Manifestantes bloquearam estradas e rodovias em Israel nesta terça-feira em protesto contra o novo avanço da polêmica reforma judicial proposta pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que planeja restringir o poder dos tribunais do país. O país tem grandes manifestações planejadas em todo o país no que os organizadores chamaram de “dia de perturbação“.
As manifestações afetaram a vida cotidiana ao interromper importantes rotas de transporte, incluindo um protesto no principal aeroporto do país. O movimento contra a reforma voltou a se intensificar após os protestos de março, que paralisaram o país e forçaram Netanyahu a interromper os esforços de avançar com a reforma do sistema de justiça do país. Protestos também foram planejados perto da principal rodovia de Tel Aviv e em frente a embaixada dos EUA no país.
Empresas de todo o país deram aos funcionários a opção de tirar o dia de folga para participar dos protestos e evitar deslocamentos.
A polícia disse ter prendido pelo menos 42 pessoas, e as autoridades usaram canhões de água contra os manifestantes que bloqueavam as ruas.
Centenas de milhares de israelenses participaram das 27 semanas seguidas de protestos, alguns dos maiores da história do país, desde que o governo divulgou planos em janeiro para reformar o judiciário. A proposta expôs fissuras entre as comunidades seculares e religiosas de Israel, com os defensores dizendo que o poder dos tribunais deve ser controlado e os críticos dizendo que o judiciário é o único controle real sobre o governo.
A intensificação dos protestos ocorre depois que a coalizão de Netanyahu voltou a avançar com as propostas de reforma judicial na noite de segunda-feira, sem qualquer apoio da oposição. Netanyahu dialogou com a oposição por meses, mas as negociações pararam no final do mês passado e o primeiro-ministro disse que seguiria em frente com uma versão revisada da reforma.
A reforma consiste em vários projetos de lei que visam enfraquecer o poder da Suprema Corte de Israel de anular novas legislações que julgam inconstitucionais e as decisões do governo.
Na segunda-feira, o Parlamento de Israel, o Knesset, votou em primeiro turno um projeto de lei que reduziria significativamente o poder do tribunal de derrubar decisões do governo ou de funcionários individuais com base na “razoabilidade”. A coalizão governista argumenta que a razoabilidade é muito arbitrária e dá aos juízes não eleitos o poder de anular decisões de autoridades eleitas. O projeto ainda precisa de mais duas votações antes de ser aprovado.
O novo avanço da reforma judicial reacendeu o movimento de reservistas do exército israelense para rejeitar o serviço militar, uma tendência que altos funcionários da segurança alertaram que poderia ter consequências para a segurança nacional.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e outros membros do governo americano pediram a Netanyahu que desacelere e busque um consenso sobre as mudanças no sistema de justiça. Os manifestantes disseram que querem manter a pressão sobre o governo Biden para se opor às mudanças.
A indústria de tecnologia do país, assim como os reservistas militares, desempenham um papel central nos protestos contra a reforma. Críticos, incluindo executivos do setor, dizem que a medida colocará muito poder nas mãos da coalizão governista, podendo fomentar a corrupção e afastar investimentos e talentos.
Protestos em Israel contra novo avanço da proposta de reforma do sistema judiciário defendido pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — Foto: Tsafrir Abayov/AP