Novas regras da CNH entram em vigor e permitem tirar carteira sem aulas em autoescola
A mudança mais profunda das últimas décadas na formação de motoristas brasileiros foi oficializada pelo Conselho Nacional de Trânsito. A nova regulamentação transforma completamente o processo para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação e inaugura uma fase de flexibilização que reduz custos, burocracia e altera a relação dos brasileiros com o trânsito. A partir da publicação da norma, candidatos poderão iniciar o processo da primeira habilitação sem a obrigação de frequentar autoescolas, acompanhando um modelo que vinha sendo discutido desde o início do ano e que agora se consolida como política pública nacional.
A essência da resolução está na criação de um caminho mais acessível para quem pretende se habilitar pela primeira vez. O texto extingue a obrigação das aulas teóricas e práticas em centros de formação de condutores, reduz a carga horária mínima das duas etapas, institui a figura do instrutor autônomo e elimina o prazo limite para conclusão do processo. A decisão repercute diretamente no cotidiano de milhões de brasileiros, especialmente aqueles que desistiram da habilitação por dificuldades financeiras.
Mudanças estruturais para reduzir custos
O ponto central das novas regras é tornar o processo mais acessível. O governo afirma que o objetivo é diminuir o custo e a burocracia da primeira habilitação. Dados do Ministério dos Transportes mostram que cerca de 20 milhões de brasileiros dirigem sem habilitação, e a principal razão para isso é o preço elevado exigido pelas autoescolas. A pesquisa encomendada pela pasta neste ano revelou que um terço da população que não possui CNH nunca buscou regularização justamente pelo custo da formação. O levantamento também apontou que quase metade dos condutores que dirigem irregularmente evitam a regularização pelo mesmo motivo.
Ao permitir que o candidato escolha entre autoescola, instrutor autônomo ou plataforma digital do governo para parte das etapas, o Contran muda a lógica econômica do processo e reduz barreiras que vinham afastando milhões de brasileiros da habilitação. A flexibilização, segundo técnicos da área, não representa relaxamento das exigências, mas adaptação à realidade atual do país.
Aulas teóricas passam a ser flexíveis e sem carga mínima
A partir das novas regras, não existe mais carga horária mínima obrigatória para aulas teóricas. Essa alteração muda completamente a etapa de formação inicial. O conteúdo e as diretrizes continuam sendo definidos pelo Contran, mas a estrutura das aulas passa a ser livre dentro das instituições autorizadas. O candidato poderá assistir às aulas presencialmente, de forma remota, ao vivo ou gravada, e também terá acesso a uma plataforma do governo federal que permitirá o estudo à distância.
O sistema será integrado a autoescolas, escolas públicas de trânsito, entidades especializadas em ensino a distância e todos os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. Para o candidato, essa mudança representa economia de tempo, flexibilidade de horários e redução de custos. Para o sistema, é uma tentativa de padronizar o conteúdo teórico, melhorando o nível de formação sem depender da variação existente entre centros de formação.
Aulas práticas deixam de depender exclusivamente das autoescolas
Outra mudança estrutural está nas aulas práticas. A partir de agora, o candidato poderá realizar as aulas com instrutores autônomos e não precisará utilizar veículos das autoescolas. Isso significa que qualquer condutor que atenda aos requisitos do governo poderá se tornar instrutor credenciado e atender diretamente os candidatos. A carga horária mínima para aulas práticas também foi reduzida drasticamente, passando de 20 horas obrigatórias para apenas 2 horas.
O candidato poderá, ainda, usar seu próprio veículo para as aulas e até mesmo para fazer o exame prático, desde que o carro esteja adaptado às normas de segurança determinadas pelo Código de Trânsito Brasileiro. Essa mudança promete reduzir os custos operacionais, democratizar o acesso à formação e descentralizar o mercado de autoescolas, que durante décadas foi responsável por todo o processo prático.
Instrutores autônomos são formalizados
A criação oficial do instrutor autônomo é uma das grandes novidades da resolução. Até então, toda a atividade de formação prática era concentrada nas autoescolas. Com a mudança, instrutores já cadastrados serão notificados pelo aplicativo da CNH e poderão optar por atuar de forma independente.
Para os novos profissionais, o governo oferecerá cursos gratuitos de formação, com o objetivo de garantir qualidade e segurança na metodologia de ensino. Além disso, entidades credenciadas também poderão oferecer o treinamento. Após concluir o curso, o instrutor precisará solicitar autorização ao órgão executivo de trânsito e será identificado oficialmente pelo aplicativo, garantindo autenticidade e fiscalização.
Para atuar como instrutor autônomo, será necessário ter mais de 21 anos, comprovar ensino médio completo, possuir CNH há pelo menos dois anos na categoria que pretende ensinar e não ter cometido infrações gravíssimas nos últimos 12 meses.
Provas teóricas e práticas permanecem obrigatórias
Apesar da flexibilização no processo formativo, as provas continuam sendo obrigatórias. A avaliação teórica seguirá com questões de múltipla escolha e exigirá aproveitamento mínimo de 20 acertos. As provas poderão ser feitas no formato físico ou eletrônico, com duração mínima de uma hora. Não haverá limite de tentativas.
A prova prática também permanece, mas passa a ser mais flexível. O candidato poderá usar seu próprio veículo, e a avaliação será conduzida por uma comissão com três examinadores, seguindo percurso pré-estabelecido. Assim como na prova teórica, não haverá limite de tentativas, e a segunda tentativa não terá cobrança adicional.
Processo da CNH sem prazo de validade
Uma mudança significativa é o fim do prazo de validade do processo. Até hoje, o processo da primeira habilitação expirava após 12 meses, obrigando candidatos a reiniciar etapas e refazer exames. Com a nova resolução, o processo permanecerá aberto por tempo indeterminado, sendo encerrado apenas em situações específicas previstas na norma.
Para especialistas, essa mudança reduz insegurança jurídica e financeira e resolve um problema antigo que afetava principalmente candidatos de baixa renda, que precisavam interromper o processo por motivos pessoais ou financeiros.
Categorias C, D e E passam por flexibilização
As mudanças também alcançam motoristas profissionais. Os processos de habilitação e mudança para as categorias C, D e E podem ser realizados tanto em autoescolas quanto em outras entidades autorizadas. Essa diversidade amplia o acesso ao processo e facilita a formação de profissionais em um mercado que enfrenta demanda crescente.
Impacto social e expectativa do governo
A decisão do Contran tem impacto social imediato. Ao permitir a CNH sem autoescola, o governo estimula a regularização de milhões de brasileiros que dirigem sem habilitação. A expectativa da pasta é que a flexibilização leve a uma queda expressiva no número de condutores irregulares, melhorando a segurança nas ruas e reduzindo riscos associados à condução sem formação adequada.
As novas regras também dialogam com o mercado de trabalho. A CNH é um requisito cada vez mais comum em vagas de emprego, e o custo elevado sempre foi uma barreira para trabalhadores de baixa renda. Com a simplificação, o governo espera melhorar a empregabilidade e ampliar oportunidades.






