Impacto da Política de Trump na Agropecuária dos EUA e no Comércio Global
A presidência de Donald Trump trouxe mudanças significativas para a agropecuária americana, com efeitos que ecoaram pelo comércio global. Políticas tarifárias agressivas, superoferta de grãos, custos elevados e problemas sanitários configuram um cenário desafiador para o setor agrícola nos Estados Unidos. Esses fatores, somados a uma postura negacionista em relação às mudanças climáticas e à redução de investimentos em programas de apoio ao campo, geraram implicações profundas para o país e abriram oportunidades para competidores como o Brasil.
O Agronegócio dos EUA Sob Pressão
Durante o governo de Trump, o agronegócio americano enfrentou um déficit comercial inédito. Pela primeira vez em seis décadas, os Estados Unidos registraram um saldo negativo nas exportações agrícolas. Entre 2018 e 2019, a guerra comercial com a China gerou uma perda de US$ 27 bilhões, sendo que 71% dessas perdas ocorreram na exportação de soja e 6% no sorgo. O saldo foi devastador, com exportações para a China caindo de US$ 22 bilhões anuais antes do governo Trump para apenas US$ 10 bilhões em seu auge.
Esse quadro de retração não apenas impactou a renda dos produtores, como também refletiu no aumento das importações. Atualmente, 27% do consumo interno de alimentos nos EUA provém do exterior, contra 19% registrados há uma década. A previsão é de que, em 2025, as importações atinjam US$ 216 bilhões, consolidando um déficit de US$ 46 bilhões.
A Questão Tarifária e Seus Desdobramentos
A principal promessa de Trump foi a imposição de tarifas de até 60% sobre produtos de determinados países, visando proteger a produção doméstica. Contudo, essas medidas tiveram efeitos colaterais severos. Ao tentar pressionar a China, o governo americano criou barreiras que, ao invés de beneficiar o setor, dificultaram as exportações e elevaram os preços internos.
A elevação de tarifas também impactou a pecuária, setor que já enfrentava problemas sanitários graves. Desde 2022, a gripe aviária afetou 136 milhões de aves em 51 estados americanos, enquanto surtos da doença em gado se espalharam por 17 estados, comprometendo 930 focos produtivos. A ausência de políticas sanitárias consistentes tornou o mercado interno mais vulnerável e pressionou ainda mais os custos de produção.
Mudanças Climáticas e a Negação de Trump
Um dos pontos mais críticos do governo Trump foi a negação dos efeitos das mudanças climáticas. Essa postura comprometeu programas de conservação de terras e seguros rurais, essenciais para enfrentar as incertezas climáticas crescentes. A retirada de incentivos dificultou novos investimentos e prejudicou produtores que dependiam de apoio governamental para expandir suas operações de forma sustentável.
As mudanças climáticas também impactaram diretamente a agricultura americana, aumentando a frequência de eventos extremos como secas e enchentes. A falta de ações para mitigar esses impactos deixou os agricultores em uma situação de vulnerabilidade, reduzindo a competitividade no mercado global.
Imigração e a Escassez de Mão de Obra
Outro desafio significativo para a agropecuária americana foi a política de imigração restritiva de Trump. A Califórnia, estado líder em exportações agrícolas, depende fortemente da mão de obra imigrante. Com a redução do número de trabalhadores disponíveis, a produção foi prejudicada, e os custos de operação aumentaram. Sem substitutos adequados, a eficiência do setor diminuiu, impactando diretamente a capacidade de atender às demandas do mercado interno e externo.
Como o Brasil se Beneficiou da Crise Americana
Enquanto o agronegócio americano enfrentava dificuldades, o Brasil se destacou como um importante fornecedor no mercado global. Entre 2017 e 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos atingiram um recorde de US$ 7,3 bilhões, com destaque para produtos como café, carnes, celulose e madeira. Esses itens são essenciais para os americanos, que não possuem fornecedores alternativos com a mesma capacidade de produção.
A guerra comercial entre EUA e China também beneficiou o Brasil. Desde 2017, os chineses têm diversificado seus fornecedores, reduzindo a dependência dos Estados Unidos. Em 2023, as exportações agrícolas americanas para a China somaram US$ 34 bilhões, mas os chineses continuam a buscar alternativas mais confiáveis, abrindo espaço para os produtores brasileiros.
Oportunidades e Desafios para o Brasil no Mercado Global
O Brasil se posiciona como um dos maiores beneficiários das políticas comerciais protecionistas dos Estados Unidos. Com uma produção agrícola diversificada e em constante expansão, o país tem consolidado sua presença nos mercados mais exigentes, incluindo a China e os próprios Estados Unidos.
No entanto, o cenário não é isento de desafios. A necessidade de atender à crescente demanda global exige investimentos em infraestrutura, logística e sustentabilidade. Além disso, o Brasil precisa estar preparado para enfrentar possíveis mudanças na política americana, especialmente se novas administrações adotarem estratégias menos agressivas e retomarem a competitividade no comércio internacional.
A política de Donald Trump teve efeitos profundos na agropecuária dos Estados Unidos, prejudicando a competitividade do setor e abrindo oportunidades para outros players globais, como o Brasil. Enquanto os americanos enfrentam dificuldades internas, o agronegócio brasileiro avança, consolidando sua posição como um dos principais fornecedores mundiais de alimentos e commodities. Com a continuidade de investimentos estratégicos, o Brasil pode se beneficiar ainda mais desse cenário, garantindo crescimento sustentável e fortalecimento de sua economia.