Anatel prepara plano emergencial para garantir a continuidade dos serviços da Oi até 2028
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) trabalha em um plano emergencial para assegurar a continuidade dos serviços da Oi, mesmo diante do processo de intervenção judicial em andamento. A agência federal garantiu que os principais serviços oferecidos pela operadora — como os números de emergência e a telefonia fixa em localidades remotas — estão protegidos até 2028, graças a um fundo de R$ 450 milhões reservado especificamente para essa finalidade.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, afirmou que as tratativas com o interventor judicial da companhia seguem em ritmo acelerado. A agência busca uma solução que garanta a estabilidade da infraestrutura de telecomunicações, preservando os direitos dos consumidores e a integridade do sistema de comunicação nacional.
Foco em serviços essenciais e impacto social
De acordo com Baigorri, os esforços da Anatel concentram-se em três frentes prioritárias de alto impacto social. A primeira envolve os serviços tridígitos, como os números de emergência 190 (Polícia), 192 (SAMU) e 193 (Bombeiros), indispensáveis à segurança pública e à saúde.
A segunda prioridade é a interconexão entre operadoras, que garante a comunicação entre diferentes redes de telefonia e internet. Por fim, a terceira abrange o Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), especialmente em cerca de 7 mil localidades onde a Oi é a única prestadora.
Esses serviços estão entre os pilares mais sensíveis do sistema de telecomunicações brasileiro e representam o principal foco da agência na manutenção da continuidade dos serviços da Oi.
Fundo de R$ 450 milhões garante segurança até 2028
Para assegurar a manutenção desses serviços, a Anatel constituiu uma conta vinculada no valor de R$ 450 milhões. Os recursos poderão ser utilizados caso a Oi deixe de cumprir suas obrigações contratuais, permitindo à agência contratar outra prestadora e evitar a interrupção do atendimento à população.
Segundo o presidente da Anatel, o objetivo é prevenir qualquer risco de descontinuidade. Se houver descumprimento, o valor depositado será acionado para garantir a execução imediata dos serviços, evitando prejuízos à segurança pública, à saúde e à conectividade de regiões dependentes da operadora.
Essa reserva financeira é considerada uma salvaguarda estratégica dentro do plano de contingência da Anatel, que busca preservar a continuidade dos serviços da Oi sem afetar a estabilidade do setor.
Plano de transição e busca por nova prestadora
Com a situação financeira da Oi ainda em análise judicial, a Anatel iniciou conversas com outras operadoras do mercado para identificar possíveis candidatas a assumir as responsabilidades da companhia.
A agência avalia que, em caso de incapacidade operacional da Oi, será necessária uma transição controlada, com transferência das obrigações para outra prestadora. Essa medida evitaria um “apagão” de comunicações em localidades que dependem exclusivamente da operadora.
Baigorri, no entanto, reconhece que o prazo de 30 dias definido pela Justiça do Rio de Janeiro para apresentar um plano de transição é apertado. Segundo ele, a complexidade do cenário técnico e regulatório pode exigir uma reavaliação desse cronograma. A prioridade, garante o dirigente, é preservar a continuidade dos serviços da Oi sem comprometer a segurança e a qualidade das comunicações.
Possível papel da V.tal e impasses regulatórios
Uma das questões em debate é o eventual envolvimento da V.tal, empresa de infraestrutura de fibra óptica que já foi controlada pela Oi e hoje pertence ao BTG Pactual. Apesar de sua estrutura tecnológica avançada, a V.tal não tem obrigação automática de assumir as responsabilidades da Oi, segundo os termos da solução consensual vigente.
A Anatel estuda juridicamente se seria possível incluir a empresa em um plano emergencial de cooperação, especialmente em áreas de transporte de dados e backbone de rede. No entanto, essa hipótese ainda está em análise e dependerá de ajustes contratuais e da viabilidade técnica.
Risco de apagão e desafios técnicos
A eventual saída da Oi do mercado de serviços essenciais representa um risco significativo para o sistema nacional de telecomunicações. Em muitas localidades, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, a empresa é a única responsável por manter a conectividade básica — incluindo telefonia fixa e interconexão com outras operadoras.
A descontinuidade desses serviços poderia afetar números de emergência, comunicações entre órgãos públicos e até a operação de sistemas críticos, como o Cindacta, que coordena a aviação civil e militar no país. Por isso, a Anatel mantém diálogo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA) para garantir a estabilidade da rede de dados usada no sistema.
A continuidade dos serviços da Oi é vista como essencial para a segurança pública, o funcionamento de hospitais e a comunicação entre comunidades isoladas.
Crise da Oi e o cenário judicial
A Oi enfrenta sua segunda recuperação judicial após uma década de turbulência financeira e venda de ativos estratégicos. A empresa já se desfez de sua operação móvel — vendida para TIM, Claro e Vivo — e de sua rede de fibra óptica, que se transformou na V.tal.
O foco atual da companhia está na prestação de serviços fixos e de infraestrutura legada, muitos deles regidos por contratos públicos de concessão. Em setembro de 2025, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou uma intervenção judicial para evitar colapso na operação e assegurar a continuidade dos serviços da Oi.
A intervenção trouxe uma nova estrutura de governança e o acompanhamento direto de um interventor designado pela Justiça, em parceria com a Anatel. O objetivo é garantir que a empresa mantenha suas funções básicas, mesmo diante das restrições financeiras e operacionais.
Debate sobre o papel do Estado e o futuro da concessão
A crise da Oi reacendeu o debate sobre o modelo de concessão no setor de telecomunicações. Especialistas apontam que a atual legislação, criada em um contexto de telefonia fixa predominante, não reflete a realidade digital e a convergência tecnológica atual.
A Anatel defende uma transição gradual para um modelo mais flexível, que permita às operadoras investir em infraestrutura moderna e serviços digitais sem o peso das obrigações históricas.
Enquanto isso, o foco imediato da agência continua sendo a continuidade dos serviços da Oi, considerada uma missão de interesse público nacional.
Caminhos possíveis para o futuro
A Anatel analisa três alternativas principais para garantir a estabilidade do sistema:
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Substituição por nova operadora – Seleção de uma empresa que assuma integralmente as obrigações da Oi, utilizando os R$ 450 milhões do fundo como garantia financeira.
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Extensão da atuação da Oi sob supervisão direta – Manutenção dos serviços pela própria Oi, sob vigilância da Anatel e do interventor judicial.
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Modelo híbrido ou regionalizado – Distribuição das operações entre diferentes prestadoras, conforme o tipo de serviço e a região, reduzindo riscos de concentração.
Cada uma dessas opções exige negociações complexas, análises jurídicas e garantias de que o consumidor não será prejudicado.
Compromisso com a população e segurança nacional
A continuidade dos serviços da Oi não se limita a uma questão empresarial. Trata-se de um tema que envolve segurança nacional, saúde pública e a comunicação de milhões de brasileiros.
Por isso, a Anatel reforça que seu papel é assegurar que, independentemente da situação financeira da operadora, os serviços essenciais seguirão disponíveis e operando normalmente até, pelo menos, 2028.
O desafio agora é técnico, jurídico e político: encontrar o equilíbrio entre a preservação da infraestrutura e a sustentabilidade do sistema.






