconhecimento internacional do trabalho artesanal amazônico e o fortalecimento da autoestima dos produtores locais.
Bioeconomia em ação: o caso da Amabee e o mel de açaí
Em Breu Branco, no sudeste do Pará, a empresa Amabee, liderada pela empreendedora Carmélia Pinon, representa o poder transformador da bioeconomia amazônica. A empresa recuperou uma área degradada e a transformou em um modelo de reflorestamento produtivo, combinando açaí, andiroba e abelhas nativas sem ferrão.
O resultado foi o primeiro mel monofloral de açaí da região, desenvolvido em parceria com a Embrapa e universidades do Pará e do Maranhão. O produto, além de inédito, contribui para a polinização natural da floresta, reforçando a sustentabilidade da cadeia produtiva.
Durante a COP30, a Amabee apresentará 15 produtos sustentáveis, entre cosméticos, sabonetes, shampoos, hidratantes e pomadas desenvolvidas a partir de insumos amazônicos. A linha é voltada tanto ao mercado nacional quanto à exportação, e já despertou o interesse de empresas europeias.
Com apoio técnico e parcerias científicas, a Amabee mostra que é possível gerar renda e conservar o meio ambiente ao mesmo tempo, consolidando o Pará como epicentro da inovação verde na Amazônia.
O legado sustentável da COP30 para o Pará
Mais do que um evento pontual, a COP30 representa uma mudança estrutural para a economia amazônica. A conferência vem promovendo a integração entre empreendedores, poder público, universidades e cooperativas, gerando um ecossistema de inovação sustentável que tende a perdurar muito além de 2025.
O fortalecimento da bioeconomia, o resgate do artesanato, o crescimento do turismo ecológico e o empoderamento dos pequenos negócios são elementos que devem compor o legado da COP30.
Especialistas acreditam que o evento também ajudará a consolidar a imagem do Pará como laboratório global de sustentabilidade, atraindo novos investimentos e parcerias internacionais. Para os empreendedores, o maior ganho está na visibilidade e na autoestima: o reconhecimento de que a Amazônia não é apenas um tema ambiental, mas também um modelo econômico de futuro.
O Pará no centro das atenções do mundo
Com a realização da COP30, Belém se prepara para receber delegações de mais de 190 países, líderes globais, cientistas e ativistas ambientais. A cidade passará por obras de infraestrutura e melhorias na rede hoteleira, transporte e conectividade.
Mas, além das obras, há um movimento mais profundo em curso: o fortalecimento do espírito empreendedor amazônico. Da cerâmica de Marajó ao mel de açaí, das embarcações do Combu às cooperativas urbanas, o Pará mostra ao mundo que é possível unir tradição, sustentabilidade e inovação.
O brilho da COP30 não está apenas nas negociações políticas, mas nas histórias reais de transformação que surgem em cada canto da Amazônia. O evento marca o início de uma nova etapa para os pequenos negócios paraenses — uma etapa em que o conhecimento local e o empreendedorismo sustentável ganham protagonismo global.






