Companhia siderúrgica reporta perdas bilionárias após reconhecimento de impairment e reavaliação de impostos diferidos, apesar de avanços operacionais no trimestre
Usiminas amarga prejuízo bilionário no terceiro trimestre de 2025
A Usiminas (USIM5) registrou um prejuízo líquido de R$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre de 2025 (3T25), revertendo o lucro de R$ 185 milhões obtido no mesmo período do ano anterior. O resultado, muito abaixo das expectativas de analistas, reflete ajustes contábeis extraordinários e um cenário desafiador para a indústria siderúrgica brasileira.
Segundo relatório de resultados, a companhia realizou uma análise de recuperabilidade de ativos diante das condições macroeconômicas e de mercado, o que resultou em perdas por impairment (desvalorização de ativos) de R$ 2,2 bilhões, além de R$ 1,4 bilhão em ajustes relacionados a impostos diferidos. Esses efeitos, segundo a Usiminas, não impactam diretamente o caixa, mas foram determinantes para o forte prejuízo contábil reportado.
Mesmo diante do resultado líquido negativo, o desempenho operacional apresentou evolução, com melhora no Ebitda ajustado e geração de caixa.
Resultados abaixo das projeções do mercado
As projeções reunidas pela Bloomberg indicavam expectativa de lucro líquido de R$ 33 milhões, mas a Usiminas entregou uma perda expressiva, contrariando o consenso de mercado.
O resultado evidencia o impacto dos ajustes contábeis e de um ambiente econômico ainda desafiador para o setor de aço, pressionado por importações asiáticas e retração do consumo interno.
Sem os efeitos extraordinários de impairment e impostos diferidos, o lucro líquido ajustado da companhia teria sido de R$ 108 milhões, demonstrando uma melhora em sua eficiência operacional.
Desempenho operacional: Ebitda cresce, receita recua
O Ebitda ajustado da Usiminas, que mede o desempenho operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização, totalizou R$ 434 milhões no trimestre, representando um avanço de 2% em relação ao 3T24 e de 6% na comparação com o trimestre anterior.
A margem Ebitda ajustada atingiu 7%, ligeiramente superior aos 6,7% do mesmo período do ano passado.
Segundo a companhia, o resultado reflete melhor controle de custos, maior eficiência industrial e geração de caixa positiva, mesmo em um contexto global de competição desleal.
A receita líquida consolidada, por outro lado, caiu 3%, totalizando R$ 6,6 bilhões, com o volume de vendas de aço recuando 2%, para R$ 1,1 bilhão, enquanto as vendas de minério de ferro cresceram 9%, somando R$ 2,5 bilhões.
Importações pressionam o setor siderúrgico
A Usiminas destacou que o setor enfrenta uma pressão crescente das importações de aço, principalmente de origem chinesa, vendidas a preços inferiores aos praticados no mercado nacional.
Essa competição desleal, segundo a companhia, tem dificultado a recuperação de margens e impactado diretamente o desempenho da indústria brasileira.
A entrada de produtos chineses com preços subsidiados tem sido uma das principais preocupações das siderúrgicas locais, como CSN, Gerdau e ArcelorMittal, que também relatam perda de participação no mercado interno.
O tema vem sendo debatido com o governo federal, que avalia medidas de defesa comercial, como tarifas antidumping e quotas de importação, para proteger a produção nacional e garantir condições justas de competição.
Efeitos não recorrentes explicam prejuízo contábil
De acordo com o relatório da companhia, o prejuízo de R$ 3,5 bilhões decorre, em grande parte, de lançamentos contábeis não recorrentes, que não afetam o fluxo de caixa operacional.
Os principais ajustes incluem:
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Perda por impairment: desvalorização de ativos industriais e operacionais diante da revisão do cenário macroeconômico;
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Avaliação de impostos diferidos: reavaliação contábil que gerou baixa de créditos fiscais futuros;
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Ajustes contábeis extraordinários: relacionados à revisão de premissas de longo prazo sobre demanda e preços do aço.
Sem esses fatores, o resultado líquido ajustado seria positivo, reforçando a resiliência operacional da Usiminas em meio a um ambiente global adverso.
Estratégia de mitigação e perspectivas
Mesmo diante das perdas, a Usiminas destacou avanços importantes em eficiência industrial, gestão financeira e redução de custos.
A empresa tem buscado otimizar seu portfólio, aumentar a produtividade e diversificar fontes de receita, especialmente com o crescimento da área de mineração, que apresentou alta de 9% nas vendas.
Além disso, a companhia mantém foco em disciplinar o capital, reduzir endividamento e melhorar o fluxo de caixa livre — aspectos fundamentais para a sustentabilidade financeira no médio prazo.
Para o último trimestre do ano, a expectativa é de estabilização gradual da demanda interna e redução da pressão sobre os preços do aço, o que pode contribuir para resultados mais equilibrados em 2026.
Desempenho das unidades de negócio
A Usiminas opera com três grandes frentes de atuação: Siderurgia, Transformação e Mineração.
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Siderurgia: Apesar da queda nas vendas de aço, o segmento manteve margem operacional positiva, sustentada pela melhora na gestão de custos e aumento da exportação de produtos laminados.
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Mineração: Apresentou desempenho expressivo, com crescimento de 9% no volume vendido e maior rentabilidade devido à valorização do minério de ferro no mercado internacional.
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Transformação: Manteve estabilidade, com foco na produção de componentes e estruturas metálicas para o setor automotivo e de construção.
Esses resultados reforçam a estratégia da companhia de diversificar operações e reduzir dependência do mercado interno de aço plano.
Mercado reage negativamente, mas analistas veem fundamentos sólidos
A divulgação do prejuízo bilionário da Usiminas (USIM5) surpreendeu o mercado financeiro e provocou queda imediata das ações na B3.
No entanto, analistas afirmam que o impacto contábil tem caráter não recorrente e que os fundamentos operacionais da empresa permanecem sólidos.
A melhora no Ebitda e o crescimento das vendas de minério indicam recuperação gradual da performance industrial, o que pode refletir positivamente nos próximos trimestres.
Além disso, a posição de caixa robusta e a redução do endividamento líquido reforçam a capacidade da companhia de atravessar períodos de instabilidade econômica.
Contexto macroeconômico e cenário do aço
O desempenho da Usiminas reflete também as dificuldades enfrentadas pelo setor siderúrgico global em 2025.
A desaceleração da economia chinesa, o excesso de oferta de aço no mercado internacional e as incertezas sobre a economia brasileira afetaram preços, margens e volumes de exportação.
Por outro lado, a demanda por aço na América do Sul tende a se recuperar gradualmente, impulsionada por projetos de infraestrutura e reindustrialização, o que pode beneficiar a Usiminas a partir de 2026.
O governo brasileiro, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), tem sinalizado apoio ao setor, avaliando medidas de proteção comercial e incentivos à produção local.
Prejuízo contábil não apaga evolução operacional
Embora o resultado do 3T25 tenha sido fortemente impactado por ajustes contábeis, a Usiminas demonstra capacidade de adaptação e gestão eficiente, sustentando margens positivas em meio à crise global do aço.
O prejuízo de R$ 3,5 bilhões reflete, sobretudo, uma reavaliação prudente de ativos e créditos fiscais, e não uma deterioração estrutural da operação.
Com o Ebitda em alta, geração de caixa positiva e expansão da área de mineração, a companhia mantém fundamentos sólidos para retomar a lucratividade nos próximos trimestres.






