Lula e Trump: encontro marca nova fase nas relações Brasil-EUA e relega Bolsonaro ao passado
Presidente brasileiro afirma que o ex-mandatário “faz parte do passado” e que o diálogo direto com Donald Trump inaugura uma etapa de cooperação e respeito mútuo
O primeiro encontro oficial entre Lula e Trump, realizado neste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a 47ª Cúpula da ASEAN, marcou um divisor de águas nas relações entre Brasil e Estados Unidos.
Mais do que uma reunião bilateral, o encontro simbolizou o início de um novo ciclo diplomático baseado em pragmatismo econômico e diálogo direto entre chefes de Estado, sem intermediários políticos.
Lula afirmou ter encontrado em Trump um interlocutor disposto a negociar e destacou que o ex-presidente Jair Bolsonaro “faz parte do passado da política brasileira”. A fala do petista, durante coletiva à imprensa, deixou claro que a prioridade de sua gestão é reconstruir pontes comerciais e consolidar a imagem do Brasil como ator relevante no cenário internacional.
Lula e Trump: diálogo direto sem intermediários
De acordo com o presidente brasileiro, o encontro de Lula e Trump teve um tom “franco e produtivo”.
O foco central foi a suspensão das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros — medida que tem prejudicado setores estratégicos como aço, alumínio, carne e manufaturados.
Lula afirmou que os dois líderes concordaram em conduzir pessoalmente as negociações, sem intermediários políticos. O Planalto montou uma equipe de negociação chefiada por Geraldo Alckmin (MDIC), Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) para tratar diretamente com o Departamento de Estado e o Tesouro americano.
Essa nova fase reforça o caráter direto e pragmático das tratativas: “é o presidente Lula com o presidente Trump”, resumiu o mandatário.
Bolsonaro fora do jogo político
Em uma das respostas mais comentadas da coletiva, Lula disse que Bolsonaro é passado e que o próprio Trump compreende essa nova realidade.
Segundo ele, o ex-presidente norte-americano “sabe que rei morto, rei posto” e que, após alguns encontros, “perceberá que Bolsonaro não tem relevância política”.
A fala de Lula marca o esforço de reposicionar o Brasil no tabuleiro geopolítico global, afastando o país de disputas ideológicas e reafirmando sua liderança na América do Sul.
O presidente também afirmou que apresentou a Trump os detalhes do julgamento de Bolsonaro no Brasil, destacando que o processo teve base em provas concretas e direito de defesa garantido, o que desmonta argumentos de perseguição política usados por aliados do ex-presidente.
Discussões econômicas: fim do tarifaço e equilíbrio comercial
O tema mais urgente da agenda Lula e Trump foi o tarifaço norte-americano, que atualmente impõe sobretaxas de até 50% sobre exportações brasileiras.
Lula argumentou que essas medidas não têm base técnica, pois os Estados Unidos possuem superávit na balança comercial com o Brasil — e que, portanto, o aumento das tarifas é injustificado.
O presidente brasileiro apresentou uma proposta de cronograma de negociações bilaterais, com reuniões técnicas iniciando já na manhã desta segunda-feira (27), envolvendo o representante Comercial dos EUA, Howard Lutnick, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Estado, Marco Rubio.
Entre as pautas prioritárias estão:
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Suspensão gradual das tarifas sobre produtos industriais e agrícolas;
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Revisão das barreiras sanitárias para carnes brasileiras;
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Criação de um canal permanente de diálogo comercial Brasil-EUA;
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Estabelecimento de metas de equilíbrio na balança comercial.
O tom da conversa entre Lula e Trump foi descrito como “cooperativo e confiante”, com o líder americano indicando disposição para “construir bons acordos” nos próximos meses.
A dimensão política e diplomática do encontro
Além das questões comerciais, Lula e Trump abordaram temas políticos e regionais. O presidente brasileiro defendeu a revogação das sanções impostas a autoridades brasileiras sob a chamada Lei Magnitsky, que permite punições a pessoas acusadas de corrupção ou violações de direitos humanos.
Lula também reiterou o pedido para que a América do Sul seja mantida como zona de paz, oferecendo-se como interlocutor em negociações com a Venezuela, num gesto de liderança regional.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, o diálogo foi “respeitoso e produtivo”, reforçando a ideia de que o Brasil busca reposicionar sua política externa com base em autonomia, cooperação e estabilidade diplomática.
