A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) está no centro de um processo judicial significativo, iniciado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Zambelli, junto com o hacker Walter Delgatti Neto, é acusada de envolvimento em uma invasão a sistemas do Poder Judiciário, incluindo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O Caso: Invasão e Manipulação de Dados Judiciais
A invasão, ocorrida entre agosto de 2022 e janeiro de 2023, teria sido comandada por Carla Zambelli e executada por Walter Delgatti. De acordo com a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli atuou diretamente na organização da invasão, com o objetivo de alterar informações oficiais em benefício próprio e com motivações políticas.
Durante as invasões, Delgatti entrou de forma irregular em seis sistemas diferentes do Judiciário em 13 ocasiões distintas. Ele teria inserido 16 documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, além de ordens para quebra de sigilo bancário e bloqueio de bens do ministro. Essas ações tinham o objetivo de prejudicar a administração do Judiciário e abalar a credibilidade das instituições brasileiras.
Depoimentos Iniciais e Lista de Testemunhas
Nesta primeira etapa do julgamento, seis depoentes foram chamados a depor. A lista inclui:
- Renan Cesar Silva Goulart: Ex-funcionário do deputado estadual Bruno Zambelli, irmão de Carla Zambelli.
- Thiago Eliezer Martins dos Santos: Já condenado por sua participação no caso “Vaza-Jato”, quando Delgatti invadiu celulares de diversas autoridades brasileiras.
- Jean Hernan Guimarães Vilela: Assessor de Carla Zambelli.
- Rosfran Lins Borges: Servidor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
- Cristiane de Brum Nunes Marim e Luan Rocha Brito: Ambos ainda não amplamente conhecidos no contexto do caso, mas que possuem relevância nas investigações em andamento.
Esses depoimentos são fundamentais para o avanço do processo, pois ajudarão a esclarecer o nível de envolvimento de cada um dos réus e fornecerão uma visão mais detalhada das operações realizadas por Delgatti. Walter Delgatti deve ser interrogado na próxima quarta-feira (25), enquanto Carla Zambelli será ouvida ao final do processo, em data ainda a ser confirmada.
As Alegações das Defesas
As defesas de Zambelli e Delgatti apresentam estratégias diferentes. A deputada Carla Zambelli, por meio de seus advogados, nega qualquer envolvimento em atividades ilícitas e reitera sua inocência. Em nota divulgada quando a denúncia foi formalmente recebida pelo STF, a defesa afirmou que “a deputada não praticou qualquer ilicitude e confia no reconhecimento de sua inocência, pois a investigação criminal não encontrou elementos que comprovem sua participação nos atos praticados.”
Por outro lado, a defesa de Walter Delgatti adota uma postura de confissão. Os advogados do hacker afirmam que ele é réu confesso no caso da invasão aos sistemas do CNJ, o que confirma a sua responsabilidade nos atos. A defesa também destaca que Delgatti não negou a autoria dos ataques e que ele agiu sob comando de terceiros.
O Papel de Delgatti no Caso e o Histórico da “Vaza-Jato”
Walter Delgatti Neto ganhou notoriedade em 2019 por ser o responsável pela invasão de celulares de diversas autoridades brasileiras, no episódio que ficou conhecido como “Vaza-Jato”. Na ocasião, Delgatti expôs diálogos comprometedores entre procuradores da Lava Jato e o então juiz federal Sérgio Moro, levantando questionamentos sobre a imparcialidade da operação.
O hacker foi condenado por esses crimes e, desde então, tem sido figura central em diversas investigações envolvendo a violação de sistemas e dados confidenciais. No caso atual, sua confissão reforça a tese de que ele atuou como operador técnico da invasão, enquanto Carla Zambelli teria sido a mentora intelectual da operação.
As Consequências Políticas e Jurídicas para Zambelli
Carla Zambelli, uma das figuras mais conhecidas do cenário político brasileiro, especialmente entre os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, enfrenta um processo que pode abalar sua carreira política. Se for condenada pelo STF, Zambelli pode enfrentar não apenas consequências penais, mas também a perda de seu mandato e a inelegibilidade por um período significativo, o que limitaria suas pretensões futuras.
O processo ocorre em um momento delicado do cenário político brasileiro, onde a confiança nas instituições é essencial para a estabilidade democrática. As acusações contra Zambelli, se confirmadas, podem ter um impacto direto em sua base de apoio, que é majoritariamente alinhada com o discurso de combate à corrupção e à defesa da moralidade no serviço público.
O Futuro do Caso e as Próximas Etapas
Com os depoimentos das testemunhas e dos réus, o STF avançará na fase de instrução do processo, momento em que as provas serão analisadas detalhadamente. Essa etapa é crucial para que o tribunal decida se Carla Zambelli e Walter Delgatti serão condenados ou absolvidos das acusações.
A expectativa é que o julgamento finalize até o final do ano, dada a complexidade do caso e o volume de provas a serem analisadas. Caso sejam condenados, as penas podem variar de acordo com o nível de envolvimento de cada um. Para Delgatti, que já é réu confesso, as chances de absolvição são mínimas. Zambelli, por outro lado, dependerá da capacidade de sua defesa em desvinculá-la das ações do hacker.
O desfecho do caso pode definir os rumos da carreira política de Carla Zambelli e reforçar a mensagem de que o uso de ferramentas digitais para adulterar dados oficiais será severamente punido pela Justiça brasileira. Além disso, o julgamento também reforça o papel do STF na manutenção da credibilidade das instituições, especialmente em tempos de polarização política.
O processo que envolve Carla Zambelli e Walter Delgatti é mais um capítulo na crescente utilização de crimes cibernéticos para atingir fins políticos no Brasil. A invasão a sistemas do Judiciário representa uma ameaça séria à integridade das instituições democráticas, e a maneira como o caso será julgado pelo STF terá implicações profundas para o futuro da política brasileira.
Carla Zambelli, uma das vozes mais proeminentes da direita conservadora no país, está em uma posição vulnerável. Se for condenada, sua trajetória política pode sofrer um revés irreparável. Já Walter Delgatti, com seu histórico de crimes digitais, reforça a imagem de um hacker disposto a atuar a serviço de figuras políticas em troca de benefícios, mas que agora enfrenta as consequências legais de suas ações.
A sociedade brasileira acompanha atentamente o desenrolar do caso, que vai além das figuras envolvidas e coloca em xeque a segurança dos sistemas de informação do país, assim como a capacidade das autoridades de protegerem a integridade do processo judicial.