STF decreta trânsito em julgado da condenação de Mauro Cid por participação na tentativa de golpe de Estado
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta terça-feira (28) o trânsito em julgado da condenação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, por participação na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A decisão, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, torna definitiva a pena de dois anos de prisão em regime aberto, imposta a Cid no julgamento do chamado núcleo central da tentativa de golpe, realizado em setembro pela Primeira Turma do STF.
Com o trânsito em julgado, não cabem mais recursos — o caso de Mauro Cid é o primeiro entre os oito condenados do grupo principal a ser encerrado.
Mauro Cid: da confiança de Bolsonaro à condenação no STF
O tenente-coronel Mauro Cid foi um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro durante o mandato do ex-presidente. Como ajudante de ordens do Palácio do Planalto, ele atuava diretamente na agenda e comunicação presidencial, sendo uma figura de confiança dentro do círculo mais restrito do governo.
Após deixar o cargo, Cid tornou-se um dos principais alvos das investigações conduzidas pelo STF e pela Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado e os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Ao longo das apurações, Mauro Cid firmou acordo de delação premiada, colaborando com as autoridades em troca de benefícios judiciais. Sua delação forneceu informações detalhadas sobre reuniões, mensagens e documentos que teriam ajudado a estruturar o plano golpista.
Pena e cumprimento da condenação
A pena de dois anos de prisão em regime aberto foi fixada pela Primeira Turma do STF em setembro. Segundo a defesa de Cid, o militar já cumpriu integralmente a sanção, uma vez que permaneceu preso preventivamente por meses e, posteriormente, submetido a medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica e a retenção do passaporte.
O ministro Alexandre de Moraes, ao decretar o trânsito em julgado, reconheceu que não houve recurso da defesa, consolidando a sentença. Assim, Cid torna-se o primeiro dos oito condenados do núcleo principal da tentativa de golpe a ter o caso concluído definitivamente na Suprema Corte.
Núcleo central da tentativa de golpe: quem são os condenados
O núcleo central da tentativa de golpe de Estado, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), foi composto por militares e autoridades civis de alta patente que planejaram, incitaram e executaram ações para desacreditar o sistema eleitoral, contestar o resultado das urnas e estimular ataques às instituições democráticas.
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Jair Bolsonaro, ex-presidente da República — condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, a maior pena já imposta a um ex-chefe do Executivo na história do país, por crimes contra a democracia;
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Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional — 21 anos de prisão;
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Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa — 19 anos de prisão;
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Anderson Torres, ex-ministro da Justiça — 24 anos de prisão;
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Alexandre Ramagem, deputado federal (PL-RJ) — 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão;
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Almir Garnier, ex-comandante da Marinha — 24 anos de prisão.
Além das penas de reclusão, todos foram declarados inelegíveis por oito anos, ficando impedidos de disputar cargos públicos até pelo menos 2033.
O papel da delação de Mauro Cid nas investigações
A colaboração de Mauro Cid foi determinante para a construção de provas e o fortalecimento das acusações contra os demais integrantes do grupo. Ele forneceu prints de mensagens, gravações e documentos que detalharam as estratégias de Bolsonaro e seus aliados para pressionar as Forças Armadas e interferir no resultado das eleições.
Entre os elementos apresentados estão minutas de decretos de intervenção militar, trocas de mensagens sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas e contatos com oficiais da ativa que teriam sido sondados para aderir ao movimento.
Essas informações foram cruzadas com dados coletados em operações da Polícia Federal, incluindo a Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro, que mirou generais e políticos suspeitos de envolvimento na conspiração.
STF: histórico de condenações por crimes contra a democracia
A decisão do Supremo Tribunal Federal marca mais um capítulo do julgamento histórico que pune os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado de 2022.
Foi a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente da República, juntamente com ministros de Estado e militares de alta patente, foi condenado por crimes contra a ordem democrática.
O julgamento conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, é considerado emblemático por reafirmar o papel do STF como guardião da Constituição e da democracia brasileira.
Segundo os autos, os réus integraram uma rede que tentou invalidar o resultado das eleições, convocar o uso das Forças Armadas contra o Congresso Nacional e o STF e estimular atos violentos em Brasília.
As próximas etapas do processo
Com o trânsito em julgado da condenação de Mauro Cid, o processo entra em fase de execução definitiva da pena, embora o militar já tenha cumprido parte significativa das sanções impostas.
Os demais réus, incluindo Jair Bolsonaro e seus ex-ministros, ainda têm recursos pendentes a serem analisados, o que pode atrasar o encerramento das ações.
Fontes do STF indicam que os recursos deverão ser julgados até o primeiro semestre de 2026, encerrando de vez o processo referente à tentativa de golpe de 2022.
Repercussões políticas e jurídicas
A decisão contra Mauro Cid repercutiu fortemente no meio político e jurídico. Aliados de Jair Bolsonaro classificaram a sentença como “exemplo de perseguição”, enquanto juristas e entidades civis destacaram a importância da responsabilização individual pelos atos que ameaçaram a estabilidade democrática.
Especialistas em direito constitucional afirmam que a postura de Mauro Cid em não recorrer pode representar uma mudança de estratégia de defesa, priorizando o cumprimento das penas e a preservação da delação premiada.
No plano político, o caso reaquece o debate sobre o futuro de Bolsonaro e do bolsonarismo, uma vez que o ex-presidente enfrenta outras ações penais e inquéritos que podem resultar em novas condenações.
O simbolismo da decisão
A decretação do trânsito em julgado da condenação de Mauro Cid representa um divisor de águas no processo judicial dos atos golpistas. Ao consolidar a pena de um dos principais colaboradores do núcleo de Bolsonaro, o STF envia uma mensagem de rigor institucional e de defesa da democracia.
O caso também reforça o entendimento de que a delação premiada não isenta da punição, mas pode reduzir as penas mediante colaboração efetiva com a Justiça.
Para o Supremo, a conclusão da ação penal de Mauro Cid encerra uma das etapas mais delicadas da série de investigações que envolvem militares, ex-ministros e o próprio ex-presidente da República.
Um processo que redefine a relação entre Forças Armadas e política
A condenação de Mauro Cid e outros militares de alta patente expõe um debate antigo: o papel das Forças Armadas dentro da democracia brasileira.
O STF reforçou, em seu julgamento, que não há previsão legal para intervenção militar em resultado eleitoral, e que as Forças Armadas devem submeter-se ao controle civil e constitucional.
Com a conclusão do caso, cresce a expectativa de que o governo federal e o Congresso avancem em reformas institucionais que reforcem a separação entre as esferas política e militar, prevenindo novos episódios de interferência.
O fim do caso Mauro Cid e o avanço da Justiça
A conclusão da condenação de Mauro Cid simboliza um marco na consolidação do Estado de Direito no Brasil. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que um dia esteve no centro do poder, agora se torna o primeiro condenado definitivo pelo STF no maior julgamento de crimes contra a democracia da história recente do país.
Com o trânsito em julgado, o Supremo Tribunal Federal reafirma seu papel constitucional e reforça a ideia de que nenhuma autoridade está acima da lei, independentemente de cargo, patente ou influência política.
O caso Mauro Cid não encerra apenas uma condenação individual, mas representa um alerta institucional sobre os limites do poder e a necessidade de respeito absoluto à Constituição.






