Dólar em alta: tensão com IOF e tarifas dos EUA pressiona mercados
O dólar em alta nesta quinta-feira (17) reflete uma combinação explosiva de fatores internos e externos que preocupam o mercado financeiro brasileiro. A moeda americana opera com valorização de 0,51%, cotada a R$ 5,5904 no início do pregão, impactada diretamente por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e por novos desdobramentos na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. A aprovação parcial do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo STF, somada à ameaça de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, compõe um cenário de incerteza cambial e instabilidade diplomática.
Analisamos os motivos que impulsionam o dólar, os impactos da tensão política no câmbio e os riscos no radar dos investidores nos próximos dias. Entenda por que o dólar segue firme na trajetória de valorização em 2025.
Dólar em alta: os gatilhos da valorização
Decisão do STF amplia margem de arrecadação do governo
O primeiro fator que impulsiona o dólar em alta é a recente decisão do STF, que validou parte dos aumentos do IOF promovidos pelo governo federal. O imposto incide sobre operações de crédito, câmbio, seguro e títulos ou valores mobiliários, e sua elevação reforça a percepção de intervenção estatal sobre instrumentos fiscais. Para o mercado, a medida pode indicar uma pressão arrecadatória em tempos de aperto fiscal.
A autorização para reajustar o IOF também levanta preocupações sobre o impacto nas operações financeiras e a possibilidade de novos embates entre os Poderes Executivo e Legislativo. O mercado precifica esse risco institucional, o que contribui para a fuga de capital estrangeiro e, consequentemente, para a valorização do dólar.
Incerteza política amplia aversão ao risco
A decisão do STF também intensifica o atrito entre os Três Poderes. A aprovação parcial dos aumentos de IOF, embora represente uma vitória momentânea para o Executivo, pode gerar novos embates no Congresso. O impasse político amplia o clima de incerteza institucional e prejudica a atratividade do país perante os investidores internacionais.
Pressão externa: tarifas de Trump e nova investigação contra o Brasil
Medida tarifária deve entrar em vigor em agosto
O segundo fator que alimenta o dólar em alta é o risco comercial entre Brasil e Estados Unidos. O governo americano planeja aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida ameaça diretamente setores estratégicos da exportação brasileira, como o agronegócio e a indústria de transformação, e causa apreensão nos mercados.
Apesar das tentativas de negociação, a tensão diplomática se agravou após os Estados Unidos abrirem uma investigação formal contra o Brasil. O processo, conduzido pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), visa apurar políticas ou práticas brasileiras consideradas prejudiciais ao comércio norte-americano.
Pix na mira dos Estados Unidos
Entre os pontos questionados está o sistema de pagamentos eletrônicos brasileiro, com foco especial nas vantagens competitivas oferecidas ao Pix — solução de pagamento instantâneo criada pelo Banco Central do Brasil (BC) em 2020. Embora o relatório do USTR não cite nominalmente o Pix, a leitura no mercado é de que a crítica foi direcionada ao sistema brasileiro por supostamente favorecer empresas locais e limitar o acesso de players internacionais ao setor.
Esse movimento aumenta a tensão diplomática e comercial entre os países, elevando a percepção de risco para o Brasil e pressionando o câmbio. O receio de sanções, somado à possibilidade de retaliação tarifária, impulsiona a demanda por dólar como proteção diante da volatilidade.
Clima tenso no Federal Reserve e política monetária dos EUA
Rumores sobre Jerome Powell agravam incertezas
Outro vetor que contribui para o movimento de dólar em alta é a instabilidade no cenário monetário dos Estados Unidos. Nos últimos dias, surgiram rumores de que o presidente americano, Donald Trump, planejava demitir Jerome Powell, atual presidente do Federal Reserve (Fed). Embora Trump tenha negado formalmente essa intenção, as críticas públicas à política de juros do Fed aumentaram a insegurança nos mercados.
