O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), continua evitando acelerar a tramitação de projetos que limitam o poder de atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). Em um cenário político complexo, onde a relação entre os Poderes Legislativo e Judiciário está sob pressão, as propostas, que incluem emendas à Constituição (PECs) e projetos de lei, colocam em risco a independência do Supremo e levantam preocupações em diversos setores. Entretanto, Lira, que ainda está em sua base eleitoral, Alagoas, não demonstrou intenção de apressar o processo, mesmo após a aprovação das medidas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A Relação entre Legislativo e Judiciário: O Papel de Lira
As propostas em questão representam uma tentativa do Congresso de exercer maior controle sobre o STF. Entre as medidas mais polêmicas estão PECs que propõem limitar as decisões monocráticas dos ministros e dar ao Congresso o poder de anular julgamentos do STF. Ambas foram aprovadas pela CCJ com apoio significativo de parlamentares do Centrão. No entanto, até o momento, Arthur Lira não deu sinais claros sobre quando ou se incentivará uma votação acelerada dessas pautas.
Lira expressou, segundo fontes próximas, preocupações com a proposta que permitiria ao Congresso anular decisões do STF, mas segue sem uma posição pública mais clara sobre o restante das PECs. Essa postura reflete o cálculo político do presidente da Câmara, que parece estar mais focado em equilibrar as tensões entre os poderes do que em inflamar ainda mais a relação entre Legislativo e Judiciário.
Os Projetos e PECs em Questão
Duas PECs e dois projetos de lei estão no centro da discussão. A primeira PEC limita o poder de ministros do STF de tomar decisões monocráticas, ou seja, sem o aval de outros membros da Corte. Essa medida é defendida por muitos parlamentares, incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Já a segunda PEC, ainda mais polêmica, propõe que o Congresso tenha o poder de sustar decisões do STF. Essa medida, na visão de críticos, ameaça a separação de poderes e coloca em risco a independência do Judiciário.
Além das PECs, os dois projetos de lei que acompanham as propostas visam aumentar as possibilidades de abertura de processos de impeachment contra ministros do STF, uma pauta que ganhou força principalmente entre parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A Retaliação ao STF e o Momento Político
O momento em que essas propostas foram trazidas à tona também não foi aleatório. Quando a deputada Caroline de Toni (PL-SC), presidente da CCJ, colocou os projetos em discussão, o ministro do STF Flávio Dino havia acabado de emitir decisões que travaram emendas ao Orçamento. Esse contexto fez com que muitos interpretassem a ação como uma retaliação direta do Congresso ao Judiciário, acirrando ainda mais o clima político em Brasília.
A explicação dada por aliados de Lira sobre a tramitação das propostas é que elas seguem uma “velocidade política”, ou seja, são usadas como trunfo no embate entre os poderes. Para muitos parlamentares, especialmente aqueles do Centrão, essas medidas são vistas como uma forma de garantir a manutenção de seu poder sobre o repasse de recursos da União, especialmente por meio das polêmicas emendas ao Orçamento.
O Impacto do Calendário Eleitoral
Além da tensão entre os poderes, o calendário eleitoral também influencia diretamente a tramitação das propostas. Com o segundo turno das eleições municipais marcado para 27 de outubro, não há quórum suficiente para votar medidas polêmicas, o que acaba retardando ainda mais o processo.
Além disso, Arthur Lira está de olho na sucessão da presidência da Câmara, que ocorrerá no início de 2025. Ele está buscando garantir apoio de aliados e fortalecer sua posição política, o que significa que qualquer movimento mais agressivo em relação ao STF pode ser arriscado nesse momento. Segundo o deputado Fausto Pinato (PP-SP), as decisões em torno desses projetos estão diretamente relacionadas à disputa pelo comando da Casa.
O Papel do PL e a Influência Bolsonarista
O Partido Liberal (PL), que tem a maior bancada da Câmara, com 92 deputados, está desempenhando um papel central nas negociações. Com um forte apoio de parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro, o PL é um dos motores das pautas que buscam limitar o STF. Estima-se que entre 140 e 150 dos 513 deputados da Câmara apoiem medidas bolsonaristas, o que dá ao partido um peso significativo nas discussões.
No entanto, há uma divisão interna no Congresso, com governistas acreditando que podem barrar as propostas nas comissões especiais e no plenário, se não conseguirem travá-las diretamente na CCJ. Hélder Salomão (PT-ES), um dos articuladores do governo na Câmara, destacou que a agenda do Congresso está bastante ocupada até fevereiro de 2025, e que a sucessão de Lira na presidência pode complicar ainda mais a tramitação dessas pautas.
O Jogo Político em Torno da Presidência da Câmara
Outro fator crucial que impacta a tramitação dessas propostas é a própria disputa pelo comando da Câmara. Elmar Nascimento (União-BA), líder do União na Casa e candidato à presidência, já sinalizou apoio ao governo em algumas votações recentes, sugerindo que pode haver uma aliança futura. No entanto, Arthur Lira, que inicialmente o apoiava, acabou mudando de posição e passou a dar suporte a Hugo Motta (Republicanos-PB), que é visto como uma figura mais consensual entre os parlamentares.
Essa disputa pelo poder dentro da Câmara está diretamente relacionada à maneira como Lira conduz a agenda legislativa, especialmente em relação ao STF. Como ele está em fim de mandato, suas decisões nos próximos meses serão cruciais para definir quem terá o apoio necessário para assumir a presidência da Casa em 2025.
O Futuro das Propostas e o Equilíbrio de Poderes
Com um cenário político incerto e uma relação cada vez mais tensa entre Legislativo e Judiciário, o futuro das propostas que limitam o STF é imprevisível. Arthur Lira continua adotando uma postura cautelosa, sem pressa para acelerar a tramitação das PECs e projetos de lei que podem alterar significativamente a dinâmica entre os poderes.
A pressão sobre o governo para barrar essas propostas cresce a cada dia, especialmente com a proximidade da sucessão de Lira e o calendário eleitoral. Até lá, a negociação entre os líderes partidários e as movimentações internas do Congresso continuarão a definir o ritmo dessa tramitação, que, ao que tudo indica, ainda tem um longo caminho pela frente.