Operação no Rio acirra disputa política entre direita e esquerda e antecipa guerra eleitoral de 2026
A operação no Rio de Janeiro, deflagrada nesta terça-feira (28) contra o Comando Vermelho (CV), deixou 64 mortos, 81 suspeitos presos e mergulhou o estado em um clima de violência e tensão política. O episódio, considerado o mais sangrento de 2025, extrapolou o campo da segurança pública e se transformou em um combustível eleitoral para a disputa nacional de 2026, com direita e esquerda travando uma guerra aberta nas redes sociais.
Enquanto o governador Cláudio Castro (PL) tenta justificar a operação e acusa o governo federal de omissão, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiram com críticas e retomaram o discurso de apoio à PEC da Segurança Pública, proposta que pretende federalizar investigações sobre o crime organizado. Do outro lado, figuras ligadas ao bolsonarismo intensificaram ataques, acusando o governo Lula de “conivência com o tráfico”.
O resultado foi uma explosão de polarização digital, que já antecipa o tom da corrida presidencial de 2026, em que o tema da segurança pública desponta como o principal eixo de debate político do país.
A operação no Rio: o gatilho da disputa política
A megaoperação, realizada nos Complexos da Penha e do Alemão, teve como objetivo combater o Comando Vermelho, uma das facções mais poderosas do Brasil. No entanto, a ação rapidamente se transformou em uma tragédia, com dezenas de mortos e feridos, entre eles policiais e civis.
A violência provocou bloqueios de vias, paralisação de serviços e medo generalizado entre os moradores das comunidades. Nas redes sociais, vídeos e relatos se espalharam em minutos, despertando reações imediatas de políticos de todas as vertentes ideológicas.
No mesmo dia, Cláudio Castro declarou que o estado do Rio estava “sozinho no combate ao crime” e que teria solicitado apoio do governo federal sem resposta. Horas depois, o Ministério da Justiça, comandado por Ricardo Lewandowski, negou ter recebido qualquer pedido formal e ressaltou os investimentos federais em segurança pública no estado.
Essa troca de versões alimentou um embate direto entre governo estadual e governo federal, rapidamente transformado em uma guerra política — com Cláudio Castro sendo aplaudido por aliados de Jair Bolsonaro (PL) e criticado por representantes do Partido dos Trabalhadores (PT).
O governo Lula reage e reforça a PEC da Segurança
Diante da repercussão negativa da operação no Rio, o governo federal tentou reverter a narrativa e associar o episódio à necessidade de uma reforma profunda na segurança pública.
A PEC da Segurança Pública, proposta pelo Planalto, prevê a federalização das investigações sobre o crime organizado, transferindo parte das atribuições das polícias estaduais para a Polícia Federal (PF). O objetivo é fortalecer a cooperação entre os entes federativos e reduzir o poder das facções que dominam territórios urbanos.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi uma das primeiras a se manifestar, afirmando que as mortes no Rio “reforçam a urgência da aprovação da PEC”. O ministro Lewandowski também destacou que o governo federal tem atuado para estruturar uma política de segurança integrada, “com base em inteligência, e não em confrontos armados”.
Nos bastidores de Brasília, o tema ganha força como pauta estratégica para 2026. Lula e seus aliados sabem que a segurança pública, antes dominada pela narrativa da direita, pode ser um trunfo eleitoral, caso o governo apresente resultados concretos nos próximos meses.
Direita mobiliza base e transforma operação no Rio em arma eleitoral
Enquanto o governo federal tenta pautar o debate institucional, a direita bolsonarista aproveita o episódio para reforçar seu discurso de endurecimento penal. Deputados, senadores e influenciadores ligados ao PL transformaram a operação no Rio em símbolo de resistência contra o que chamam de “leniência petista”.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) compartilhou uma montagem de Lula usando um boné com a sigla “CPX”, alusão ao termo “Complexo”, usado em comunidades cariocas. Bolsonaristas interpretaram o gesto como um “apoio simbólico ao crime organizado”, mesmo sendo uma coincidência de campanha de 2022. A publicação viralizou, com milhares de compartilhamentos e comentários inflamados.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também entrou na ofensiva, realizando uma live no YouTube para acusar o governo Lula de “tratar traficantes como vítimas”. Em suas palavras, o petista estaria “abraçando criminosos enquanto policiais morrem no campo de batalha”.
