Ford e Hyundai registram forte queda nas vendas de veículos elétricos após o fim dos créditos federais nos EUA
O mercado automotivo norte-americano enfrenta um momento de ajuste após anos de crescimento acelerado. As vendas de veículos elétricos — antes impulsionadas por incentivos fiscais generosos — sofreram uma queda acentuada em outubro, conforme relatado por grandes montadoras como Ford, Hyundai e Kia. A principal razão é o fim dos créditos federais de até US$ 7.500, encerrados recentemente após mudanças regulatórias promovidas pelo governo de Donald Trump.
Segundo os dados divulgados, a queda nas vendas de veículos elétricos já ultrapassa dois dígitos em várias marcas e indica uma desaceleração generalizada no ritmo de adoção dessa tecnologia. O mercado, que havia batido recordes no terceiro trimestre, agora tenta se estabilizar em um novo cenário sem incentivos fiscais.
O impacto do fim dos créditos federais
Durante anos, o crédito fiscal de até US$ 7.500 funcionou como um dos principais motores do crescimento das vendas de veículos elétricos nos Estados Unidos. O benefício tornava os modelos elétricos mais competitivos em relação aos veículos movidos a combustão, reduzindo a diferença de preço e estimulando a transição energética.
Com o fim dos incentivos federais, consumidores correram para antecipar suas compras antes do prazo final. Assim, setembro marcou um trimestre recorde de vendas de elétricos, seguido de uma forte retração em outubro — o primeiro mês sem o benefício.
Os dados das montadoras mostram que a retirada dos subsídios gerou uma queda imediata no ritmo de vendas, evidenciando a forte dependência do setor em relação aos estímulos fiscais para manter o crescimento.
Ford sente os efeitos e registra queda de 25%
Entre as montadoras afetadas, a Ford Motor Company teve uma das reduções mais expressivas. A empresa, que até o terceiro trimestre ocupava a terceira posição em vendas de veículos elétricos nos EUA, registrou queda de 25% nas vendas em outubro em comparação ao mesmo mês de 2024.
Modelos emblemáticos da marca também foram diretamente impactados:
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O Mustang Mach-E, crossover 100% elétrico, apresentou retração de 12%.
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A F-150 Lightning, versão elétrica da picape mais vendida dos EUA, caiu 17%.
Antes do fim dos incentivos, o CEO da Ford, Jim Farley, já havia alertado que a participação dos elétricos poderia cair de 12% para 5% do total de veículos vendidos no país. A previsão, agora, se confirma como uma tendência de curto prazo.
Hyundai e Kia: quedas entre 52% e 71%
As montadoras sul-coreanas Hyundai Motor e Kia também sentiram o impacto. Seus principais modelos elétricos — que vinham crescendo em popularidade — registraram quedas entre 52% e 71% nas vendas anuais.
O Hyundai Ioniq 5, um dos elétricos mais premiados da marca, teve retração de 80% nas vendas de setembro para outubro. Já o Ioniq 9, novo SUV elétrico da companhia, viu suas entregas despencarem 71% no mesmo período.
Na Kia, o cenário foi semelhante: os modelos EV6 e EV9, principais apostas da marca para o mercado norte-americano, também sofreram queda significativa, refletindo o enfraquecimento momentâneo da demanda após o término dos créditos.
executivos da Hyundai afirmam que a queda é uma “interrupção temporária” e que o mercado deve se reequilibrar nos próximos meses. A empresa aposta no avanço dos híbridos e no fortalecimento da infraestrutura de carregamento como forma de retomar o crescimento.
A Tesla mantém liderança apesar da desaceleração
Mesmo com a retração geral, a Tesla continua sendo a líder absoluta em vendas de veículos elétricos nos Estados Unidos, com 43,1% de participação de mercado, segundo dados da Motor Intelligence. A General Motors (GM) aparece em segundo lugar, com 13,8%.
Essas duas empresas mantêm vantagens competitivas importantes: ampla rede de distribuição, produção verticalizada e portfólio consolidado. Além disso, parte de seus modelos ainda se beneficia de incentivos estaduais e acordos regionais que mitigam o impacto do fim do crédito federal.
