Vendas de tratores crescem 27,5% em setembro e indicam otimismo no agronegócio brasileiro
As vendas de tratores no Brasil registraram um forte crescimento em setembro de 2025, consolidando um dos melhores resultados do ano para o setor de máquinas agrícolas. De acordo com dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o mercado contabilizou 6 mil unidades vendidas, representando alta de 27,5% em relação a setembro de 2024 e crescimento de 15,7% sobre agosto.
O desempenho reflete uma recuperação gradual da demanda por equipamentos agrícolas, impulsionada pela expectativa de uma safra recorde e pela retomada de investimentos em modernização de maquinário no campo.
Recuperação consistente no setor de máquinas agrícolas
No acumulado de janeiro a setembro de 2025, o setor registrou alta de 19,6% nas vendas, totalizando 39,9 mil tratores comercializados. O resultado confirma o avanço do agronegócio brasileiro, mesmo diante de desafios como juros elevados e endividamento dos produtores rurais.
Segundo a Fenabrave, o crescimento nas vendas de tratores tem relação direta com o otimismo dos revendedores e o movimento de reposição de estoques em antecipação à próxima safra de grãos. As concessionárias de máquinas agrícolas relatam aumento expressivo na procura por modelos de média e alta potência, especialmente voltados à soja e ao milho — culturas que devem registrar bons resultados na temporada 2025/26.
Fatores que impulsionaram as vendas de tratores em setembro
Três fatores principais explicam o bom desempenho do setor em setembro:
-
Expectativa de safra robusta: o clima favorável e o avanço do plantio estimularam produtores a investir em maquinário para melhorar produtividade e reduzir custos operacionais.
-
Programas de financiamento agrícola: linhas de crédito como o Plano Safra 2025/26 e incentivos do BNDES e Banco do Brasil ajudaram a destravar parte da demanda reprimida.
-
Renovação tecnológica: produtores estão substituindo equipamentos antigos por tratores com melhor desempenho, menor consumo de combustível e integração com tecnologias de agricultura de precisão.
Esses fatores combinados fizeram o mês de setembro marcar um dos maiores volumes de vendas de tratores desde 2018, consolidando o segmento como um dos pilares da economia agrícola brasileira.
O papel da Fenabrave e o panorama do setor
A Fenabrave é responsável por compilar as informações de vendas de veículos e máquinas no país, incluindo o setor agrícola. Diferentemente do mercado de automóveis, cujas vendas podem ser acompanhadas em tempo real via sistema de licenciamento, os dados de tratores dependem de levantamento direto junto aos fabricantes.
Por isso, as estatísticas apresentam defasagem de um mês em relação ao balanço de automóveis, mas ainda assim servem como termômetro confiável da atividade econômica no campo.
O presidente da Fenabrave, Arcelio Júnior, ressaltou que o crescimento recente indica uma reação positiva do mercado rural, embora ainda haja preocupação com o nível de endividamento e com as altas taxas de juros.
A combinação de demanda sólida e restrições de crédito cria um cenário desafiador: o produtor precisa investir em tecnologia para aumentar produtividade, mas enfrenta custos financeiros elevados para financiar novas máquinas.
Cenário econômico: juros, crédito e rentabilidade
A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas, impacta diretamente o custo de financiamento rural. Com juros altos, muitos produtores adiaram compras nos primeiros meses de 2025, mas agora começam a retomar investimentos com base em previsões otimistas para a safra 2026.
Outro ponto relevante é o nível de endividamento do agronegócio. Segundo levantamento do Banco Central, a dívida total dos produtores rurais ultrapassou R$ 600 bilhões em 2025, o que limita o acesso a crédito privado.
Apesar disso, o BNdeS, Finep e bancos regionais vêm ampliando linhas específicas para renovação de frotas agrícolas, com taxas mais atrativas para tratores de menor potência e para pequenos e médios produtores.
Modernização tecnológica: a nova fronteira do campo
As vendas de tratores não refletem apenas o aumento de volume, mas uma mudança de perfil do consumidor rural. Cresce a procura por tratores inteligentes, equipados com sensores, GPS, telemetria e sistemas de gestão integrados à chamada agricultura 4.0.
