Queda da inflação, do desemprego e expectativa de leve alta no PIB. Os sinais positivos na economia indicam um segundo semestre de céu de brigadeiro para Lula, que já avalia adiar a prometida reforma ministerial que abriria mais espaço ao Centrão em seu governo. Se o fizer, deixará Arthur Lira numa saia justa com lideranças partidárias, que esperavam ação efetiva do presidente da Câmara na conquista de mais espaço de poder na Esplanada, para além dos bilhões liberados pelo Palácio do Planalto nas votações da reforma tributária e do PL do Carf. Oficialmente, ministros do núcleo político do governo devem seguir prometendo cargos nas próximas semanas, a fim de obter a aprovação do arcabouço fiscal, que voltou à Câmara, única pauta que ainda importa efetivamente.
Segundo o Boletim Focus, divulgado há pouco, a estimativa do IPCA para este ano caiu de 4,90% para 4,84%, enquanto a previsão de inflação para 2024 recuou de 3,90% para 3,89%. O Copom deve iniciar o ciclo de cortes na Selic, corroborando a expectativa do mercado e melhorando o ambiente de crédito. Fernando Haddad, inclusive, se reúne hoje com o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e os CEOs do Itaú, Milton Maluhy; do Bradesco, Octávio Lazari; do Santander, Mario Leão, e do BTG, André Esteves — todos defendem a redução da taxa básica de juros. Dias atrás, o IBGE divulgou que o desemprego recuou a 8% no segundo trimestre encerrado em junho, menor patamar em 9 anos. Até o dólar deve ajudar, mantendo trajetória de queda.
O único senão é a situação fiscal, já que o governo encerrou o primeiro semestre com um déficit primário de R$ 42,5 bilhões. Por isso, espera-se que Lira estique ao máximo a corda para a votação do arcabouço que foi modificado no Senado. O presidente da Câmara, que reúne os líderes amanhã, também deve fomentar nos bastidores o PDL para derrubar o decreto de Lula que restringiu acesso a armas — pauta cara à esquerda. Mas a margem de manobra para emparedar o Planalto se reduziu drasticamente, esvaziando o poder de Lira. E Lula ainda tem outra carta na manga: pode antecipar nos bastidores a campanha para a sucessão do comando da Câmara, em 2025, abrindo interlocução direta com integrantes do Centrão e da oposição. A tentativa de atrair o Republicanos para o governo e a promessa de eleger Marcos Pereira resumem a estratégia.