Senadores celebram aceno de Trump a Lula, mas alertam para efeitos do tarifaço EUA
O encontro inesperado entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, gerou reações positivas no Senado brasileiro. Parlamentares destacaram que o gesto sinaliza abertura para o diálogo, mas reforçaram que os impactos do tarifaço EUA sobre as exportações brasileiras exigem cautela e negociação estratégica.
A questão foi debatida em audiência da Comissão Temporária Externa para Interlocução sobre as Relações Econômicas Bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA), que recebeu autoridades, representantes da indústria e do agronegócio. O objetivo central foi avaliar os desdobramentos da investigação conduzida pelo USTR (United States Trade Representative) no âmbito da Seção 301, que sustenta as medidas tarifárias impostas por Washington.
Senado aposta no diálogo para superar o tarifaço EUA
O presidente da CTEUA, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), afirmou que os sinais dados por Trump na ONU reforçam a importância da diplomacia parlamentar. Segundo ele, só o diálogo direto entre os chefes de Estado poderá destravar o impasse que ameaça os mais de 200 anos de relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Para a relatora da comissão, senadora Tereza Cristina (PP-MS), é fundamental que o Brasil mantenha a interlocução suprapartidária e construa pontes tanto no Executivo quanto no Legislativo norte-americano. A meta é garantir que os interesses brasileiros não sejam prejudicados de forma permanente pelo tarifaço.
Impactos do tarifaço EUA no agronegócio brasileiro
O setor agropecuário foi um dos mais afetados pelas tarifas adicionais. Dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) apontam que apenas 24 produtos agropecuários foram incluídos na lista de exceções. Entre eles estão castanha-do-pará, suco de laranja e alguns artigos de madeira.
Já itens estratégicos como o açúcar registraram queda de quase 60% nas exportações. Outros produtos também apresentaram forte retração: óleos vegetais (-25%) e amendoim (-22%). Para especialistas, as medidas norte-americanas colocam em risco cadeias produtivas inteiras, com efeitos diretos na renda de produtores brasileiros.
Indústria também sente efeitos bilionários
O impacto do tarifaço EUA não se limita ao agronegócio. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) informou que 74% das exportações brasileiras para os Estados Unidos estão atualmente sujeitas a tarifas adicionais.
Entre os setores mais atingidos estão o químico, o metalúrgico e o de manufaturados industriais, resultando em um prejuízo estimado de R$ 26 bilhões em exportações. A entidade alerta que, sem um acordo político, o Brasil pode perder competitividade em áreas-chave da economia global.
Trump e Lula: “química” e expectativa de encontro
No discurso de encerramento da Assembleia Geral da ONU, Trump relatou o breve encontro com Lula, descrevendo-o como um momento de “química excelente”. O petista, por sua vez, confirmou que a conversa foi amistosa e reforçou que espera um encontro formal na próxima semana, seja presencialmente ou por videoconferência.
Lula destacou que o Brasil e os Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente, ressaltando a importância de reconstruir uma agenda comum baseada no respeito mútuo e no interesse econômico bilateral.
O desafio diplomático do Brasil
Especialistas alertam que o tarifaço EUA representa um dos maiores desafios diplomático-comerciais das últimas décadas para o Brasil. Segundo o economista Marcos Troyjo, apenas uma articulação política robusta poderá evitar que o contencioso se torne duradouro, ampliando os prejuízos.
A expectativa é que o possível encontro entre Lula e Trump abra espaço para uma pauta positiva de cooperação em áreas como energia limpa, tecnologia, indústria de defesa e transição ecológica. No entanto, parlamentares reforçam que as negociações precisarão ser firmes, para evitar concessões que fragilizem a soberania brasileira.
Caminhos para mitigar o impacto do tarifaço
Entre as alternativas discutidas na audiência no Senado, destacam-se:
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Diversificação de mercados: fortalecer exportações para a Ásia, Europa e África, reduzindo a dependência dos EUA.
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Acordos bilaterais e regionais: acelerar negociações no âmbito do Mercosul e buscar novos tratados de comércio.
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Políticas de incentivo interno: ampliar linhas de crédito e subsídios para produtores impactados pelas tarifas.
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Diplomacia econômica ativa: manter o canal de diálogo permanente com o Congresso e o governo norte-americano.
O gesto de aproximação de Donald Trump com Lula foi bem recebido no Brasil, mas os senadores destacam que não há espaço para ingenuidade. O tarifaço EUA já afeta exportações do agronegócio e da indústria, gerando prejuízos bilionários.
A solução, afirmam, dependerá da capacidade de articulação política de ambos os países. A construção de uma agenda comum pode transformar o impasse em oportunidade, mas o Brasil precisa agir com estratégia para preservar seus interesses no comércio internacional.






