Fitch rebaixa nota de crédito da Braskem (BRKM5) para BB- e mantém observação negativa
A agência de classificação de risco Fitch Ratings anunciou o rebaixamento da nota de crédito global da Braskem (BRKM5) para BB-, mantendo a observação negativa. A decisão reforça as preocupações do mercado quanto à saúde financeira e à capacidade de liquidez da maior petroquímica das Américas em um cenário global desafiador para o setor.
Por volta das 10h30 (horário de Brasília), as ações da Braskem registravam queda de 1,24%, cotadas a R$ 7,97, refletindo a reação imediata dos investidores ao anúncio.
Motivos do rebaixamento da Braskem pela Fitch
Segundo a Fitch, o rebaixamento para BB- está relacionado principalmente:
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Aos desafios enfrentados pela indústria petroquímica mundial, com margens de lucro comprimidas e demanda em queda.
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Ao impacto prolongado de um ciclo de baixa, que pressiona a liquidez e dificulta a geração de caixa.
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À elevação do risco de crédito no setor, o que amplia a percepção negativa de investidores e credores.
A agência também manteve a observação negativa, o que significa que novas revisões para baixo podem ocorrer caso não haja mudanças estruturais no desempenho ou na estratégia da companhia.
Reação e medidas anunciadas pela Braskem
Em comunicado ao mercado, a Braskem reafirmou o compromisso com a saúde financeira, destacando que já adota medidas de resiliência para atenuar os impactos do momento delicado. Entre essas ações, a empresa cita:
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Otimização de processos produtivos.
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Redução de custos e despesas operacionais.
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Adoção de estratégias para fortalecimento da competitividade da indústria química no Brasil.
O cenário da indústria petroquímica
O momento global para o setor é marcado por:
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Demanda enfraquecida – países industrializados enfrentam retração na produção e no consumo, o que reduz pedidos de insumos petroquímicos.
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Pressão sobre margens – a alta dos custos energéticos e a concorrência internacional afetam a rentabilidade.
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Maior risco de crédito – empresas do setor enfrentam maior dificuldade de obter financiamento a custos atrativos.
Esse ambiente exige ajustes estratégicos rápidos e investimentos direcionados à inovação e à eficiência operacional.
Possível mudança de controle na Braskem
Além do impacto da Fitch, outro fator que mantém a Braskem no radar dos investidores é a possível mudança em sua estrutura de controle. Atualmente:
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Petrobras (PETR3; PETR4) detém 47% das ações da petroquímica, com direito de veto e preferência em negociações.
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Novonor (antiga Odebrecht) possui 50,1% do capital.
Os bancos credores da Novonor, que têm ações da Braskem como garantia, retomaram um plano para incluir a gestora IG4 Capital na companhia, após a ausência de avanços nas negociações com o empresário Nelson Tanure.
O papel da IG4 na reestruturação
A IG4 é especializada em turnaround e já conduziu processos de reestruturação relevantes, como na Iguá Saneamento. Segundo apurações de mercado, a proposta formal só será apresentada após 21 de setembro, quando expira a exclusividade dada a Tanure.
Entre as possíveis medidas que a IG4 pode implementar estão:
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Reestruturação de passivos financeiros e ambientais.
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Reforço da governança corporativa.
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Possível adesão ao Novo Mercado da B3.
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Venda de ativos não estratégicos, embora não haja negociação confirmada com a Unipar.
Desafios e perspectivas para a Braskem
A Braskem enfrenta uma combinação de fatores internos e externos que pressionam seu desempenho:
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Cenário macroeconômico instável, com volatilidade cambial e incertezas políticas no Brasil e no exterior.
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Concorrência internacional mais agressiva, especialmente de players asiáticos com custos mais baixos.
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Necessidade de investimentos para manter a competitividade e atender padrões ambientais mais rigorosos.
A retomada de margens dependerá de:
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Recuperação da demanda no mercado interno e externo.
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Redução dos custos energéticos e de matérias-primas.
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Avanços em inovação tecnológica para ganho de eficiência.
Impacto no mercado de capitais
O rebaixamento da nota de crédito para BB- coloca a Braskem mais distante do grau de investimento, aumentando a percepção de risco. Isso pode:
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Elevar o custo de captação de recursos.
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Reduzir o apetite de investidores institucionais.
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Pressionar o preço das ações no curto prazo.
No entanto, caso as medidas de reestruturação e recuperação ganhem tração, há espaço para melhora gradual na confiança do mercado.
O rebaixamento da nota de crédito da Braskem pela Fitch é um alerta para os desafios estruturais que a petroquímica enfrenta. Apesar de manter projetos e estratégias para reforçar a competitividade, a empresa está em um momento decisivo, que pode incluir mudanças relevantes em sua governança e em sua operação.
O cenário ainda é de cautela para investidores, mas também de oportunidade para quem acredita na capacidade de recuperação da companhia no médio e longo prazo.






