Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e atual candidato republicano à presidência, tem feito promessas ambiciosas em sua campanha para as eleições de novembro de 2024. Com o slogan “Faça a América Acessível de Novo” e uma série de discursos centrados na economia, Trump busca um segundo mandato com uma agenda que promete enfrentar problemas como a inflação, os altos preços dos alimentos e a energia. Contudo, a maioria de suas promessas carece de detalhes claros, e algumas delas têm gerado controvérsias devido à sua viabilidade e precisão.
Combate à Inflação: Promessas e Realidade
Um dos principais temas de campanha de Trump é a inflação, que ele descreve como o “inimigo número 1” da economia americana. Trump acusa a administração de Joe Biden pela alta dos preços, afirmando que a inflação atingiu níveis recordes sob o governo atual. No entanto, essa afirmação é incorreta. A inflação nos Estados Unidos em julho de 2024 foi de 2,9%, muito abaixo do recorde histórico de 23,7% registrado em 1920.
Trump também afirma repetidamente que durante seu governo não houve inflação, o que também não corresponde aos fatos. Embora a inflação tenha sido baixa durante a maior parte de sua presidência, ela não esteve ausente. Além disso, o controle da inflação não é uma tarefa que o presidente possa executar de forma unilateral, já que o Federal Reserve (Fed) é a instituição responsável por definir as taxas de juros, que são a principal ferramenta de controle da inflação.
Apesar das promessas de “acabar com a crise da inflação devastadora imediatamente”, especialistas apontam que as medidas sugeridas por Trump, como a eliminação de regulamentações, não teriam impacto significativo no curto prazo e poderiam, na verdade, desestabilizar ainda mais a economia.
Preços dos Alimentos: Um Compromisso Vago
Outro ponto central da campanha de Trump é a redução dos preços dos alimentos, uma questão que afeta diretamente a vida dos americanos. O ex-presidente prometeu assinar uma ordem executiva em seu primeiro dia de volta ao Salão Oval, orientando todas as agências a utilizarem “todas as ferramentas e autoridades” para derrotar a inflação e reduzir os preços ao consumidor.
No entanto, Trump não especificou quais regulamentações seriam eliminadas para atingir esse objetivo. A falta de detalhes torna difícil avaliar a eficácia de sua proposta. Além disso, a história mostra que a desregulamentação pode ter consequências indesejadas, como a criação de monopólios e a redução da competitividade, o que pode, paradoxalmente, aumentar os preços.
Energia: A Volta aos Combustíveis Fósseis
Em seus discursos, Trump tem se mostrado contrário às iniciativas de energia limpa, prometendo reduzir pela metade os preços da energia e da eletricidade em 18 meses ao ampliar a produção doméstica de combustíveis fósseis. Ele também criticou os parques eólicos, descrevendo-os como “horríveis” e acusando as turbinas de matar pássaros e baleias.
Trump tem um histórico de apoio à indústria de combustíveis fósseis e, durante seu mandato, trabalhou para desfazer muitas das regulamentações ambientais impostas por administrações anteriores. No entanto, especialistas em energia afirmam que aumentar a perfuração e a produção de petróleo não necessariamente resultará em preços mais baixos para os consumidores. Além disso, a reversão das políticas de energia limpa poderia prejudicar os esforços para combater as mudanças climáticas e comprometer o compromisso dos EUA com o Acordo de Paris.
Imposto Sobre Gorjetas: Uma Promessa Pouco Eficaz
Trump e a vice-presidente Kamala Harris prometeram eliminar os impostos sobre as gorjetas para atrair votos dos trabalhadores do setor de serviços e hospitalidade. No entanto, essa proposta é vista por especialistas como pouco eficaz, já que uma parte significativa desses trabalhadores não ganha o suficiente para pagar impostos federais sobre a renda.
Além disso, a implementação dessa proposta exigiria aprovação do Congresso, e muitos detalhes cruciais, como os limites de rendimento que seriam isentos de impostos e a possibilidade de fraude, ainda não foram esclarecidos. Sem essas informações, é difícil avaliar o impacto real dessa promessa.
Previdência Social: Alívio Fiscal para os Idosos
Em um esforço para atrair o apoio dos idosos, Trump prometeu acabar com os impostos sobre os benefícios da Previdência Social. Atualmente, os idosos não pagam impostos sobre seus benefícios se ganharem menos de US$ 25 mil por pessoa ou US$ 32 mil para casais.
Embora essa promessa possa oferecer algum alívio financeiro para os aposentados, ela também poderia reduzir a arrecadação fiscal e aumentar o déficit federal, o que pode ter consequências econômicas a longo prazo. Além disso, como outras propostas de Trump, essa medida exigiria aprovação legislativa, o que não é garantido.
Tarifas de Importação: O Risco de Uma Nova Guerra Comercial
Trump também prometeu adicionar uma tarifa de 10% sobre todas as importações e de 60% sobre as importações chinesas. Esta medida faz parte de sua estratégia de “Trump Reciprocal Trade Act”, que visa retaliar tarifas impostas a produtos americanos por outros países.
Embora Trump argumente que essas tarifas protegerão os empregos americanos, especialistas alertam que elas poderiam aumentar os preços para os consumidores e desencadear uma nova guerra comercial, prejudicando a economia global. De acordo com uma estimativa do Peterson Institute for International Economics, essas tarifas poderiam custar a uma família de renda média nos EUA cerca de US$ 1.700 por ano.
Cortes de Impostos: A Promessa de Mais Alívio Fiscal
Uma das propostas mais importantes de Trump é estender os cortes de impostos instituídos durante seu governo em 2017. O Tax Cuts and Jobs Act reduziu os impostos para famílias de renda média e empresas, mas essa medida está programada para expirar no final de 2025. Trump prometeu não apenas estender esses cortes, mas também introduzir novos cortes de impostos.
Embora a redução de impostos seja popular entre muitos eleitores, os críticos argumentam que essas medidas podem aumentar o déficit federal e beneficiar desproporcionalmente os ricos. Além disso, como outras propostas de Trump, a extensão dos cortes de impostos exigiria aprovação do Congresso.
Relações Comerciais com a China: Um Foco na Segurança Nacional
Trump tem se concentrado em endurecer as relações comerciais com a China, prometendo impor penalidades rigorosas ao país por práticas comerciais consideradas injustas. Ele também prometeu restringir a propriedade chinesa de infraestrutura crítica nos EUA, como energia e telecomunicações, e forçar a venda de participações que possam representar um risco à segurança nacional.
Essas medidas fazem parte de uma estratégia mais ampla de “segurança econômica é segurança nacional”, que visa proteger os interesses dos EUA em um mundo cada vez mais competitivo. No entanto, essas políticas também correm o risco de intensificar as tensões entre os dois países, o que pode ter implicações econômicas e geopolíticas significativas.
Um Plano Econômico de Promessas Ambiciosas e Detalhes Escassos
As propostas econômicas de Donald Trump para 2024 refletem uma tentativa de retornar ao poder com promessas de recuperação econômica e segurança nacional. No entanto, a falta de detalhes específicos e a viabilidade questionável de muitas de suas promessas levantam dúvidas sobre o impacto real de sua agenda. À medida que a campanha avança, será crucial observar como Trump planeja detalhar e implementar essas propostas e como elas serão recebidas pelo eleitorado e pelo Congresso.