As acusações de que Powell estaria favorecendo os democratas ao reduzir os juros provocaram reação negativa dos investidores. A possibilidade de mudanças abruptas na condução da política monetária norte-americana eleva a volatilidade global, impactando especialmente mercados emergentes como o Brasil.
Expectativas sobre os juros americanos
O Federal Reserve está no centro das atenções por conta das expectativas em relação aos juros nos Estados Unidos. O país enfrenta desafios para controlar a inflação sem sufocar o crescimento econômico. As decisões do Fed afetam diretamente o fluxo de capital global, e qualquer sinal de endurecimento monetário pode provocar valorização adicional do dólar frente a moedas emergentes.
Histórico recente do câmbio brasileiro
Acúmulo de tensões pressiona o real
A valorização do dólar frente ao real não é um evento isolado. Desde o início do ano, o câmbio vem reagindo a uma série de pressões internas e externas. A combinação de instabilidade política, deterioração fiscal e cenário internacional desfavorável tem mantido o dólar em trajetória ascendente.
Na última quarta-feira (16), por exemplo, a moeda americana encerrou o pregão com leve alta de 0,07%, cotada a R$ 5,5619. Já na sessão de hoje, o dólar registra alta mais expressiva, impulsionada pelas notícias envolvendo o STF e as tensões com os Estados Unidos.
Real segue entre as moedas mais pressionadas
Em 2025, o real figura entre as moedas de mercados emergentes com pior desempenho. A fuga de capital, somada à desvalorização estrutural da moeda brasileira, reflete a falta de confiança dos investidores na condução da política econômica. A crescente demanda por ativos considerados seguros, como o dólar, amplia ainda mais a pressão sobre o câmbio nacional.
O que esperar do dólar nos próximos dias?
Cenário de incerteza deve continuar
Com as tensões diplomáticas, fiscais e monetárias ainda presentes, o ambiente segue propício para valorização do dólar. A continuidade do impasse comercial com os Estados Unidos e as expectativas sobre a política monetária do Fed manterão os investidores em alerta.
Além disso, o desfecho político das discussões sobre o IOF e a resposta do Congresso às decisões do STF poderão influenciar o comportamento do mercado. A volatilidade deve permanecer elevada no curto prazo.
Possível escalada cambial
Se não houver reversão dos riscos internos e externos, o dólar pode ultrapassar novas resistências técnicas. A cotação de R$ 5,60, próxima do patamar atual, é vista como um possível ponto de inflexão. Uma quebra dessa barreira pode levar o dólar a buscar níveis mais altos, ampliando os impactos sobre inflação, importações e o custo de vida do consumidor brasileiro.
Impactos econômicos da alta do dólar
Inflação importada e pressão sobre preços
A elevação do dólar tem efeito direto sobre a inflação brasileira, especialmente em setores que dependem de insumos importados, como combustíveis, alimentos industrializados e tecnologia. A chamada “inflação importada” pode comprometer o controle de preços pelo Banco Central, exigindo ajustes adicionais na taxa básica de juros (Selic).
Efeito cascata sobre a economia
A alta do dólar também afeta o planejamento das empresas, encarece importações e eleva custos de produção. Em um cenário de fragilidade fiscal, o governo tem menos margem para estimular a economia, agravando o risco de estagnação. O encarecimento de produtos e serviços atinge diretamente o consumidor final, comprometendo o poder de compra e o crescimento do varejo.
O cenário atual de dólar em alta é reflexo de uma tempestade perfeita que mistura tensão institucional, risco fiscal, conflito diplomático e incertezas globais. A decisão do STF sobre o IOF e o avanço de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros criam um ambiente desfavorável para o real, favorecendo a valorização da moeda americana.
A resposta do governo brasileiro às ameaças comerciais e a condução da política econômica serão determinantes para o rumo do câmbio nas próximas semanas. Enquanto não houver sinalizações claras de estabilidade e previsibilidade, o dólar tende a permanecer em alta, desafiando a capacidade de resposta dos agentes econômicos.






