Dólar oscila após decisão do Copom e investidores aguardam sinais do Fed
Por Gazeta Mercantil
Brasília — O dólar iniciou a quinta-feira (6) em leve alta, refletindo a reação do mercado à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 15% ao ano, e à expectativa pelos próximos passos do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos.
Em um cenário de cautela global, investidores acompanham ainda o andamento da COP30, que começou em Belém, e os desdobramentos da paralisação do governo americano, o shutdown, que já se tornou o mais longo da história.
Cenário doméstico: Copom mantém Selic e reforça discurso de cautela
A decisão do Banco Central de manter a taxa básica de juros em 15% ao ano já era amplamente esperada, mas trouxe de volta ao debate o ritmo futuro da política monetária. Foi a terceira reunião consecutiva sem cortes, em meio a sinais mistos de desaceleração da economia e pressões inflacionárias persistentes.
Em nota, o Copom reiterou que o ambiente externo segue incerto, especialmente por conta das tensões comerciais entre EUA e China, e da indefinição sobre o ciclo de juros americanos.
Com a Selic estável, o comitê sinalizou que uma eventual redução só deverá ocorrer a partir de 2026, caso o cenário inflacionário e fiscal mostre melhora consistente.
A decisão mantém o Brasil com uma das maiores taxas reais de juros do mundo, o que continua atraindo capital estrangeiro e ajuda a conter a volatilidade cambial.
Ainda assim, analistas destacam que o real tende a acompanhar os movimentos do dólar global, que segue sensível aos discursos do Fed e ao humor dos investidores internacionais.
Isenção do Imposto de Renda e reações políticas
No campo político, o destaque ficou com a aprovação no Senado do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.
A medida, que ainda precisa da sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aumenta a progressividade do sistema tributário, elevando a carga sobre as rendas mais altas.
Economistas apontam que a isenção tem efeito positivo no consumo de curto prazo, mas pode gerar pressões fiscais se não houver compensações na arrecadação.
O impacto sobre o câmbio e o mercado de juros, porém, tende a ser limitado, uma vez que o projeto já estava precificado pelos agentes econômicos.
Mercado financeiro reage: dólar e Ibovespa
Às 10h, o Ibovespa, principal índice da B3, abriu em leve alta, acompanhando o bom humor dos mercados asiáticos e a recuperação parcial das ações de tecnologia em Wall Street.
O dólar comercial era negociado próximo de R$ 5,36, com variação moderada, enquanto os juros futuros operavam estáveis.
No acumulado da semana, o dólar registra queda de 0,35%, acumulando desvalorização de 13,25% no ano, reflexo da entrada de capital estrangeiro e da expectativa de manutenção do diferencial de juros favorável ao Brasil.
O Ibovespa, por sua vez, acumula alta de 25,29% em 2025, sustentado por fluxos externos e pela valorização das commodities.
Agenda internacional: Fed no centro das atenções
O foco dos mercados agora se volta aos discursos de dirigentes do Federal Reserve.
Ao longo do dia, as falas de Michael Barr, John Williams, Christopher Waller e Henry Paulson devem fornecer novas pistas sobre os próximos passos da política monetária americana.
Após meses de debate sobre o ritmo de corte dos juros nos EUA, investidores buscam entender se o Fed adotará uma postura mais agressiva ou manterá o tom cauteloso.
Os dados econômicos mais recentes mostram resiliência do mercado de trabalho, mas também pressões salariais que podem retardar a queda da inflação.
Maior shutdown da história dos Estados Unidos
Enquanto isso, a paralisação parcial do governo americano chega ao 36º dia, tornando-se a mais longa da história do país.
O impasse entre democratas e republicanos começou em 1º de outubro, após o Congresso falhar em aprovar o pacote de financiamento do governo.
Milhões de americanos já enfrentam atrasos em benefícios, fechamento de agências e suspensão de pagamentos a servidores públicos.
A assistência alimentar para 42 milhões de pessoas foi interrompida, e cerca de 3,2 milhões de passageiros sofreram atrasos ou cancelamentos de voos.
O Escritório de Orçamento do Congresso estima que o prejuízo à economia americana pode atingir US$ 11 bilhões caso o shutdown se estenda por mais uma semana.
O impasse também afeta os mercados financeiros, pois impede a publicação de dados econômicos cruciais, como o Payroll e o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), dificultando as projeções do Fed.
Emprego nos EUA e expectativas para o Payroll
Mesmo com o atraso nos indicadores oficiais, o relatório da ADP trouxe algum alívio ao mostrar criação de 42 mil vagas no setor privado americano em outubro, superando as expectativas de 28 mil.
O dado sugere uma leve retomada do emprego, após o fechamento de 29 mil vagas em setembro.
No entanto, economistas alertam que os números da ADP refletem apenas as empresas que utilizam seus sistemas de folha de pagamento, o que limita sua representatividade.