Essas inovações permitem otimizar o consumo de combustível, reduzir o desperdício de insumos e monitorar em tempo real o desempenho do maquinário.
Fabricantes nacionais e estrangeiros também vêm apostando em versões elétricas e híbridas, alinhadas às metas de sustentabilidade do agronegócio e aos compromissos ambientais de grandes exportadores.
Em paralelo, o avanço da conectividade no campo — com expansão do 5G rural — está impulsionando a integração de dados e a automação das operações agrícolas, tornando o investimento em tratores modernos mais estratégico do que nunca.
Projeções para o último trimestre de 2025
O desempenho expressivo de setembro abre espaço para uma aceleração moderada no fim do ano, segundo projeções do setor. A expectativa é de que as vendas de tratores ultrapassem 50 mil unidades em 2025, caso o ritmo atual se mantenha.
No entanto, o mercado segue atento à política de juros e ao câmbio. Um real valorizado pode reduzir o custo de importação de componentes e máquinas completas, enquanto uma moeda desvalorizada pressiona preços e margens de lucro.
Analistas apontam ainda que o próximo ciclo do Plano Safra será determinante para consolidar a recuperação do setor em 2026. Linhas de crédito mais acessíveis e políticas de incentivo à inovação tecnológica serão cruciais para sustentar o ritmo de crescimento.
Agronegócio segue como motor da economia
O agronegócio representa cerca de 25% do PIB brasileiro e continua sendo o principal motor da economia nacional. O crescimento nas vendas de tratores reforça essa importância, ao indicar que o produtor está disposto a investir, mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador.
O bom desempenho das vendas de máquinas agrícolas também gera efeitos multiplicadores: estimula a indústria metalmecânica, amplia a arrecadação de impostos e movimenta o setor de serviços no interior do país.
A modernização do parque de máquinas é um indicador direto da capacidade produtiva do agronegócio e contribui para manter o Brasil entre os maiores exportadores de alimentos do mundo.
Desafios à frente
Apesar dos números positivos, o mercado de tratores ainda enfrenta obstáculos. Entre os principais desafios estão:
-
Taxas de juros elevadas, que encarecem o crédito rural;
-
Oscilações de preços das commodities agrícolas, que afetam a rentabilidade do produtor;
-
Dependência de importação de peças e componentes, impactada pelo câmbio;
-
Infraestrutura logística deficiente, que aumenta os custos de transporte e distribuição.
Ainda assim, o setor demonstra resiliência e capacidade de adaptação, com investimentos crescentes em inovação, sustentabilidade e eficiência operacional.
Perspectivas para 2026: tecnologia e sustentabilidade
O futuro das vendas de tratores no Brasil passa pela integração tecnológica e sustentabilidade ambiental. O país está entre os cinco maiores mercados globais de máquinas agrícolas e deve continuar crescendo impulsionado por três tendências:
-
Agricultura de precisão: uso de dados e automação para aumentar produtividade;
-
Transição energética: chegada de tratores híbridos e elétricos;
-
Digitalização do crédito rural: financiamentos instantâneos por plataformas digitais.
Essas inovações podem ampliar o acesso de pequenos produtores às novas tecnologias, descentralizando o avanço tecnológico do agronegócio e tornando o campo mais competitivo.
O crescimento de 27,5% nas vendas de tratores em setembro é um sinal de confiança renovada no agronegócio brasileiro. O resultado combina melhor expectativa de safra, avanços tecnológicos e recuperação gradual da demanda, ainda que em meio a um cenário de juros altos e custos financeiros elevados.
A tendência é que o setor siga em expansão moderada até o fim de 2025, impulsionado pela modernização do maquinário agrícola e pelas políticas de incentivo ao crédito rural.
Se o ritmo se mantiver, 2026 pode consolidar uma nova fase de prosperidade para a indústria de máquinas agrícolas no Brasil.