Encontro de Lula e Trump inaugura canal direto
O fato de Lula e Trump terem conversado pessoalmente pela primeira vez representou um salto qualitativo nas relações bilaterais. Antes da reunião presencial, os dois líderes haviam trocado uma conversa por telefone e se encontrado brevemente durante a Assembleia-Geral da ONU, em setembro.
Agora, com o canal direto estabelecido, o Planalto aposta que acordos concretos poderão ser anunciados nas próximas semanas, inclusive a possível visita de Trump ao Brasil e uma viagem oficial de Lula a Washington.
“Tenho o telefone do presidente Trump e ele tem o meu”, declarou o petista, sinalizando um nível de diálogo inédito entre as duas maiores economias do continente americano.
Mercado financeiro reage positivamente ao encontro
A repercussão do encontro Lula e Trump foi imediata no mercado financeiro.
Analistas interpretaram a conversa como um gesto de reaproximação comercial e uma tentativa eficaz de reduzir o clima de incerteza entre os dois países.
Empresários dos setores de aço, alumínio, carne e celulose receberam com otimismo a notícia de que as negociações bilaterais começarão imediatamente, e que a suspensão do tarifaço pode ocorrer ainda neste trimestre.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou o diálogo entre os dois líderes como “um avanço concreto nas tratativas bilaterais” e destacou que o restabelecimento de um ambiente de previsibilidade comercial é essencial para a retomada dos investimentos e geração de empregos.
Lula, Trump e o novo pragmatismo diplomático
A postura de Lula e Trump durante o encontro demonstra que ambos buscam resultados práticos.
Apesar das diferenças ideológicas, os dois presidentes reconheceram a importância estratégica de uma relação mais equilibrada e previsível entre Brasil e Estados Unidos.
Para o governo brasileiro, o objetivo é superar as heranças políticas da era Bolsonaro e consolidar uma nova narrativa: a de um Brasil que dialoga com todas as potências, mas preserva seus interesses nacionais.
Já para Trump, que busca reforçar sua influência global, aproximar-se de Lula é um movimento de cálculo diplomático e comercial, capaz de fortalecer o eixo norte-sul e projetar estabilidade em meio a um cenário internacional volátil.
Próximos passos: da diplomacia ao resultado econômico
Após o encontro entre Lula e Trump, as equipes técnicas iniciarão negociações formais com o objetivo de apresentar um roteiro de suspensão das tarifas até o final de novembro.
O documento preliminar prevê três fases:
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Congelamento das tarifas adicionais aplicadas sobre produtos brasileiros;
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Revisão setorial dos impactos sobre cada segmento da economia;
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Assinatura de memorando de entendimento estabelecendo parâmetros de comércio justo e cooperação tecnológica.
O Planalto acredita que, até o início de 2026, o novo acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos poderá substituir integralmente o pacote tarifário vigente, com benefícios diretos para a indústria e o agronegócio brasileiros.
O simbolismo político do encontro
Para além dos números, o encontro Lula e Trump tem peso simbólico. Ele mostra um Brasil disposto a dialogar com governos de diferentes orientações políticas e a exercer protagonismo nas negociações globais.
O gesto também sinaliza ao mercado internacional que Lula adota uma diplomacia de resultados, guiada por pragmatismo e estabilidade institucional.
a imagem do presidente brasileiro ao lado de Trump — após anos de distanciamento ideológico — é vista como símbolo de maturidade política e estratégica, reforçando a capacidade de o Brasil atuar como ponte entre blocos econômicos rivais.
O Brasil reposicionado
O primeiro encontro entre Lula e Trump marca o início de uma fase de cooperação pragmática entre Brasil e Estados Unidos.
Lula conseguiu transformar um tema sensível — o tarifaço — em uma oportunidade de reaproximação, afastando heranças políticas do passado e recolocando o país no centro do debate econômico global.
Ao deixar claro que Bolsonaro “faz parte do passado”, o presidente reafirma sua estratégia de governar olhando para o futuro: com diplomacia, equilíbrio e foco no crescimento sustentável.
A partir de agora, o sucesso do diálogo dependerá da capacidade das equipes técnicas em transformar a boa vontade política em resultados comerciais concretos.






