Inadimplência no Brasil bate novo recorde em 2025 e afeta quase metade da população adulta
A inadimplência no Brasil atingiu níveis alarmantes em junho de 2025, consolidando-se como um dos maiores desafios econômicos do país. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), cerca de 71,28 milhões de brasileiros adultos estavam com o nome negativado, o que representa 42,89% da população adulta. A tendência é crescente, com índices que mostram o agravamento da crise financeira que atinge milhões de famílias.
Essa marca histórica evidencia que a inadimplência no Brasil está se enraizando como uma condição estrutural, provocada por uma combinação de fatores: estagnação econômica, desemprego persistente, inflação alta e aumento do custo de vida. E a perspectiva para os próximos meses não é de alívio — ao contrário, os dados apontam para um quadro que tende a se deteriorar ainda mais.
Crescimento anual da inadimplência é o maior dos últimos anos
Comparando com junho de 2024, o número de inadimplentes cresceu 7,73% em um ano, o que demonstra uma aceleração do endividamento da população. Apenas de maio para junho de 2025, o salto foi de 0,93%, superando o crescimento de 0,78% observado entre abril e maio. Isso reforça a percepção de que a inadimplência no Brasil não é apenas uma herança da pandemia ou de fatores pontuais, mas uma tendência consolidada.
A análise detalhada do cenário revela ainda que o crescimento mais expressivo veio dos consumidores com dívidas entre 3 e 4 anos de atraso, registrando uma impressionante alta de 46,54%. O tempo médio de atraso subiu levemente para 28,1 meses, evidenciando que os brasileiros estão demorando mais para conseguir regularizar suas pendências financeiras.
Perfil do inadimplente brasileiro: jovens adultos e famílias endividadas
A faixa etária com maior número de inadimplentes está entre os 30 e 39 anos, concentrando 23,7% do total, ou cerca de 17,62 milhões de pessoas. Mais da metade dessa população (51,91%) está com o nome negativado. A inadimplência nessa fase da vida, quando muitos já constituíram família e têm compromissos fixos como aluguel, financiamento, escola dos filhos e despesas domésticas, revela uma fragilidade estrutural das condições de vida da classe média.
A distribuição por sexo mostra equilíbrio: 51,15% são mulheres e 48,85% são homens, com idade média dos inadimplentes em 44,8 anos.
Valor médio das dívidas segue em alta
Em junho de 2025, cada consumidor inadimplente devia, em média, R$ 4.786,83, um leve aumento em relação aos R$ 4.743,23 de maio. Além disso, cada inadimplente possuía dívidas com 2,21 empresas credoras, número que também aumentou em relação ao mês anterior (2,20).
Esse dado revela que muitos consumidores estão recorrendo a múltiplas linhas de crédito para tentar manter o consumo básico, o que amplia o risco de superendividamento, outro problema crescente no país.
Dívidas pequenas dominam o cenário
Apesar dos altos números médios, o levantamento mostra que quase 30,24% das dívidas são de até R$ 500, enquanto 43,48% não passam de R$ 1.000. Isso indica que, mesmo dívidas de baixo valor, quando somadas e não quitadas, tornam-se barreiras significativas para o reequilíbrio financeiro das famílias.
Esse perfil reforça a urgência de políticas públicas que facilitem a negociação de dívidas, especialmente as menores, que podem ser quitadas com programas de incentivo, como feirões de renegociação, isenção de juros ou parcelamentos com desconto.
Bancos lideram em dívidas vencidas
O setor financeiro permanece como o maior credor da população brasileira. As dívidas com bancos representam 66,89% do total. Esse número continua crescendo: em junho, houve um aumento de 16,51% no número de dívidas bancárias em atraso em relação ao mesmo mês de 2024, superando o já alto índice de 14,37% registrado em maio.
Setores como água e luz também registraram alta, com crescimento de 6,44% nas dívidas. Em contraste, os setores de comunicação (-1,23%) e comércio (-0,22%) apresentaram uma pequena queda nas dívidas em atraso.
A concentração de dívidas com bancos sinaliza que muitos brasileiros recorrem ao crédito para suprir necessidades básicas, como alimentação e moradia, e acabam entrando em ciclos de endividamento difíceis de romper.
Panorama regional da inadimplência no Brasil
O Centro-Oeste lidera os índices de inadimplência no Brasil, com 46,28% da população adulta com nome negativado. Além disso, foi a região que registrou o maior crescimento anual no número de inadimplentes, com alta de 9,78% em relação a junho de 2024.
Outras regiões também apresentaram aumentos preocupantes:
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Sul: +8,03%
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Norte: +6,12%
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Sudeste: +5,93%
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Nordeste: +5,61%
Apesar do aumento, o Sul mantém a menor taxa de inadimplência, com 37,59% da população adulta negativada, demonstrando uma maior estabilidade econômica em comparação às demais regiões.
Crescimento do número de dívidas reforça cenário de crise
O total de dívidas em atraso também subiu consideravelmente. Em junho de 2025, houve um aumento de 12,82% em relação ao mesmo período do ano anterior, número que supera os 11,15% observados em maio. Esse salto representa uma piora contínua na capacidade de pagamento dos consumidores, pressionados pelo aumento do custo de vida e redução da renda real.
Na comparação entre maio e junho, o número de dívidas em atraso aumentou 1,44%, mostrando que o ritmo de crescimento não dá sinais de desaceleração.
O impacto social da inadimplência no Brasil
A inadimplência no Brasil afeta diretamente o bem-estar das famílias, limita o consumo, compromete o acesso ao crédito e gera exclusão econômica. Além disso, o crescimento do endividamento representa um entrave para a recuperação econômica do país, já que a confiança do consumidor e sua capacidade de investir e consumir são prejudicadas.
Outro impacto relevante é a pressão sobre os serviços públicos, já que muitos inadimplentes enfrentam dificuldades para pagar contas essenciais como energia, água e gás, o que pode gerar cortes e aumentar a vulnerabilidade social.
Caminhos para combater a inadimplência
Para frear a inadimplência no Brasil, são necessárias ações coordenadas entre governo, setor financeiro e empresas. Algumas soluções possíveis incluem:
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Criação de programas de renegociação de dívidas com incentivos reais;
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Campanhas de educação financeira nas escolas e comunidades;
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Regulação de juros para crédito ao consumo;
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Estímulo ao uso de ferramentas de orçamento familiar;
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Ampliação do acesso ao microcrédito com responsabilidade.
A inadimplência não deve ser vista apenas como um problema de má gestão individual, mas como reflexo de um contexto econômico desfavorável e de políticas públicas ineficazes.
A inadimplência no Brasil alcançou patamares históricos em 2025, impactando quase metade da população adulta. Com crescimento expressivo de dívidas bancárias, inadimplência concentrada entre jovens adultos e expansão do número de dívidas em atraso, o país enfrenta uma crise financeira silenciosa, mas profunda.
O enfrentamento do problema exige mais do que ações pontuais: é preciso reconstruir a relação da população com o crédito, recuperar o poder de compra e oferecer caminhos reais para que os brasileiros possam sair do vermelho.