Vendas de híbridos crescem e ganham força no mercado
Enquanto os elétricos enfrentam retração, os veículos híbridos seguem em trajetória de alta. As montadoras destacam que, após o fim dos créditos, muitos consumidores passaram a considerar os híbridos como alternativa mais acessível e prática, principalmente diante da infraestrutura limitada de recarga em várias regiões dos Estados Unidos.
Os híbridos, que combinam motor elétrico e combustão, exigem menos adaptação por parte dos motoristas e oferecem maior autonomia — fatores que explicam sua crescente popularidade.
O segmento híbrido deve continuar se expandindo em 2025, impulsionado pelo avanço de modelos como o Toyota Prius, o Honda CR-V Hybrid e as versões híbridas das próprias marcas afetadas pela queda nas vendas de veículos elétricos, como Ford Escape Hybrid e Hyundai Tucson Hybrid.
O novo cenário do mercado elétrico norte-americano
O fim dos créditos federais marca uma nova fase para o setor de veículos elétricos nos Estados Unidos. O mercado, que antes dependia fortemente de incentivos fiscais, agora precisa buscar equilíbrio entre preço, tecnologia e infraestrutura.
De acordo com analistas da Kelley Blue Book, as vendas de elétricos atingiram um recorde histórico no terceiro trimestre de 2025, com 438.487 unidades vendidas, um salto de 40,7% em relação ao trimestre anterior. O número representou o auge do ciclo de incentivos, que agora chega ao fim.
Jessica Caldwell, chefe de análises da Edmunds, destacou que o momento atual representa uma transição para um mercado “mais natural”, sustentado por consumidores genuinamente interessados em veículos elétricos, e não apenas atraídos por benefícios fiscais.
A reação das montadoras e a busca por novas estratégias
Para enfrentar o novo cenário, as principais montadoras estão adotando estratégias diversificadas. A Ford planeja ampliar a oferta de versões híbridas e flexíveis de seus modelos mais vendidos, reduzindo a dependência das linhas 100% elétricas.
A Hyundai aposta em acordos de infraestrutura de recarga com empresas de energia e tecnologia, visando facilitar o acesso dos consumidores aos pontos de carregamento rápido. Já a Kia pretende expandir sua linha de SUVs elétricos premium, buscando nichos de maior valor agregado.
Além disso, as montadoras estão pressionando por novos incentivos estaduais e municipais, especialmente em regiões com metas de descarbonização mais ambiciosas, como Califórnia e Nova York.
Especialistas veem 2026 como ano de estabilização
Analistas do setor automotivo apontam que 2026 deve marcar o início da estabilização nas vendas de veículos elétricos, com retomada gradual do crescimento.
A expectativa é que os preços das baterias de íon-lítio continuem caindo, o que deve baratear os veículos elétricos e compensar parte da ausência dos créditos federais. A adoção de novas tecnologias, como baterias de estado sólido, também deve aumentar a autonomia e reduzir o custo por quilômetro rodado.
Esses avanços devem impulsionar a competitividade dos elétricos frente aos híbridos e aos modelos a combustão, consolidando uma nova fase do mercado automotivo norte-americano.
Um mercado em transição
A queda nas vendas de veículos elétricos registrada em outubro reflete um momento de transição no setor automotivo dos Estados Unidos. O fim dos créditos federais provocou um choque temporário, mas abriu espaço para uma consolidação mais sustentável e menos dependente de subsídios governamentais.
As próximas etapas serão decisivas: a indústria precisa equilibrar inovação tecnológica, preço acessível e ampliação da infraestrutura de recarga. A transição energética continua sendo inevitável, mas o ritmo dependerá de políticas públicas, investimentos e da confiança dos consumidores.
Enquanto isso, híbridos ganham força, elétricos se ajustam e montadoras como Ford, Hyundai e Kia reposicionam suas estratégias para enfrentar o novo mercado sem incentivos.