Ainda assim, o relatório funciona como termômetro antecipado do mercado de trabalho e ajuda a calibrar as expectativas para o Payroll, cuja divulgação oficial ainda depende da retomada das atividades do governo.
Suprema Corte dos EUA avalia legalidade das tarifas de Trump
Outro ponto de atenção é a audiência da Suprema Corte americana sobre a legalidade das tarifas comerciais impostas por Donald Trump durante seu mandato.
O julgamento, que dividiu o tribunal, pode redefinir os poderes do Executivo sobre a política de comércio exterior.
Se o tribunal decidir que Trump ultrapassou os limites da lei de 1977 — usada como base para justificar as tarifas —, o atual governo poderá ser obrigado a rever as medidas.
A decisão, aguardada para as próximas semanas, tem potencial de influenciar diretamente o dólar, o comércio global e as relações econômicas entre EUA e China.
COP30 e a diplomacia ambiental em Belém
No Brasil, as atenções também se voltam para o início da Cúpula de Líderes da COP30, em Belém (PA).
O evento reúne chefes de Estado e ministros de mais de 100 países para discutir transição energética, financiamento verde e descarbonização da economia.
A presença de líderes como Emmanuel Macron (França), Cyril Ramaphosa (África do Sul) e Keir Starmer (Reino Unido) reforça o protagonismo diplomático do Brasil na pauta ambiental.
A expectativa é que o encontro fortaleça a imagem do país como potência verde e impulsione novos investimentos estrangeiros na Amazônia e no setor de energia limpa.
O evento também tem impacto econômico direto: hotéis e restaurantes de Belém operam com ocupação máxima, e o setor de serviços deve registrar aumento de receita durante o período da conferência.
Temporada de balanços corporativos
No ambiente corporativo, a agenda de resultados continua movimentando o mercado.
Entre as empresas que divulgaram seus números trimestrais estão Petrobras, Suzano, Energisa, Sanepar, Smart Fit, Lojas Renner, Assaí e Magazine Luiza.
Os balanços têm sido analisados como termômetro da atividade econômica interna, especialmente no varejo e na indústria de energia.
A expectativa é de resultados mistos, refletindo o efeito dos juros elevados e o impacto do consumo ainda contido.
A Petrobras deve apresentar leve queda na produção e receitas estáveis, enquanto Suzano tende a reportar margens pressionadas pelo câmbio. Já o setor de varejo tenta se recuperar gradualmente com o avanço do crédito e a desaceleração da inflação.
Bolsas globais: cautela com tecnologia e IA
Os mercados internacionais operam em tom misto.
Em Nova York, os principais índices abriram sem direção única:
-
Dow Jones: +0,03%, a 47.097 pontos
-
S&P 500: -0,03%, a 6.769 pontos
-
Nasdaq: +0,04%, a 23.358 pontos
Após uma forte realização de lucros na véspera, liderada por papéis de tecnologia, investidores mostram cautela com as altas avaliações das empresas de inteligência artificial (IA).
Na Europa, as bolsas seguem o mesmo movimento de prudência.
O índice STOXX 600 sobe 0,23%, enquanto o FTSE 100 (Reino Unido) avança 0,68% e o CAC 40 (França) tem leve alta de 0,16%.
Na Ásia, os mercados fecharam mistos, com destaque para Tóquio, que subiu 2,5%, e Xangai, que avançou 0,23%.
Perspectivas para o câmbio e juros
Com o Copom mantendo a Selic em 15%, o real deve continuar oscilando em linha com o dólar global.
O diferencial de juros ainda atrai investidores, mas o mercado segue atento às projeções para 2026 e aos riscos fiscais internos.
A expectativa é que o câmbio opere entre R$ 5,30 e R$ 5,40 nos próximos dias, com volatilidade moderada.
Já os juros futuros devem refletir a combinação de cautela doméstica e incerteza internacional, especialmente se o Fed mantiver o discurso firme sobre o controle inflacionário.
Resumo dos principais indicadores
| Indicador | Variação semanal | Acumulado no ano |
|---|---|---|
| Dólar | -0,35% | -13,25% |
| Ibovespa | +0,78% | +25,29% |
| Selic | 15% | — |
| Inflação esperada (2025) | 4,6% | — |
| Inflação esperada (2026) | 3,6% | — |
O mercado inicia novembro sob forte influência da decisão do Copom, das incertezas sobre o Fed e da agenda global marcada pela COP30.
O dólar tende a manter comportamento volátil, refletindo o equilíbrio entre fatores internos — como juros e política fiscal — e externos, como a política monetária americana e o impasse político em Washington.
Enquanto isso, a Bolsa brasileira segue sustentada por fluxos estrangeiros e otimismo com os fundamentos corporativos, mas a atenção continua voltada ao cenário internacional e às decisões que podem definir o rumo dos mercados até o fim do ano.






