Energia impulsiona alta do IGP-DI de setembro e reacende alerta inflacionário no Brasil
O IGP-DI de setembro registrou avanço expressivo puxado pela energia elétrica residencial, que teve alta de 10,34% após o fim do desconto nas contas de luz relacionado ao Bônus de Itaipu. O movimento fez com que o índice, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), voltasse a sinalizar aceleração inflacionária no varejo, refletindo o impacto direto dos custos de energia sobre o orçamento das famílias e sobre os preços gerais da economia.
O aumento do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi amplamente influenciado pelo comportamento da tarifa de eletricidade, mas também por outros componentes que pressionaram o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI). O grupo de Habitação, que concentra o peso da energia elétrica no cálculo, passou de uma variação negativa em agosto (-0,80%) para uma alta de 2,13% em setembro — uma das mais intensas do ano.
IGP-DI de setembro mostra aceleração e reforça preocupação com energia
De acordo com a FGV, a alta do IGP-DI de setembro reflete o esgotamento dos efeitos temporários que haviam reduzido os preços de energia nos meses anteriores. Com o fim do bônus nas contas de luz e a retomada de custos estruturais no setor, o índice voltou a subir, impactando diretamente a inflação ao consumidor.
Além da energia elétrica, houve avanço expressivo em passagens aéreas (18,91%), condomínios residenciais (2,05%), refeições em bares e restaurantes (0,90%) e seguros de veículos (3,33%). Esses aumentos demonstram uma retomada da demanda em setores de serviços e habitação, que já vinham apresentando tendência de recuperação desde o início do segundo semestre.
Por outro lado, alguns produtos ajudaram a conter a escalada dos preços. Entre as maiores quedas destacaram-se o tomate (-12,78%), desodorante (-9,17%), perfume (-3,44%), leite longa vida (-1,79%) e batata-inglesa (-6,86%). Mesmo assim, a redução desses itens não foi suficiente para compensar o impacto das altas em energia e transportes.
IPC-DI reverte queda e fecha setembro com alta de 0,65%
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI), que compõe uma das parcelas mais sensíveis do IGP-DI, saiu de uma deflação de 0,44% em agosto para um aumento de 0,65% em setembro. Segundo a FGV, cinco das oito classes de despesa apresentaram taxas de variação mais elevadas, o que demonstra uma difusão maior da inflação entre diferentes setores da economia.
As maiores altas foram registradas em:
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Habitação: de -0,80% para 2,13%;
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Educação, leitura e recreação: de -1,79% para 2,00%;
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Transportes: de -0,24% para 0,30%;
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Alimentação: de -0,50% para -0,18%;
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Comunicação: de 0,04% para 0,07%.
Já os grupos Saúde e Cuidados Pessoais (-0,06%), Vestuário (-0,17%) e Despesas Diversas (-0,13%) tiveram variações mais brandas, ajudando a atenuar o impacto geral.
Núcleo do IPC-DI sobe e mostra tendência de pressão de preços
Outro ponto importante identificado pela FGV foi o aumento do núcleo do IPC-DI, indicador que exclui as variações mais extremas para identificar a tendência subjacente da inflação. Em setembro, o núcleo avançou 0,24%, após alta de 0,20% em agosto.
O índice de difusão — que mede a proporção de itens com aumento de preços — caiu levemente, de 59,35% em agosto para 54,19% em setembro. Isso indica que, embora o número de itens em alta tenha diminuído, os aumentos registrados foram mais intensos e concentrados, especialmente nos grupos de energia e serviços.
No acumulado de 2025, o núcleo do IPC-DI já apresenta alta de 3,41%, enquanto em 12 meses a variação chega a 4,41%, sinalizando uma inflação persistente em componentes estruturais.
Energia elétrica é o vilão do IGP-DI e preocupa economistas
A energia elétrica se tornou o principal fator de preocupação entre analistas de mercado. A alta de 10,34% nas tarifas residenciais não apenas elevou o custo direto das famílias, mas também pressiona cadeias produtivas que dependem fortemente de energia, como indústria, comércio e serviços.
O efeito é duplo: aumenta o custo operacional das empresas e reduz o poder de compra da população, dificultando a desaceleração dos preços no curto prazo. Segundo especialistas do setor elétrico, o repasse integral do custo da energia deve continuar nos próximos meses, o que pode manter o IGP-DI pressionado até o fim do ano.
O impacto da energia sobre o índice geral mostra a importância de políticas de moderação tarifária e investimentos em infraestrutura energética. Com o fim de subsídios temporários como o Bônus de Itaipu, o consumidor volta a sentir no bolso os efeitos da oscilação de custos de geração e transmissão.
Serviços e transportes ampliam o impacto inflacionário
Além da energia, o aumento das passagens aéreas, condomínios e seguros de veículos reforçou o movimento de alta do IGP-DI de setembro. O setor de transportes foi influenciado por reajustes sazonais e aumento de demanda, enquanto o setor de serviços manteve tendência de recomposição de margens após meses de estabilidade.
As refeições fora de casa, que subiram 0,90%, também refletem a retomada da circulação de pessoas em grandes centros urbanos. Embora o ritmo de alta ainda seja controlado, o encarecimento dos serviços prestados tende a manter a inflação de serviços em patamar elevado, mesmo com o arrefecimento dos alimentos.
Itens de alívio: alimentos e higiene pessoal ajudam a conter avanço
Apesar das pressões generalizadas, alguns itens continuaram registrando quedas expressivas de preços em setembro. O destaque foi o tomate, com redução de 12,78%, influenciado pela maior oferta em regiões produtoras e condições climáticas favoráveis.
Produtos de higiene pessoal, como desodorante (-9,17%) e perfume (-3,44%), também contribuíram para segurar a alta do índice. No setor alimentício, leite longa vida (-1,79%) e batata-inglesa (-6,86%) reforçaram o movimento de queda em produtos básicos de consumo.
Essas reduções, contudo, ainda não têm peso suficiente para neutralizar os aumentos em energia e serviços, que respondem por uma fatia muito maior na estrutura de despesas das famílias brasileiras.
Panorama do IGP-DI no ano e perspectivas
Com o resultado de setembro, o IGP-DI acumula alta consistente em 2025, refletindo as pressões vindas de energia, transportes e serviços. Mesmo com alívios pontuais em alimentos, a tendência inflacionária segue preocupante para os próximos meses, especialmente com a expectativa de novas correções tarifárias até o fim do ano.
Economistas alertam que, se o comportamento da energia continuar em alta, o Banco Central poderá enfrentar dificuldades adicionais para manter a trajetória de cortes de juros, já que a inflação ao consumidor tende a ficar mais resistente.
A expectativa é de que o IGP-DI encerre 2025 com alta próxima de 5%, caso não ocorram novos choques de oferta ou reajustes extraordinários de tarifas públicas.
O IGP-DI de setembro confirma um cenário de retomada da inflação no Brasil, com destaque para o papel determinante da energia elétrica. O aumento do custo de vida reflete tanto o fim de subsídios temporários quanto a pressão estrutural sobre serviços e habitação.
A política de moderação tarifária será crucial para impedir que a alta de preços se espalhe ainda mais pelos setores produtivos e comprometa a recuperação do consumo. A próxima divulgação da FGV, referente a outubro, será observada com atenção, pois indicará se o movimento de setembro foi pontual ou o início de uma tendência de alta mais duradoura.






