Teka inicia pagamento de dívidas trabalhistas após 13 anos de colapso financeiro
Treze anos depois de entrar em colapso financeiro e iniciar um dos processos de recuperação judicial mais longos da indústria têxtil brasileira, a Teka Tecelagem Kuehnrich finalmente começará a pagar parte das dívidas trabalhistas acumuladas desde 2012. O acordo histórico, avaliado em R$ 70 milhões, foi homologado pela Justiça do Trabalho e beneficiará 2.333 trabalhadores das unidades de Blumenau (SC), Artur Nogueira (SP), Mogi das Cruzes (SP), Sumaré (SP), Itapira (SP) e Indaial (SC).
O acerto, firmado na última sexta-feira (7), representa um marco no processo de recuperação judicial da Teka, que desde 2012 vinha acumulando pendências salariais e indenizatórias com milhares de ex-funcionários. O acordo foi negociado com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Campinas e Região (SP) e marca o primeiro passo concreto da empresa para quitar dívidas antigas e retomar gradualmente sua credibilidade no setor.
Um alívio após mais de uma década de espera
A Teka, que já foi uma das maiores fabricantes de produtos têxteis da América Latina, enfrentou anos de falências, processos trabalhistas e paralisações de fábricas. Desde 2012, quando a empresa entrou em colapso financeiro, milhares de trabalhadores ficaram sem receber direitos básicos, como salários atrasados, férias, 13º, FGTS e indenizações.
Agora, com o acordo judicial de R$ 70 milhões, a empresa inicia um plano global de pagamentos, que promete encerrar uma das disputas trabalhistas mais longas da história da indústria brasileira. Cada trabalhador receberá até R$ 10 mil na primeira etapa, com valores acima desse teto sendo parcelados em até 36 vezes.
Os recursos iniciais virão de fundos judiciais já depositados em contas vinculadas ao processo de recuperação. Além disso, imóveis não operacionais foram colocados à venda para garantir o pagamento integral das parcelas previstas no plano.
O novo comando e o plano de reestruturação
Atualmente, a Teka é controlada pelo Alumni FIP, fundo que detém 40% das ações da companhia e assumiu o controle com a missão de reorganizar as finanças e resgatar a imagem da marca.
Em nota oficial, a empresa destacou que a nova gestão, em apenas cinco meses de atuação, concentrou esforços em regularizar débitos salariais e implementar o Plano de Pagamento Global, que foi homologado em 7 de novembro de 2025.
Segundo o comunicado: “Em 5 meses de atuação da nova gestão da TEKA, todos os esforços estiveram focados neste Plano de Pagamento Global, homologado na última sexta (7). No entanto, em julho de 2025, logo após assumir, a nova gestão teve uma preocupação imediata de quitação de débito de salários atrasados do ano de 2013 dos colaboradores ativos. Assim, podemos considerar que, de maneira imediata, tal pagamento beneficiou 600 colaboradores internos, com um acerto na casa dos 3 milhões de reais, e o acordo Global, recente, 70 milhões, a 2300 pessoas entre trabalhadores e ex-trabalhadores.”
A longa batalha dos trabalhadores
A trajetória da Teka é marcada por sucessivos atrasos e promessas não cumpridas desde o início do colapso em 2012. O caso mais emblemático é o da fábrica de edredons de Itapira (SP), que demitiu 370 funcionários sem quitar os valores devidos.
Na época, a dívida trabalhista da unidade era de R$ 2 milhões, montante que, atualizado pelo INPC até 2025, chega a aproximadamente R$ 4,2 milhões. Os valores correspondiam a salários do último mês trabalhado, aviso prévio, 13º proporcional, férias, FGTS e multa de 40% sobre o fundo.
Os ex-funcionários de Itapira esperaram mais de 13 anos para receber o que lhes era devido. A homologação do acordo trouxe um alívio simbólico e financeiro para essas famílias, que viram seus direitos finalmente reconhecidos judicialmente.
