Proeminentes líderes empresariais ocidentais vêm dobrando as apostas na China, de olho em seu mercado superdimensionado e em sua base manufatureira, apesar das tensões geopolíticas globais.
Bill Gates, da Microsoft, foi recebido pelo presidente da China, Xi Jinping — Foto: Gian Ehrenzeller/Keystone via AP
Entre os que cortejam o país está Bill Gates, que visitou a China em 16 de junho pela primeira vez em quatro anos e se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping. “Discutimos a importância de abordar os desafios globais de saúde e desenvolvimento, como desigualdade na saúde e mudança climática, e como a China pode desempenhar um papel na conquista do progresso para as pessoas em todos os lugares”, escreveu o cofundador da Microsoft em seu blog sobre a reunião.
Sua visita ocorreu dias antes da tão esperada viagem do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, à China, com o objetivo de ajudar a colocar os laços bilaterais de volta nos trilhos.
A Microsoft comemorou o 30º aniversário de suas operações na China em 2022. Embora Gates não esteja mais envolvido na administração da empresa, ele continuou com os esforços para mitigar o impacto das tensões Estados Unidos-China nos negócios.
Elon Musk, executivo-chefe (CEO) da Tesla, fez sua primeira viagem à China em três anos no fim de maio. Cerca de 40% da capacidade de produção da Tesla está localizada em sua fábrica em Xangai.
Musk disse ao ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, que a Tesla “se opõe a dissociar e cortar as cadeias de suprimentos e está pronta para expandir continuamente os negócios na China”, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da China.
As viagens de Musk e Gates ocorreram depois que Pequim suspendeu as restrições da política “zero covid” aos visitantes em janeiro, gerando um aumento nas viagens de negócios ao país.
O comércio de mercadorias Estados Unidos-China cresceu cerca de 5% em 2022, para cerca de US$ 690 bilhões, de acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. O número superou recordes pela primeira vez em quatro anos, após uma queda durante a pandemia de covid-19.
Embora o governo Biden tenha imposto restrições comerciais à China relacionadas a semicondutores e outras tecnologias avançadas, as empresas continuaram a explorar novas oportunidades no país em outras áreas.
Durante uma visita a Xangai em maio, o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, sinalizou que o banco não tinha planos de deixar a China. “Quando fazemos negócios em um país, esperamos estar lá nos bons e nos maus momentos”, disse ele.
Em 2021, o JPMorgan recebeu aprovação para se tornar a primeira instituição financeira estrangeira a possuir totalmente um empreendimento de valores mobiliários na China. Apesar das crescentes incertezas no mercado chinês, as comissões de corretagem continuam sendo um grande atrativo para a empresa.
O CEO da Apple, Tim Cook, o CEO da Qualcomm, Cristiano Amon, e o CEO da Intel, Pat Gelsinger, também visitaram a China nos últimos meses.
A administração Xi estendeu o tapete vermelho para os executivos, marcando reuniões para eles com altos funcionários do governo. Com a economia chinesa tentando se recuperar dos estragos da política “zero covid”, Xi vê o investimento estrangeiro e a tecnologia como a chave para garantir um crescimento econômico estável e combater quaisquer esforços liderados pelos Estados Unidos para desvinculação das cadeias de suprimentos do país.
Enquanto isso, na Europa, Peter Wennink, CEO da fabricante holandesa de equipamentos para fabricação de chips ASML, e Jean-Marc Chery, CEO da empresa suíça de semicondutores STMicroelectronics, visitaram a China nos últimos meses. A STMicroelectronics anunciou em 7 de junho planos para construir uma fábrica em conjunto com um parceiro local em Chongqing, no sudoeste da China.
E em abril, o presidente francês Emmanuel Macron viajou para a China com uma delegação de importantes executivos de negócios, incluindo o chefe da Airbus. A fabricante de aeronaves concordou com as autoridades locais em construir uma nova linha de montagem em Tianjin, no noroeste da China, e recebeu aprovação para entregar 160 jatos.
O chanceler alemão Olaf Scholz também visitou a China com líderes empresariais no outono passado. A China retribuiu enviando uma delegação liderada pelo primeiro-ministro Li Qiang à Alemanha em 20 de junho.
Ainda assim, muitas empresas continuam preocupadas com a possibilidade de as tensões entre a China e os Estados Unidos se prolongarem e estão explorando alternativas para o país.
A Sequoia Capital decidiu separar sua divisão na China. A empresa de capital de risco dos Estados Unidos tem participação na Bytedance, controladora chinesa da plataforma de vídeo TikTok.
A AstraZeneca está considerando interromper seus negócios na China, de acordo com um relatório do Financial Times.
Muitas empresas de tecnologia, incluindo a Apple, também estão expandindo as cadeias de suprimentos no Sudeste Asiático e na Índia para reduzir sua dependência da China continental.