A cadeia produtiva do algodão brasileiro está em constante evolução, com esforços para transformar o produto, tradicionalmente uma commodity, em uma marca reconhecida pelo consumidor final. A iniciativa “Sou do Algodão”, liderada pela Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), busca aumentar o consumo interno e consolidar a imagem da fibra no mercado nacional e internacional.
Durante o 14º Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), realizado em Fortaleza, especialistas destacaram a importância de entender o mercado e o consumidor para diferenciar o algodão brasileiro no cenário global. João Branco, ex-CMO do McDonald’s, compartilhou insights sobre como construir uma marca forte, autêntica e próxima do consumidor, citando o exemplo de sucesso do rebranding do McDonald’s no Brasil. Para ele, criar uma conexão emocional com o público é essencial para o sucesso de qualquer produto.
Luis Fernando Samper, especialista em marcas, falou sobre o posicionamento do café colombiano, que se destacou nos anos 60 e hoje é amplamente reconhecido, em parte pela criação das cafeterias Juan Valdez, em resposta à chegada da Starbucks. Ele destacou a importância de agregar valor ao produto e entender as nuances que afetam sua produção e qualidade.
Para Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa, o algodão brasileiro já atingiu um nível de rastreabilidade impressionante, sendo 100% rastreável. No entanto, ela reforçou a necessidade de planejar o futuro da fibra, adicionando mais valor ao produto e consolidando a posição do Brasil como um dos maiores exportadores mundiais de algodão. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 2,7 milhões de toneladas de algodão por safra e consome internamente cerca de 700 mil toneladas, com a meta de elevar o consumo nacional para 1 milhão de toneladas.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e a Abrapa assinaram um compromisso conjunto para elevar o setor a um novo patamar. Segundo Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa, o Brasil já avançou significativamente nas últimas décadas, saindo de importador de algodão para ser um dos maiores exportadores globais. A meta para 2030 é consolidar o país como o melhor e maior fornecedor de algodão do mundo, aumentando tanto a produção quanto a qualidade do produto.
Fernando Pimentel, da ABIT, ressaltou a importância de coordenar esforços entre os diferentes setores da cadeia produtiva para acelerar a execução de planos estratégicos. A presença de grandes nomes da indústria têxtil e do varejo, como Fábio Adegas, diretor-presidente da Lojas Renner, e Marcos De Marchi, presidente da Vicunha Têxtil, reforça a importância de parcerias sólidas para alcançar esses objetivos.
Desafios e Oportunidades para o Algodão Brasileiro
O setor algodoeiro brasileiro enfrenta desafios e oportunidades significativas nos próximos anos. A sustentabilidade e a rastreabilidade são dois dos principais pilares que podem diferenciar o algodão brasileiro no mercado global. A Abrapa já vem adotando práticas avançadas de monitoramento e rastreabilidade, garantindo que o produto brasileiro atenda aos padrões internacionais de qualidade e sustentabilidade.
Além disso, o avanço da tecnologia na produção de algodão permite um monitoramento mais eficaz de todas as etapas, desde a plantação até a colheita, resultando em uma fibra de qualidade superior. A adaptação às novas demandas do mercado, como a preferência por produtos sustentáveis e rastreáveis, é um dos caminhos que o setor deve seguir para continuar crescendo e se consolidando como um dos principais produtores globais.
Outra oportunidade está na ampliação do consumo interno de algodão. Embora o Brasil seja um dos maiores exportadores de algodão, o consumo interno ainda pode ser significativamente ampliado. Com a meta de chegar a 1 milhão de toneladas consumidas internamente, o mercado nacional tem potencial para crescer, especialmente se o algodão brasileiro for posicionado como um produto de qualidade superior e sustentável.
O Papel do “Sou do Algodão”
O movimento “Sou do Algodão” desempenha um papel fundamental na conscientização do consumidor sobre a importância de escolher produtos que utilizam algodão nacional. Além de promover o uso do algodão em grandes redes de varejo e marcas de moda, o programa busca educar o consumidor sobre a rastreabilidade e os benefícios do algodão produzido no Brasil.
Esse tipo de iniciativa é crucial para aproximar o consumidor final do produto e criar uma conexão emocional com a marca algodão. Assim como no exemplo do café colombiano, citado por Luis Fernando Samper, o Brasil tem o potencial de transformar o algodão em uma marca reconhecida e valorizada globalmente, mas isso exige um trabalho conjunto de toda a cadeia produtiva e investimentos contínuos em marketing e posicionamento de marca.
O futuro do algodão brasileiro é promissor, mas também desafiador. A transformação da fibra em uma marca forte e reconhecida pelo consumidor final depende da sinergia entre produtores, indústria têxtil e varejo, além de investimentos em marketing e inovação. Com o avanço da rastreabilidade e o compromisso com a sustentabilidade, o Brasil tem a oportunidade de se consolidar como o maior e melhor fornecedor de algodão do mundo até 2030, tanto no mercado interno quanto no externo.