Santa Catarina é um mosaico geográfico, multiétnico e econômico de perfil singular, que não cabe em definições simplistas como a de “Europa brasileira”, às vezes extrapolada do contexto turístico. O Estado, situado no coração da região Sul do Brasil, tem uma série de indicadores invejáveis de bem-estar social e prosperidade, mas também está sujeito aos problemas, às crises e às contradições da realidade sul-americana. Diversidade, belezas naturais e um avançado ecossistema de inovação compõem alguns ingredientes que fazem dessa unidade federativa um destino atrativo para férias, negócios, trabalho e estudo.
Com apenas 1,1% do território e 3,7% da população do Brasil, Santa Catarina tem o sexto maior Produto Interno Bruno (PIB) do país, R$ 455,6 bilhões, e a quinta maior arrecadação federal, R$ 107,3 bilhões, segundo dados monitorados pelo Observatório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). Primeiro Estado em expectativa de vida (80,7 anos), ocupa a terceira posição no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) das Nações Unidas, atrás apenas do Distrito Federal e de São Paulo.
Em 2022, Santa Catarina recebeu 5,5 milhões de visitantes, confirmando sua posição como polo turístico internacional. A maioria vem no verão, em busca das praias de areia branca nos 560 km de litoral recortado por enseadas e baías. Mas há muitas outras opções, das estações termais aos cânions, dos esportes radicais ao enoturismo com neve, da observação de baleias ao circuito de eventos.
Os atrativos culturais vão além das tradições dos descendentes de imigrantes açorianos, italianos e alemães. Santa Catarina também é indígena, africana, asiática, e, mais recentemente, haitiana e venezuelana.
O Estado tem a maior densidade industrial do Brasil: sete indústrias para cada mil habitantes, superando São Paulo, que tem três para mil. Sua indústria gera 2,7 milhões de empregos formais, um terço do número de habitantes, 7,6 milhões segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, Santa Catarina registrou a menor taxa média de desemprego do país (3,9%), cinco pontos percentuais abaixo da média brasileira, e também a maior parcela de empregados com carteira assinada (87,8%).
O rendimento habitual mensal médio do trabalhador catarinense é de R$ 3.146, valor 9,2% superior à média nacional de R$ 2.880. A taxa de subutilização da força de trabalho local é insignificante: 0,3% no primeiro trimestre do ano, em comparação a 18,9% da média do Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A conta do que volta para cá é inversamente proporcional ao que nós mandamos”
— Jorginho Mello
Na edição 2022 do Ranking de Competitividade dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública, Santa Catarina está classificada na segunda colocação geral, atrás apenas de São Paulo. Também se destaca no primeiro lugar em três temas relevantes: eficiência da máquina pública, segurança pública e sustentabilidade social.
A diversidade da indústria regional contribui para a resiliência da economia barriga-verde (gentílico de quem nasce no Estado, juntamente com catarinense). O Estado lidera a produção brasileira em abate de suínos, tecidos de malha, blocos para motores, acabamentos de fios e tecidos, motocompressores para refrigeração, desdobramento de madeira, ostras e pescado. Ocupa o segundo lugar em equipamentos elétricos, produtos de borracha e plástico, vestuário e produtos de madeira. Está em terceiro no abate de aves e em cerâmica; em quarto na produção de máquinas e equipamentos e de móveis; e em quinto em papel e celulose, produtos de metal e metalurgia.
Com estrutura rural em que predominam minifúndios familiares, tem um desempenho agropecuário impressionante, se considerada a topografia acidentada do território. Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o Estado detém a primeira posição nacional na produção de cebola; a segunda em arroz, fumo, maçã, palmito e pera; a terceira em erva-mate, alho, maracujá e pêssego; a quarta em banana; a quinta posição em trigo, uva e leite; e a sexta em mel de abelha, produto que é considerado um dos melhores do mundo.
Apesar dos números, Santa Catarina enfrenta problemas bem brasileiros. Desastres climáticos são uma ameaça permanente aos moradores de áreas de risco. Gargalos na infraestrutura de transportes limitam a competitividade. A rodovia BR-101, que corta o território no sentido norte-sul está praticamente colapsada, e as BRs 116, 163, 282 e 470 também não atendem mais à demanda.
Há deficiências sérias nas unidades de saúde pública e quase três quartos da população não têm coleta de esgoto. É ainda um dos Estados com o número mais significativo de feminicídios – 1,5 para cada 100 mil habitantes, contra 1,2 da média nacional, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
O atual governo, que assumiu em janeiro, calcula um déficit de até R$ 3 bilhões nas contas públicas estaduais até o fim de 2023, em consequência do aumento de despesas nos últimos dois anos, e implantou um programa de ajuste fiscal para cortar despesas.
“Somos um Estado pequeno em tamanho e gigante em desempenho”, diz o governador Jorginho Mello (PL). “Mas temos um problema: ninguém acha que precisamos de mais recursos, e a conta do que volta para cá é inversamente proporcional ao que nós mandamos”.
Ele acrescenta que Santa Catarina exporta soluções para o mundo em diferentes setores, mas tem um apagão de mão de obra em alguns casos, como o da tecnologia, o que torna a educação um grande desafio. Infraestrutura e saúde também são referidas como prioridades pelo chefe para a atual gestão do Poder Executivo catarinense.
Em março, a recém-criada Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI) anunciou uma série de políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento das empresas do setor, que cresce rapidamente – cidades como Florianópolis tornaram-se polos de startups. Com ações previstas até 2026, o programa “Santa Catarina Inovadora” tem sete eixos: financiamento, ambiente legal, qualificação profissional, atração de investimentos, projetos estruturantes, infraestrutura de conectividade e ambientes de inovação.
“Em breve, vamos fazer um ‘retrofit’ no conjunto de incentivos fiscais e econômicos, que foram desenhados há 35 anos e precisam ser adequados à nova realidade”, informa o secretário da pasta, Marcello Fett.