Recuperação judicial e desafios financeiros
A recuperação judicial da Teka começou oficialmente em 2012, quando a empresa não conseguiu honrar dívidas com fornecedores, bancos e funcionários. Na época, a companhia acumulava passivos de mais de R$ 400 milhões, e as tentativas de reestruturação falharam repetidamente.
O processo judicial se arrastou por mais de uma década, com disputas envolvendo créditos trabalhistas e tributários, além da venda de ativos para gerar liquidez. As unidades produtivas foram gradualmente desativadas, e a empresa passou a operar com capacidade reduzida, mantendo apenas parte da produção no estado de Santa Catarina.
O novo plano financeiro da Teka foi construído em torno de três pilares:
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Renegociação de dívidas judiciais;
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Venda de ativos não essenciais;
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Retomada gradual das operações industriais, com foco em linhas de produtos de maior valor agregado.
De acordo com fontes do setor, a empresa tenta resgatar sua marca histórica apostando em novos modelos de gestão, tecnologia e sustentabilidade.
O peso simbólico do acordo da Teka
O caso da Teka se tornou um símbolo da crise industrial brasileira da década de 2010, quando a concorrência internacional, o aumento de custos e a carga tributária provocaram o fechamento de centenas de fábricas no setor têxtil.
Fundada em 1926 em Blumenau (SC), a Teka foi por décadas uma das maiores exportadoras de produtos de cama, mesa e banho da América Latina, com presença em mais de 30 países. Seu declínio representou a perda de milhares de empregos diretos e indiretos, afetando economias locais em Santa Catarina e São Paulo.
A decisão de retomar os pagamentos aos ex-funcionários é vista como um gesto de responsabilidade social e de recomeço institucional, marcando um novo capítulo na história da empresa.
Como será o cronograma de pagamento
O Plano de Pagamento Global da Teka estabelece um cronograma dividido em duas fases principais:
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Fase 1: Pagamento de até R$ 10 mil por trabalhador com recursos já depositados em contas judiciais.
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Fase 2: Quitação de valores superiores a R$ 10 mil em até 36 parcelas mensais, garantidas por bens imóveis e recebíveis futuros da companhia.
Além disso, a Teka informou que depósitos recursais e judiciais pendentes nos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) das 12ª e 15ª Regiões — em Santa Catarina e Campinas — serão liberados e incorporados ao pagamento global.
O objetivo é iniciar os pagamentos ainda neste ano, com prioridade para os casos mais antigos e os trabalhadores de menor renda.
Perspectivas para o futuro da Teka
A nova administração da Teka busca reconstruir gradualmente a imagem da marca e retomar operações de forma sustentável. O plano estratégico da empresa inclui:
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modernização de maquinário em unidades produtivas ativas;
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parcerias comerciais com grandes redes varejistas;
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lançamento de novas linhas de produtos têxteis com foco em sustentabilidade e exportação.
Analistas do setor avaliam que, caso a companhia consiga cumprir integralmente o acordo judicial e manter disciplina financeira, poderá recuperar parte do mercado perdido e até reconquistar sua reputação junto a consumidores e investidores.
Ainda assim, o desafio é grande: a Teka precisa equilibrar seu passivo trabalhista com investimentos em inovação e competitividade, num setor cada vez mais dominado por importados asiáticos de baixo custo.
Justiça e esperança após 13 anos de espera
A homologação do acordo trabalhista da Teka representa um marco histórico na indústria brasileira e um alívio tardio para milhares de famílias. Após 13 anos de incertezas, a empresa inicia uma nova etapa, marcada pelo compromisso de pagar o que deve e reconstruir o que perdeu.
Para os ex-funcionários, o pagamento representa não apenas uma compensação financeira, mas o reconhecimento de anos de luta por justiça. Já para o setor têxtil, o caso simboliza a importância da gestão responsável e da transparência empresarial — pilares essenciais para a retomada industrial no país.






