Juros futuros caem com dólar em baixa e cenário externo mais calmo
Os juros futuros iniciaram a semana em leve queda, acompanhando o movimento de recuo do dólar e um ambiente internacional mais estável. O comportamento dos contratos negociados no mercado futuro nesta segunda-feira (13) reflete a melhora na percepção de risco global e a expectativa de que as pressões inflacionárias possam diminuir nos próximos meses.
Mesmo sem a referência dos Treasuries norte-americanos — cujas negociações estão suspensas em virtude do feriado do Dia de Colombo nos Estados Unidos —, o mercado local opera em compasso de otimismo cauteloso. O tom mais brando adotado pelo presidente Donald Trump em relação à China também contribuiu para reduzir a aversão ao risco e favorecer ativos de países emergentes, como o Brasil.
Cenário internacional mais calmo influencia mercado doméstico
Após dias de forte volatilidade, os mercados globais registram um alívio temporário nas tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Na sexta-feira anterior (10), o anúncio de tarifas de 100% sobre produtos chineses havia reacendido temores de uma nova escalada na disputa comercial entre Washington e Pequim, provocando turbulência nas bolsas e pressionando o câmbio.
Contudo, no domingo (12), Trump suavizou o discurso e sinalizou abertura para negociação, o que trouxe fôlego ao mercado e reduziu a busca por ativos de proteção, como o dólar. A baixa da moeda norte-americana impacta diretamente o comportamento dos juros futuros, que tendem a recuar diante da valorização do real e da diminuição das apostas em altas agressivas da taxa básica de juros (Selic).
Dólar em baixa favorece a curva de juros futuros
Com o dólar em queda nesta segunda-feira, os investidores enxergam menor pressão inflacionária vinda do câmbio. Esse cenário contribui para o alívio na curva de juros futuros, principalmente nos vencimentos mais longos, que são os mais sensíveis às expectativas econômicas de médio e longo prazo.
Às 9h21, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2027 registrava taxa de 13,995%, mesmo patamar do ajuste anterior. Já o DI para janeiro de 2029 projetava 13,39%, contra 13,41% do fechamento de sexta-feira. O DI para janeiro de 2030 marcava 13,53%, ante 13,56% anteriormente.
Os números mostram um movimento contido, mas consistente, indicando que o mercado segue avaliando o equilíbrio entre inflação e crescimento. Embora as taxas ainda estejam em níveis elevados, o ajuste reflete uma percepção ligeiramente mais otimista quanto à estabilidade da política monetária e ao comportamento dos preços no horizonte futuro.
Boletim Focus reforça expectativa de inflação sob controle
Outro fator que contribuiu para o recuo dos juros futuros foi a divulgação do Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central do Brasil que reúne as projeções das instituições financeiras para os principais indicadores econômicos.
De acordo com o boletim, houve desaceleração na expectativa de inflação em 12 meses à frente, o que reforça o cenário de estabilidade e reduz a pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom). O mercado manteve inalteradas as estimativas para o IPCA de 2026 e 2027, períodos que estão no foco da política monetária do Banco Central.
Essa leitura foi bem recebida pelos investidores, que enxergam espaço para manutenção da Selic em níveis mais baixos se o processo desinflacionário continuar. A perspectiva de inflação controlada tende a reduzir os prêmios de risco embutidos na curva de juros, impactando positivamente os títulos públicos e as projeções de crédito privado.
Influência do cenário externo e doméstico na curva de juros
O comportamento dos juros futuros é sensível não apenas às expectativas inflacionárias, mas também ao cenário externo. Com os Treasuries norte-americanos fora do pregão devido ao feriado, investidores se concentram nos fatores locais, como inflação, câmbio e atividade econômica.
O alívio no mercado global, decorrente da trégua momentânea entre EUA e China, tende a diminuir a demanda por ativos de proteção, o que beneficia o real e reduz a pressão sobre os juros. Ainda assim, a cautela predomina, já que qualquer nova declaração política ou alteração na política comercial pode mudar rapidamente o humor dos mercados.
Internamente, os investidores seguem atentos aos sinais do Banco Central e às projeções fiscais do governo federal. O equilíbrio das contas públicas e o cumprimento das metas de resultado primário continuam sendo determinantes para definir o rumo da política monetária e da curva de juros.
Política monetária e perspectiva para a Selic
Embora o Copom tenha adotado uma postura mais conservadora nas últimas reuniões, mantendo a Selic em patamar restritivo, há consenso de que o ciclo de aperto monetário chegou ao fim. A manutenção dos juros altos busca garantir o controle da inflação, mas o prolongamento desse cenário começa a impactar o crédito e a atividade econômica.
O recuo dos juros futuros pode sinalizar expectativas do mercado por uma trajetória de cortes graduais em 2026, desde que as condições macroeconômicas permitam. Para isso, será fundamental observar:
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A evolução da inflação nos próximos meses;
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O comportamento do dólar e dos preços de commodities;
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O ritmo de crescimento da economia brasileira;
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A estabilidade política e fiscal do país.
Economistas ressaltam que a comunicação do Banco Central será essencial para evitar ruídos e manter a confiança do mercado. Um discurso claro sobre a política monetária ajuda a ancorar expectativas e reduzir a volatilidade da curva de juros futuros.
Mercado de renda fixa reage à nova dinâmica
O recuo nas taxas futuras também afeta diretamente o mercado de renda fixa, que se beneficia da redução nas projeções de juros. Com o alívio nas taxas de longo prazo, os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação (Tesouro Direto) tendem a valorizar, gerando oportunidades para investidores que buscam ganhos de capital.
Instituições financeiras observam que o momento ainda exige prudência e diversificação, já que a economia global continua sujeita a choques externos. O foco dos investidores está na manutenção da estabilidade do câmbio e na confiança em torno da política econômica brasileira.
Perspectivas para os próximos meses
A expectativa predominante é de que os juros futuros continuem em leve queda caso o dólar mantenha a trajetória de baixa e a inflação siga controlada. Entretanto, qualquer sinal de instabilidade externa — seja na economia norte-americana, na política chinesa ou nos mercados de commodities — pode rapidamente reverter o movimento positivo atual.
A combinação de cenário internacional mais ameno, inflação em desaceleração e ajuste cambial sustenta o ambiente mais favorável observado neste início de semana. Ainda assim, analistas reforçam que a confiança dos investidores depende da continuidade das reformas estruturais e da disciplina fiscal do governo.
O resultado de outubro mostra que, mesmo com oscilações pontuais, o mercado mantém expectativas equilibradas e visão de estabilidade no médio prazo.






