Um estudo encomendado por especialistas e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) revela que o valor das ações da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), atualmente em processo de privatização, está subestimado. A pesquisa indica que o preço da ação, negociada por cerca de R$ 74, deveria estar em torno de R$ 100.
O relatório, divulgado parcialmente nesta quinta-feira, justifica a elevação no valor das ações pela redução dos custos previstos para a universalização do saneamento básico no estado. De acordo com o documento, os custos deverão ser 30% a 40% menores do que os previstos pelo governo do estado.
“Entre 30% a 40% das ligações [previstas de água e esgoto] estão a mais. Estão superdimensionadas numa proporção desse nível, de 30% a 40%”, afirmou o economista e ex-presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) e da Associação de Profissionais Universitários da Sabesp (APU), Hugo Sérgio de Oliveira.
Impacto no Fluxo de Caixa e Valor das Ações
Segundo Oliveira, a redução nos custos de universalização impactaria diretamente o fluxo de caixa futuro da Sabesp, justificando um valor mais alto para as ações da companhia. “Nesse período [de universalização] houve uma redução [nos custos] da ordem de R$ 15 bilhões. Ou seja, os investimentos justos seriam de R$ 45 bilhões ao invés de R$ 60 bilhões”, destacou.
“Aí está havendo, efetivamente, uma maquiagem na apresentação desse plano [de privatização]. Ou seja, esse plano leva a conclusões que são favoráveis a vender a empresa por um preço mais baixo que deveria ser”, acrescentou Oliveira.
O Sintaema informou que o estudo será enviado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) nos próximos dias, com o intuito de questionar a privatização da companhia. A medida busca assegurar que a venda da Sabesp ocorra de forma justa e transparente, refletindo seu verdadeiro valor de mercado.
Resposta do Governo do Estado
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, responsável pela coordenação do processo de privatização, afirmou que a estruturação da oferta pública das ações da Sabesp foi realizada em amplo diálogo com investidores nacionais e estrangeiros. A pasta ressaltou que o Plano de Investimentos foi discutido com a sociedade em consulta pública e apresentado em oito audiências públicas realizadas de 15 de fevereiro a 15 de março deste ano.
Segundo a secretaria, os valores previstos no Plano de Investimentos são necessários para viabilizar a universalização do saneamento básico nos municípios atendidos pela Sabesp até 2029, incluindo a população de áreas rurais e núcleos urbanos informais. Esses investimentos são fundamentais para levar saúde e qualidade de vida à população mais pobre dos municípios.
A pasta destacou ainda que o contrato de concessão da Sabesp estabeleceu obrigações, como metas de universalização e de qualidade, que deverão ser seguidas. “A empresa poderá avaliar a adoção de tecnologias mais eficientes, que permitam atingir as metas com menos recursos, melhorando assim sua performance. Isto é possível pelo contrato, desde que as metas sejam cumpridas, como as que obrigam a inclusão da população vulnerável no serviço”, concluiu a nota.
A universalização do saneamento básico é uma meta crucial para a saúde pública e o desenvolvimento socioeconômico. A Sabesp, como principal companhia de saneamento do estado de São Paulo, desempenha um papel vital nesse processo. A privatização da empresa, portanto, deve ser conduzida de forma que garanta a continuidade e a expansão dos serviços, assegurando que as metas de universalização sejam atingidas de maneira eficiente e sustentável.
O estudo encomendado pelo Sintaema levanta questões importantes sobre a avaliação do valor das ações da Sabesp no contexto de sua privatização. A redução nos custos de universalização do saneamento básico e o impacto no fluxo de caixa futuro da empresa são fatores que devem ser considerados para garantir uma venda justa e transparente. O envio do estudo ao Tribunal de Contas do Estado é um passo fundamental para assegurar que o processo de privatização reflita o verdadeiro valor da companhia e beneficie a população de São Paulo.