A divulgação das últimas imagens de Yahya Sinwar, líder do Hamas, morto pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), gerou uma nova controvérsia em meio ao já complexo conflito entre Israel e o grupo militante palestino. No vídeo, Sinwar aparece em seus momentos finais, tentando atacar um drone militar com um pedaço de madeira. Dependendo de quem está assistindo, a interpretação varia: para uns, é o retrato de um homem desesperado, para outros, é a imagem de um herói que luta até o último instante.
Esse episódio revela como imagens podem ser usadas de formas diferentes, conforme as intenções de quem as divulga e interpreta. O vídeo que era para ser uma prova do sucesso da operação israelense acabou por gerar uma onda de comemorações entre os apoiadores de Sinwar, que o viram como um mártir. O Hamas rapidamente se apropriou da narrativa, exaltando a bravura de Sinwar, enquanto Israel tenta corrigir a percepção pública, liberando imagens mais antigas para retratá-lo de maneira negativa.
A Morte de Yahya Sinwar e o Controle da Narrativa
Após a morte de Yahya Sinwar, um dos arquitetos do ataque terrorista de 7 de outubro, Israel divulgou as imagens como uma forma de reafirmar o poderio militar das IDF e enviar uma mensagem clara aos seus inimigos: “não importa onde se escondam, nós os encontraremos.” Entretanto, a divulgação dessas imagens, ao invés de enfraquecer a moral do Hamas, acabou por gerar uma resposta inesperada.
Para muitos palestinos e simpatizantes da causa, as imagens de Sinwar lutando até o fim reforçaram seu status de herói da resistência. Como mencionou Mustafa Barghouti, político palestino, a imagem de Sinwar “faz com que ele pareça um herói para a maioria dos palestinos, árabes e pessoas que estão contra a ocupação israelense.” Barghouti ainda destacou que Sinwar “não estava se escondendo em um túnel, como afirmava Netanyahu, mas sim lutando como um verdadeiro combatente.”
A tentativa de Israel de usar as imagens para humilhar Sinwar foi, segundo especialistas, um erro estratégico. Gershon Baskin, ex-negociador de reféns israelense, afirmou que a decisão de divulgar as imagens foi provavelmente motivada pela política interna de Netanyahu, que busca controlar a narrativa do conflito em meio às críticas que tem enfrentado pela condução da guerra.
Vídeo de momentos finais do líder máximo do Hamas, Yahya Sinwar. • EXÉRCITO DE ISRAELA Reação do Hamas e a Glorificação de Sinwar
O Hamas rapidamente aproveitou a oportunidade para transformar Yahya Sinwar em um símbolo de resistência. O grupo declarou Sinwar um mártir, um lutador que deu sua vida pela causa palestina. Mesmo palestinos que antes criticavam o Hamas agora enxergam Sinwar sob uma nova ótica, como alguém que encarou o inimigo de frente, sem se esconder.
Essa glorificação, no entanto, preocupa Israel, que passou a divulgar vídeos mais antigos de Sinwar se escondendo em túneis com estoques de dinheiro, com o intuito de pintá-lo como um líder egoísta e desconectado de seu povo. O porta-voz árabe das IDF, Avichay Adraee, fez questão de ressaltar que Sinwar levava uma vida de luxo enquanto os palestinos sofriam. Uma imagem da esposa de Sinwar com uma bolsa cara foi usada para reforçar essa narrativa.
As tentativas de descreditar Sinwar não pararam por aí. As IDF divulgaram imagens de Sinwar em túneis luxuosos, sugerindo que ele priorizava a própria segurança enquanto deixava o povo de Gaza exposto aos perigos do conflito. No entanto, para muitos palestinos, essas tentativas de desmoralização apenas reforçam a percepção de que Sinwar morreu como um herói da resistência.
A Guerra de Imagens e a Manipulação da Percepção Pública
A divulgação dessas imagens e vídeos evidencia como o controle da narrativa é uma ferramenta poderosa nos conflitos modernos. Em um ambiente em que as mídias sociais e as transmissões ao vivo podem moldar a opinião pública quase instantaneamente, tanto Israel quanto o Hamas sabem que as imagens são tão importantes quanto as ações no campo de batalha.
De um lado, Israel tenta provar que Yahya Sinwar foi eliminado, enviando uma mensagem clara de que o país está comprometido em derrotar seus inimigos. Do outro, o Hamas se aproveita das mesmas imagens para fortalecer sua narrativa de resistência e sacrifício, transformando Sinwar em um mártir que morreu pela causa palestina.
Gil Siegal, acadêmico e especialista em direito médico e bioética, resumiu a questão ao dizer: “A verdade está nos olhos de quem a vê.” Para ele, o mesmo vídeo que mostra Sinwar em seus momentos finais pode ser interpretado de diferentes formas, dependendo da visão política de quem o assiste. “Alguns dirão que ele estava lutando até o último suspiro, enquanto outros dirão que é a Idade da Pedra lutando contra a era das startups e da tecnologia.”
O Impacto Internacional da Morte de Sinwar
A morte de Sinwar ocorre em um momento delicado para o governo de Benjamin Netanyahu, que enfrenta críticas internas e externas. Domésticamente, há uma grande insatisfação com a incapacidade de trazer de volta os 101 reféns israelenses mantidos em Gaza. Internacionalmente, Israel está sob pressão devido ao aumento do número de mortes palestinas e à crise humanitária na Faixa de Gaza.
A divulgação das imagens de Sinwar pode ser vista como uma tentativa de fortalecer a posição de Netanyahu em meio a essas críticas. No entanto, especialistas como Shira Efron, diretora de pesquisa de políticas no Israel Policy Forum, acreditam que essa estratégia não teve o efeito desejado. Para ela, as imagens de Sinwar lutando até o fim, apesar de suas limitações físicas (ele aparece no vídeo com um dos braços imobilizados), reforçam sua imagem de herói.
Essa guerra de narrativas entre Israel e o Hamas destaca como o controle da informação é fundamental nos conflitos modernos. Tanto Israel quanto o Hamas estão usando todos os meios disponíveis para moldar a percepção pública e ganhar apoio, seja entre os palestinos, seja entre a comunidade internacional.
Imagens, Narrativas e o Futuro do Conflito
A morte de Yahya Sinwar e a divulgação das imagens de seus momentos finais criaram uma nova dinâmica no conflito entre Israel e o Hamas. Para Israel, a eliminação de Sinwar foi uma vitória militar importante. Para o Hamas, a morte de seu líder se tornou um símbolo de resistência e sacrifício. Essa dualidade mostra como o controle da narrativa é uma arma poderosa em tempos de guerra.
À medida que o conflito continua, tanto Israel quanto o Hamas continuarão a usar as ferramentas da comunicação moderna para moldar a percepção pública, com as imagens desempenhando um papel central nesse processo. O futuro do conflito pode depender, em grande parte, de quem conseguir controlar melhor essa narrativa.