A campanha eleitoral para as eleições presidenciais na Venezuela, que ocorrerão no final deste mês, foi marcada por novas denúncias de repressão e detenções de dirigentes e ativistas políticos. No domingo, 14 de julho, Perkins Rocha, dirigente da oposição, revelou em uma coletiva de imprensa a detenção de oito pessoas na noite de sábado e madrugada de domingo nos Estados de Carabobo, Monagas, Anzoátegui e Portuguesa.
Segundo Rocha, entre os detidos estão a proprietária e dois ajudantes do caminhão utilizados por María Corina Machado e o candidato da oposição, Edmundo González, para percorrer as ruas de Valência no sábado. Os detidos foram apresentados aos tribunais acusados de diversos delitos, incluindo “supostas lesões a funcionários públicos” e atos de “extorsão”.
Denúncias de Violações e Apelos por Transparência
Rocha, representando o Comando Nacional de Campanha de Vente Venezuela, movimento político ao qual Machado pertence, apelou ao Conselho Nacional Eleitoral para que intervenha nessa situação, destacando que a responsabilidade por uma disputa eleitoral transparente recai sobre seus membros. Ele afirmou que está ocorrendo uma escalada na repressão não apenas de dirigentes políticos e comandos de campanha, mas também de pessoas que simplesmente fornecem serviços à oposição.
Maria Corina Machado, ao final de um ato de campanha na Universidade Central da Venezuela em apoio à candidatura de González, descreveu a situação como uma violação de “todos os termos de uma disputa justa” e alertou os observadores internacionais sobre o que está acontecendo. Machado teve que ser substituída por González devido a uma inabilitação política.
A Situação dos Direitos Humanos
Gonzalo Himiob, vice-presidente do Foro Penal, uma organização não governamental de defesa dos direitos humanos, afirmou à Associated Press que alguns dos detidos não puderam contatar seus advogados para exercer a defesa. Segundo o Foro Penal, até 8 de julho havia 287 “presos políticos” na Venezuela.
O Ministério Público ainda não se pronunciou sobre as últimas detenções denunciadas. No entanto, o procurador-geral, Tarek William Saab, acusou recentemente dois empresários detidos em 10 e 11 de julho de fazerem parte de um ato de “sabotagem contra o sistema elétrico para irritar a população e desestabilizar as eleições presidenciais”.
O Clima Eleitoral
A corrida eleitoral na Venezuela está polarizada entre o atual presidente Nicolás Maduro, que busca seu terceiro mandato, e o candidato da coalizão opositora, Edmundo González. Análises indicam que esses dois candidatos são os principais concorrentes, enquanto outros oito postulantes têm poucas chances de vencer, sendo muitos deles representantes de organizações políticas próximas ao governo.
Um Ato de Desafio na Universidade Central
Mais cedo, no mesmo domingo, Maria Corina Machado participou de um ato de campanha diante de centenas de estudantes reunidos na Universidade Central da Venezuela, em Caracas. Ela destacou que essa geração, que nasceu e cresceu sob o que ela descreve como tirania, está determinada a lutar pela liberdade. “Arriscaram suas vidas, perderam companheiros, viram muitos partir e estão aqui de pé e decididos a dar tudo”, afirmou Machado.
González, por sua vez, relembrou seu tempo como estudante na mesma universidade, onde se formou como diplomata, e questionou a situação precária da instituição. O evento foi realizado apesar de um comunicado divulgado pela reitoria algumas horas antes, negando a autorização para o ato no campus, citando a necessidade de preservar a condição de patrimônio mundial e assegurar a segurança.
Patrimônio Cultural e Crise Educacional
A Cidade Universitária de Caracas, local do evento, é um Patrimônio Cultural da Humanidade desde 2000, conforme declarado pela Unesco. O campus abriga mais de 90 edifícios, estádios, praças e obras de renomados artistas como o pintor húngaro Victor Vasarely e o escultor americano Alexander Calder.
Entretanto, a crise econômica na Venezuela também atingiu o setor educacional, resultando em uma fuga de cérebros, com muitos professores universitários, especialmente os mais qualificados, abandonando o país. Com rendimentos muitas vezes próximos ao salário mínimo mensal de 4.741 bolívares (aproximadamente US$ 130), muitos professores se viram desiludidos e em busca de melhores oportunidades no exterior.
A situação na Venezuela se intensifica à medida que as eleições se aproximam. As denúncias de detenções arbitrárias e repressão contra a oposição levantam sérias preocupações sobre a transparência e justiça do processo eleitoral. Observadores internacionais estão atentos aos desdobramentos, enquanto os líderes da oposição continuam a mobilizar apoio e denunciar as injustiças.