No cenário da saúde suplementar no Brasil, a judicialização tem se tornado um fenômeno crescente. De acordo com a pesquisa “Raio-X da Saúde Suplementar no Brasil” da Fundação Getulio Vargas (FGV Justiça), divulgada no dia 29 de julho de 2024, apenas 6% dos clientes de planos de saúde acionaram a Justiça contra suas operadoras. Este estudo fornece uma visão detalhada sobre os principais motivos que levam os consumidores a buscar a Justiça e as implicações desta prática para o setor de saúde.
Dados da Pesquisa
A pesquisa foi apresentada por Antonio Saldanha Palheiro, ministro do Superior Tribunal de Justiça e coordenador da linha de pesquisa de Saúde da FGV Justiça, durante um evento no Centro Cultural da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. O estudo foi realizado com uma amostra nacional de dois mil adultos e revelou informações cruciais sobre a percepção e os desafios enfrentados pelos usuários de planos de saúde.
Percepção da Judicialização da Saúde
Uma das descobertas mais significativas da pesquisa é que 78% dos entrevistados não conhecem o termo “judicialização da saúde”. Quando informado sobre o conceito, 63% dos participantes consideraram a judicialização um “instrumento legítimo e eficaz” para garantir os direitos dos usuários dos planos de saúde. No entanto, apenas 6% dos entrevistados afirmaram ter acionado a Justiça contra suas operadoras, embora 26% conheçam alguém que tenha tomado essa medida.
Motivos para Ação Judicial
Os principais motivos que levam os consumidores a recorrer à Justiça contra os planos de saúde foram identificados na pesquisa:
- Negativa de Cobertura Assistencial: Esta é a razão mais citada, representando 65% das ações judiciais. A negativa de cobertura para cirurgias é o item mais recorrente (51%), seguida de perto pela negativa de medicamentos (12%).
- Suspensão de Contratos: Este motivo é responsável por uma parte significativa das ações judiciais, com 59% dos casos relacionados a mudanças nas cláusulas dos contratos. Outros motivos incluem cancelamento do plano sem aviso prévio (19%) e por inadimplência (12%).
- Reajuste de Mensalidades: Questões relacionadas ao reajuste de mensalidades representam 14% das ações judiciais. Esse fator também contribui para o aumento da judicialização, refletindo a insatisfação com as condições financeiras impostas pelas operadoras.
Implicações da Judicialização
A judicialização da saúde no Brasil tem implicações amplas para o setor de saúde suplementar. O ministro Luis Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, destacou que o objetivo da pesquisa é identificar as causas da judicialização excessiva e buscar soluções para melhorar o processo. Ele observa que a judicialização excessiva resulta em custos elevados e ineficiências para todos os envolvidos.
Desafios e Preocupações
A Lei 14.454/2022, que normatizou o caráter exemplificativo do rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), é uma das áreas de preocupação. Essa lei, que foi editada em resposta à decisão da 2ª Seção do STJ sobre o rol da ANS, introduziu incertezas jurídicas e econômicas significativas. A lei permite que o rol da ANS, que define os procedimentos obrigatórios cobertos pelos planos, possa ser adaptado em situações excepcionais. Isso gerou insegurança tanto para consumidores quanto para operadoras, potencialmente impactando milhares de empregos e afetando a estabilidade do setor.
Papel da ANS e Impactos no Setor
Os integrantes da ANS são especialistas com conhecimento técnico sobre a saúde suplementar, e suas decisões sobre o rol de procedimentos são fundamentais para a regulação do setor. No entanto, a recente legislação trouxe desafios adicionais ao estabelecer que o rol não é mais taxativo. Essa mudança pode complicar a situação para os consumidores e empresas, exacerbando a insegurança jurídica e os conflitos relacionados aos direitos de cobertura dos planos de saúde.
A pesquisa “Raio-X da Saúde Suplementar no Brasil” revela que, apesar de uma pequena porcentagem de clientes realmente acionar a Justiça, o impacto da judicialização no setor é significativo. A negativa de cobertura assistencial, a suspensão de contratos e o reajuste de mensalidades são os principais motivos que levam os consumidores a buscar soluções judiciais. A necessidade de reformas e de maior clareza nas normas que regulam os planos de saúde é evidente para melhorar o sistema e reduzir a judicialização.
A compreensão dos motivos que levam à judicialização e as implicações das recentes mudanças legislativas são essenciais para enfrentar os desafios do setor e garantir que os direitos dos usuários dos planos de saúde sejam respeitados de maneira justa e eficaz.