Juros futuros disparam com dólar acima de R$ 6,00 e guerra comercial entre EUA e China no radar
Instabilidade global, tensões comerciais e pressão sobre os mercados: entenda por que os juros futuros estão em alta e o que isso representa para a economia brasileira
Os juros futuros iniciaram a manhã desta quarta-feira (9) em forte alta, em um cenário marcado por incertezas geopolíticas e instabilidade cambial. A disparada do dólar, que ultrapassou a marca simbólica dos R$ 6,00, somada à escalada da tensão na guerra comercial entre Estados Unidos e China, elevou as preocupações no mercado financeiro brasileiro e pressionou a curva de juros de médio e longo prazo.
Às 9h10, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 subia para 14,855%, ante 14,760% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançava para 14,595%, contra 14,326%, enquanto o contrato para janeiro de 2029 saltava para 14,610%, comparado aos 14,277% registrados na véspera.
Dólar ultrapassa R$ 6,00 e eleva o custo de capital
O principal gatilho para a movimentação agressiva da curva de juros futuros nesta manhã foi o avanço do dólar no mercado brasileiro, superando a barreira psicológica dos R$ 6,00. A desvalorização do real frente à moeda norte-americana pressiona as expectativas de inflação, aumenta o custo de financiamento e eleva os prêmios de risco embutidos nos contratos futuros de juros.
Esse movimento de valorização cambial ocorre em meio ao fortalecimento global do dólar, influenciado por um aumento nos rendimentos dos Treasuries — os títulos públicos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos. A alta nos rendimentos reflete uma percepção de maior risco e uma possível mudança no rumo da política monetária norte-americana, o que acaba afetando diretamente os países emergentes, como o Brasil.
Tensão comercial entre EUA e China alimenta temores
Outro fator que contribui para o aumento dos juros futuros é a intensificação das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. A guerra tarifária ganha novo capítulo após o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciar a imposição de novas barreiras à importação de produtos chineses, especialmente os ligados ao setor de tecnologia e semicondutores.
Em resposta, o governo chinês ameaçou retaliar, reacendendo temores de uma escalada que possa comprometer a cadeia global de suprimentos e, consequentemente, a recuperação da economia mundial. Esse ambiente de incerteza aumenta a aversão ao risco, provoca fuga de capitais dos países emergentes e gera maior volatilidade nos mercados financeiros.
Impacto direto na curva de juros futuros
Os juros futuros refletem as expectativas do mercado em relação à trajetória da Selic — a taxa básica de juros da economia brasileira — nos próximos meses e anos. Quando os investidores percebem aumento de risco, como é o caso da atual conjuntura, eles exigem prêmios mais altos para manter aplicações em ativos de renda fixa.
Essa exigência de retorno maior se traduz em elevação dos contratos de DI negociados na B3, afetando diretamente o custo de financiamento de empresas e do próprio governo. Além disso, o encarecimento do crédito compromete o investimento produtivo e pode inibir o crescimento econômico.
Vendas no varejo decepcionam, mas impacto é ofuscado
Paralelamente ao cenário externo conturbado, o Brasil também enfrenta desafios internos. O resultado das vendas no varejo de fevereiro veio abaixo do esperado, evidenciando uma desaceleração no consumo das famílias e um enfraquecimento da demanda agregada. Contudo, os dados foram praticamente ignorados pelos investidores diante da força dos eventos internacionais.
A perda de tração da atividade econômica, que poderia sugerir um cenário de flexibilização monetária, não foi suficiente para conter o avanço dos juros futuros, dado o peso dos fatores externos. A percepção predominante é que, mesmo com a economia patinando, o Banco Central poderá manter uma postura mais cautelosa, evitando cortes na Selic num ambiente de inflação pressionada pelo câmbio.
O papel dos Treasuries e a influência sobre o Brasil
A alta dos Treasuries norte-americanos tem sido uma variável crítica para os mercados emergentes. Com os rendimentos dos títulos de 10 anos atingindo máximas recentes, o fluxo de capitais tende a migrar dos países em desenvolvimento para os Estados Unidos, considerados porto seguro em tempos de instabilidade.
Essa movimentação provoca a saída de dólares do Brasil, alimentando a desvalorização do real e pressionando os juros futuros. Além disso, a expectativa de um eventual aumento nas taxas básicas de juros norte-americanas pode reduzir o diferencial de juros entre os EUA e o Brasil, o que historicamente penaliza os ativos brasileiros.
O que esperar dos próximos dias?
A tendência para os juros futuros nos próximos pregões dependerá do desenrolar da guerra comercial entre EUA e China, da resposta do mercado às decisões do Federal Reserve e de possíveis ações do Banco Central do Brasil para conter a volatilidade cambial.
A continuidade da alta nos juros futuros pode provocar impactos em cadeia sobre o mercado de crédito, o consumo, o investimento e até sobre a inflação, criando um ciclo difícil de romper em meio a um cenário global turbulento.
Analistas de instituições financeiras já começam a revisar suas projeções para a Selic, incorporando o risco de manutenção prolongada em patamares elevados. Isso porque, com a moeda desvalorizada e o custo do dinheiro mais caro, o espaço para flexibilização monetária se reduz drasticamente.
Investidores devem redobrar a atenção
Para os investidores, o momento exige cautela e uma estratégia de diversificação de portfólio. A valorização dos juros futuros indica que os ativos de renda fixa pós-fixados podem se tornar mais atrativos, especialmente os atrelados à Selic ou ao CDI.
Por outro lado, os ativos de renda variável tendem a sofrer com o ambiente de incerteza e o custo de capital mais elevado. A recomendação dos especialistas é acompanhar de perto os desdobramentos da política monetária global, as medidas dos bancos centrais e o comportamento dos indicadores macroeconômicos domésticos.
Por que os juros futuros são tão importantes?
A curva de juros futuros funciona como um termômetro da confiança do mercado na política econômica do país. Quando os contratos sobem, como ocorre neste momento, é um sinal de que os investidores estão precificando riscos maiores, seja pela conjuntura externa, seja pela incerteza interna.
Entender a movimentação dos juros futuros é essencial para tomar decisões mais informadas sobre investimentos, planejamento financeiro e até mesmo estratégias empresariais. No contexto atual, marcado por dólar forte, tensão geopolítica e desempenho econômico fraco, a atenção aos juros futuros se torna ainda mais relevante.