J&F aposta em energia nuclear e amplia presença no setor com a compra da Eletronuclear
A compra da Eletronuclear pela J&F representa um marco na história recente do setor energético brasileiro. O movimento consolida a presença do grupo dos irmãos Wesley e Joesley Batista em um dos segmentos mais estratégicos da economia: a energia nuclear, vital para o futuro da matriz elétrica nacional e para os planos de transição energética global.
O negócio, realizado por meio da Âmbar Energia, subsidiária da J&F, envolve a aquisição de 68% do capital total e 35,3% do capital votante da Eletronuclear, que continua sob controle estatal, por meio da ENBPar, empresa vinculada ao governo federal.
Mais do que uma transação financeira, a compra da Eletronuclear pela J&F é vista por analistas e especialistas como um passo ousado em direção à consolidação de um portfólio diversificado e resiliente de geração elétrica. A entrada da Âmbar nesse setor coloca o grupo como o único player privado com participação direta na energia nuclear brasileira — um mercado até então restrito ao Estado.
A estratégia por trás da compra da Eletronuclear pela J&F
Segundo executivos da Âmbar Energia, o objetivo é ampliar a presença em segmentos com alto potencial de crescimento e estabilidade. A empresa já atua em múltiplas fontes de energia, incluindo hidrelétricas, solares, térmicas a gás natural, biomassa, biogás e biodiesel, totalizando mais de 50 unidades geradoras em operação ou em fase de integração.
Com a compra da Eletronuclear pela J&F, o grupo entra em uma nova era, marcada pela busca por segurança energética, previsibilidade de receitas e diversificação de matriz. A decisão acompanha uma tendência global: o retorno da energia nuclear ao centro das discussões sobre sustentabilidade e descarbonização, especialmente em meio ao avanço da inteligência artificial e da digitalização, que ampliam a demanda por fontes estáveis e contínuas de energia.
Além disso, a aquisição fortalece a posição da Âmbar como uma das companhias mais relevantes do setor elétrico privado no Brasil, expandindo seu alcance em um segmento que movimenta bilhões e exige alto padrão técnico e regulatório.
O papel da Eletronuclear no sistema elétrico brasileiro
A Eletronuclear é responsável pela operação e manutenção das usinas Angra 1 e Angra 2, ambas localizadas no município de Angra dos Reis (RJ). Juntas, elas somam quase 2.000 megawatts (MW) de potência instalada — energia suficiente para abastecer milhões de residências.
Além disso, a empresa conduz o projeto de Angra 3, com capacidade planejada de 1.405 MW, que deve ampliar consideravelmente o fornecimento de energia firme para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
A compra pela J&F confere à Âmbar Energia uma fatia estratégica da infraestrutura nuclear brasileira, que possui contratos de longo prazo garantidos até 2044 (Angra 1) e 2040 (Angra 2). Isso significa receitas previsíveis e fluxo estável de caixa, mesmo em períodos de volatilidade do mercado elétrico.
De acordo com dados recentes, a Eletronuclear registrou receita líquida de R$ 4,7 bilhões em 2024 e lucro líquido de R$ 545 milhões, evidenciando o potencial de rentabilidade do ativo.
Como fica a Eletrobras com a venda
Para a Eletrobras (ELET3), o negócio é igualmente positivo. Ao vender sua participação na Eletronuclear, a companhia reduz riscos financeiros e operacionais associados ao projeto de Angra 3 — um empreendimento de alto custo e longa maturação, que enfrentou diversas paralisações ao longo dos anos.
A transação foi estruturada no formato de “porteira fechada”, o que significa que a Eletrobras não terá mais obrigações futuras relacionadas ao ativo e que todas as responsabilidades anteriores — incluindo dívidas e garantias — passam a ser assumidas pela compradora.
Com isso, a estatal se livra de obrigações estimadas em mais de R$ 9 bilhões, entre debêntures e financiamentos junto ao BNDES e à Caixa Econômica Federal.
Ainda que o preço de venda (R$ 535 milhões) seja inferior ao valor contábil do ativo (cerca de R$ 7,5 bilhões), analistas do mercado financeiro destacam que o impacto líquido é positivo, pois elimina um dos últimos grandes riscos da tese de investimento da empresa privatizada.
