Cantareira atinge menor nível em 10 anos e acende alerta para crise hídrica em SP
O Sistema Cantareira, responsável por abastecer quase metade da população da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), atingiu nesta sexta-feira (24) o menor nível de armazenamento dos últimos dez anos, de acordo com dados da Sabesp. O volume útil está em apenas 24,2%, acendendo um forte alerta para uma nova crise hídrica em SP, semelhante à que afetou o estado entre 2014 e 2015.
A situação preocupa autoridades estaduais e federais, que anunciaram medidas emergenciais para conter os efeitos da estiagem prolongada e evitar um colapso no abastecimento de água na capital e nas cidades vizinhas.
O que é o Sistema Cantareira e por que ele é vital para São Paulo
O Sistema Cantareira é o maior conjunto de reservatórios de abastecimento de água do estado de São Paulo, com capacidade para atender cerca de 46% da população da RMSP, o que equivale a mais de 8,8 milhões de pessoas.
Formado pelos reservatórios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro, o sistema é interligado por uma rede de túneis subterrâneos e canais que captam e distribuem a água entre as bacias. Essa complexa estrutura permite que o Cantareira movimente cerca de 33 metros cúbicos de água por segundo, sustentando o fornecimento para parte dos 39 municípios da Grande São Paulo.
Entretanto, a baixa taxa de chuvas registrada nas últimas semanas, combinada ao avanço do desmatamento nas áreas de recarga, tem comprometido a recuperação natural dos mananciais e agravado o quadro da crise hídrica em SP.
Alerta de crise hídrica em SP reacende após dez anos
o índice atual de 24,2% do volume útil coloca o sistema em estado de alerta. Para comparação, em 2014 — auge da última grande crise hídrica em SP — o nível chegou a 13%, forçando o governo a recorrer ao chamado “volume morto”, uma reserva técnica abaixo do nível de captação regular.
Na época, o uso dessa reserva, que soma cerca de 480 bilhões de litros, foi uma medida extrema, acessível apenas por meio de bombeamento, para garantir o abastecimento da população. Agora, com o ritmo lento das chuvas e as previsões desfavoráveis, há risco de a história se repetir.
O governo do estado, sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), deve anunciar um novo plano de contingência nas próximas horas, com ações emergenciais para preservar o consumo urbano e agrícola.
Causas da queda histórica: estiagem e desmatamento
Entre as principais causas da redução drástica no nível do Cantareira estão a estiagem prolongada e o desmatamento nas áreas de proteção ambiental que cercam os reservatórios.
A região do sistema possui 93.932 hectares de vegetação nativa, o equivalente a 35,5% da área total, segundo dados oficiais. No entanto, o avanço urbano e a degradação do solo têm diminuído a capacidade natural de infiltração da água, o que reduz a recarga dos aquíferos e intensifica o risco de crise hídrica em SP.
Além disso, o fenômeno climático El Niño tem provocado irregularidades nas chuvas em todo o Sudeste, alterando o regime hídrico e comprometendo a recuperação dos reservatórios.
Histórico das crises e a vulnerabilidade do Cantareira
O Sistema Cantareira enfrentou seu maior colapso entre 2014 e 2015, quando as vazões afluentes (volume de água que chega aos reservatórios) ficaram muito abaixo da média histórica observada desde 1930.
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Em 2014, o sistema recebeu apenas 23% da média histórica;
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Em 2015, o índice subiu para 50%, mas ainda muito aquém do necessário para normalizar o abastecimento.
Durante aquele período, a Sabesp precisou implementar um plano emergencial de rodízio no fornecimento de água, campanhas de conscientização e até bônus para consumidores que reduziram o consumo.
Os especialistas alertam que, mesmo após uma década, o sistema continua vulnerável a ciclos de seca mais severos — um risco crescente diante das mudanças climáticas e da urbanização desordenada.
Responsabilidade compartilhada e gestão do Cantareira
A administração do Sistema Cantareira é compartilhada entre a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do estado de São Paulo. Embora o sistema esteja totalmente dentro do território paulista, ele depende de bacias hidrográficas de gestão federal, o que exige cooperação entre governos.
Essa divisão de responsabilidades muitas vezes torna o processo de tomada de decisão mais lento, especialmente em situações críticas, como a atual crise hídrica em SP.
Autoridades defendem que o monitoramento integrado e o uso de tecnologias de previsão climática são essenciais para antecipar medidas de prevenção antes que o nível dos reservatórios chegue a patamares críticos.
A importância da vegetação na regulação hídrica
A crise atual também evidencia o papel crucial da cobertura vegetal na regulação do ciclo da água. As árvores funcionam como amortecedores climáticos, contribuindo para o controle da temperatura, a infiltração da água da chuva e a proteção do solo contra a erosão.
Nas áreas urbanas, a arborização ajuda a reduzir as temperaturas locais, absorvendo parte da radiação solar por meio da fotossíntese. Além disso, melhora a qualidade do ar ao reter material particulado e gases poluentes.
Sem essa proteção natural, as chuvas escoam rapidamente, aumentando o risco de enchentes e diminuindo a infiltração que abastece os aquíferos — agravando o ciclo da crise hídrica em SP.
Medidas de enfrentamento da crise hídrica em SP
O governo de São Paulo deve anunciar um pacote de medidas emergenciais para conter o avanço da crise. Entre as ações em estudo estão:
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Campanhas de economia de água e redução do consumo residencial;
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Monitoramento em tempo real dos reservatórios, com uso de sensores e tecnologia de dados;
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Parcerias com municípios para o controle de perdas e vazamentos na rede de distribuição;
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Reflorestamento de áreas de mananciais e criação de cinturões verdes;
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Investimentos em infraestrutura hídrica, como reservatórios complementares e captação subterrânea;
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Incentivos para reúso da água em indústrias e condomínios residenciais.
essas medidas buscam evitar que o cenário se agrave e que o abastecimento precise ser racionado, como ocorreu em 2014.
Prognóstico: risco elevado de racionamento
De acordo com especialistas, se as chuvas permanecerem abaixo da média nas próximas semanas, o Cantareira pode chegar a níveis inferiores a 20% do volume útil — limiar que obriga a adoção de medidas de racionamento e uso do volume morto.
O cenário é considerado de alerta máximo, especialmente para os meses de novembro e dezembro, tradicionalmente mais secos.
A Sabesp monitora a situação de hora em hora e avalia a possibilidade de aplicar programas de redução de pressão noturna, que limitam o volume de água distribuído em determinados horários para equilibrar o sistema.
Conscientização: o papel da população
Especialistas reforçam que o sucesso de qualquer plano de enfrentamento depende também do comportamento da população. O uso racional da água, a detecção de vazamentos domésticos e o reaproveitamento de água da chuva são atitudes simples, mas que fazem diferença no combate à crise hídrica em SP.
A cada litro economizado, reduz-se a pressão sobre o sistema, contribuindo para que o abastecimento continue estável até o retorno das chuvas regulares.
Perspectivas para o futuro do abastecimento em SP
A crise hídrica em SP expõe a necessidade de uma política permanente de gestão da água, baseada em tecnologia, educação ambiental e sustentabilidade.
Projetos como a interligação de sistemas, a construção de novos reservatórios e o uso de inteligência artificial para previsão de demanda estão sendo avaliados como alternativas de longo prazo para evitar futuras crises.
A resiliência hídrica deve ser tratada como prioridade estratégica do estado, considerando que São Paulo é o maior centro econômico do Brasil e depende diretamente de um abastecimento estável para manter suas atividades industriais e urbanas.