Outros parlamentares, como Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carlos Portinho (PL-RJ), seguiram o mesmo tom, acusando o governo de “passividade” e “omissão criminosa”.
Já Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) — ambos cotados para disputar a presidência em 2026 — aproveitaram a ocasião para posicionar-se como defensores da linha dura. Zema pediu que as facções criminosas sejam classificadas como grupos terroristas, enquanto Caiado elogiou Cláudio Castro pela “coragem de enfrentar o crime organizado”.
Redes sociais viram campo de batalha eleitoral
As redes sociais se tornaram o principal palco da disputa. No X (antigo Twitter), as hashtags #PECdaSegurança, #ClaudioCastro e #LulaConivente dominaram os trending topics, evidenciando a dimensão política do episódio.
De um lado, petistas e aliados do governo defenderam a necessidade de uma política de segurança “baseada em inteligência e direitos humanos”. Do outro, bolsonaristas e conservadores pregaram o “tolerância zero” e acusaram o governo federal de “proteger bandidos”.
A polarização digital foi tão intensa que especialistas em comunicação política já classificam o episódio como o marco inicial da campanha presidencial de 2026, antecipando a guerra de narrativas que deve dominar o debate eleitoral.
Segurança pública: o tema que dominará 2026
Nos últimos meses, pesquisas eleitorais vêm indicando que a segurança pública é hoje a maior preocupação do eleitorado brasileiro, à frente de temas como economia e saúde.
Com o aumento da criminalidade e o avanço das facções, o tema tornou-se um território estratégico para políticos de diferentes espectros ideológicos. A direita busca reforçar o discurso da “lei e ordem”, enquanto a esquerda tenta propor uma agenda de segurança com foco social e preventivo.
O caso do Rio de Janeiro simboliza esse embate. De um lado, governadores e parlamentares defendem o uso da força como resposta imediata; do outro, o governo federal aposta em inteligência, tecnologia e integração nacional para enfrentar o crime.
Em ambos os casos, há um ponto em comum: a operação no Rio transformou-se no ponto de virada do debate político, forçando todos os atores a se posicionarem sobre um tema que, em 2026, pode decidir a eleição presidencial.
Repercussões políticas e eleitorais
A postura de Cláudio Castro, de culpar o governo Lula pela falta de apoio, fortaleceu sua imagem entre os conservadores e o aproximou ainda mais da base bolsonarista. O governador do Rio, que tenta consolidar-se como liderança nacional, passou a ser visto como voz ativa da direita moderada — um nome que pode herdar parte do eleitorado de Bolsonaro.
Por outro lado, o PT e aliados enxergam no episódio uma oportunidade para contrapor o discurso da violência com o da eficiência institucional. O governo Lula prepara uma série de anúncios na área de segurança, incluindo investimentos em tecnologia, programas de prevenção e integração das forças policiais, para mostrar resultados concretos até o início do próximo ciclo eleitoral.
Enquanto isso, o Congresso Nacional se vê pressionado a retomar a discussão da PEC da Segurança, cujo impasse pode se tornar uma bandeira eleitoral decisiva tanto para o Planalto quanto para a oposição.
Operação no Rio antecipa o tom da eleição de 2026
A operação no Rio deixou de ser apenas um episódio de segurança pública e se tornou o divisor político de 2025. Com 64 mortos e uma guerra de narrativas nas redes sociais, o país mergulha em um clima de campanha antecipada, no qual segurança pública, polarização e disputa ideológica se entrelaçam.
Enquanto o governo Lula tenta resgatar o protagonismo institucional, a direita bolsonarista transforma o episódio em símbolo de resistência. O resultado é um país em ebulição, onde cada ação policial, cada palavra e cada post nas redes se tornam peças de um tabuleiro eleitoral cada vez mais explosivo.






