Em meio a uma das piores crises climáticas já enfrentadas pelo Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou nesta segunda-feira que “erros podem ter acontecido” durante sua gestão, mas reafirmou seu compromisso com a ciência e o enfrentamento das mudanças climáticas. Durante uma participação no programa “Roda Viva” da TV Cultura, Leite reconheceu a gravidade da situação, mas evitou críticas diretas às ações de seu governo.
Reconhecimento e Justificativas
Com fortes chuvas devastando o Estado desde abril, resultando em pelo menos 157 mortes e o deslocamento de mais de 581 mil pessoas, o governador admitiu a possibilidade de falhas na gestão da crise. “Erros podem ter acontecido e somos seres humanos. Precisamos ver onde melhorar”, declarou. No entanto, ele ressaltou que não houve negligência ou omissão: “Não erramos pela negligência, não erramos pela omissão nem pelo negacionismo.”
Leite enfatizou seu respeito pela ciência e pela realidade das mudanças climáticas, destacando que suas ações sempre buscaram seguir diretrizes científicas. Apesar disso, o governador não escapou de questionamentos sobre a reforma ambiental que promoveu em 2019, durante seu primeiro ano de mandato.
Reformas Controversas e Impactos
A reforma ambiental de 2019, que alterou cerca de 480 normas do Código Ambiental do Estado, foi um ponto focal da entrevista. Entre as mudanças implementadas, estava a permissão para construção de barragens em áreas de preservação ambiental permanente. Esta flexibilização acompanhou a política ambiental do governo federal na época, sob a liderança do então ministro Ricardo Salles.
Leite, tentando se distanciar do estigma de alinhamento com o governo Bolsonaro, reiterou sua postura científica: “Não tenho nenhuma pretensão de ser mito ou salvador da pátria”, disse ele, destacando que a busca por responsabilidades não deve se transformar em caça às bruxas.
Negociação da Dívida Estadual
Outro tema central abordado foi a dívida do Rio Grande do Sul com a União. Leite defendeu a anistia total ou parcial da dívida por pelo menos três anos, argumentando que tal medida é crucial para a recuperação do Estado. “Dar solução ao tema da dívida é crucial para o Rio Grande do Sul”, afirmou.
O governador destacou que o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostraram-se sensíveis à questão, mas ressaltou a necessidade de avanços concretos. “Esperava que pudesse avançar um pouco mais”, comentou.
Colaboração com o Governo Federal
Sobre a nova Secretaria Extraordinária de Reconstrução do Rio Grande do Sul, liderada pelo ministro Paulo Pimenta (PT-RS), Leite mostrou-se otimista. Ele vê Pimenta como um “embaixador” do Estado no governo federal, capaz de auxiliar na negociação da dívida e na reconstrução pós-crise.
Não vou fazer briga política, a gente tem que superar a polarização que o Brasil enfrenta”, afirmou Leite, quando questionado sobre a atuação de Pimenta. O ministro é considerado um potencial candidato do PT ao governo gaúcho em 2026, mas Leite preferiu enfatizar a colaboração em vez da competição.
Eleições Municipais
Sobre a possibilidade de adiamento das eleições municipais no Estado devido à crise, Leite descartou apoiar tal ideia. “Eu não trouxe essa ideia, não estou trabalhando sobre ela, não estou discutindo”, afirmou, considerando a proposta precipitada.