Para investidores, a operação reforça a percepção de que a Eletrobras caminha para um perfil mais enxuto, voltado a negócios rentáveis e menos expostos a passivos históricos.
O avanço da J&F no setor energético
O conglomerado J&F Investimentos tem expandido sua presença em diferentes ramos da economia brasileira. Originalmente conhecido pela atuação no setor de alimentos e proteína animal, por meio da JBS, o grupo vem ampliando sua atuação em segmentos estratégicos, como energia, papel e celulose, mineração e finanças.
A Âmbar Energia é hoje uma das principais plataformas desse novo ciclo de expansão. Com a compra da Eletronuclear pela J&F, a companhia reforça sua estratégia de longo prazo baseada em energia limpa, previsibilidade de caixa e inovação tecnológica.
O CEO da Âmbar Energia, Marcelo Zanatta, destacou que o avanço tecnológico e o crescimento da demanda global por energia segura e sustentável tornam a energia nuclear uma peça-chave da matriz mundial. Ele enfatizou que a Âmbar está preparada para contribuir com a transição energética, integrando inovação e estabilidade em seus projetos.
Energia nuclear: um ativo estratégico no cenário global
A energia nuclear vive um novo momento no mundo. Após décadas de estagnação, países como França, Estados Unidos, China, Canadá e Reino Unido estão retomando investimentos no setor, impulsionados pela urgência de reduzir emissões e garantir fornecimento contínuo de eletricidade.
No contexto brasileiro, a compra da Eletronuclear pela J&F insere o país novamente no radar de investimentos em tecnologia nuclear civil, com potencial de gerar empregos, atrair parcerias internacionais e fortalecer a segurança energética nacional.
Além disso, a entrada de um grupo privado robusto no setor tende a dinamizar a gestão e acelerar projetos como o de Angra 3, que é considerado fundamental para atender à crescente demanda energética e manter o equilíbrio entre sustentabilidade e competitividade industrial.
Regulação e próximos passos
A conclusão da compra da Eletronuclear pela J&F ainda depende da aprovação de órgãos reguladores e do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O modelo da operação foi desenhado para garantir que o controle estatal da Eletronuclear permaneça com a ENBPar, conforme determina a Constituição, que restringe a exploração da energia nuclear ao Estado brasileiro.
A Âmbar Energia, portanto, atuará como acionista relevante, mas sem poder decisório sobre a operação nuclear propriamente dita. Sua função será fortalecer a gestão financeira e o planejamento estratégico, contribuindo com investimentos e know-how técnico.
A expectativa do mercado é de que o negócio seja aprovado ainda em 2025, com potencial de movimentar novos investimentos no setor e abrir caminho para futuras parcerias público-privadas em infraestrutura nuclear.
Impactos econômicos e ambientais
Além dos ganhos corporativos, a compra da Eletronuclear pela J&F traz impactos positivos para a economia e o meio ambiente. A energia nuclear é uma das fontes com menor emissão de gases de efeito estufa, sendo considerada fundamental para o cumprimento das metas de neutralidade de carbono até 2050.
Do ponto de vista econômico, o investimento fortalece a cadeia produtiva nacional, movimentando setores como engenharia, tecnologia, manutenção industrial e transporte de insumos.
Especialistas também apontam que a presença da J&F pode contribuir para modernizar a governança e acelerar o cronograma de conclusão de Angra 3, projeto que, quando finalizado, colocará o Brasil em posição de destaque no fornecimento de energia limpa e contínua na América Latina.
A compra da Eletronuclear pela J&F é mais do que um movimento empresarial: é um símbolo da nova fase do setor energético brasileiro. Ela une a força do capital privado à relevância estratégica de um ativo estatal, apontando para um futuro em que o Brasil poderá combinar inovação, sustentabilidade e segurança energética.
Para a J&F, o negócio reforça sua transformação em um grupo de alcance global, com investimentos que vão muito além do agronegócio. Para o país, representa uma oportunidade de reindustrialização verde, com base em uma matriz diversificada e tecnologicamente avançada.






