Ministério Público da Itália aprova extradição de Carla Zambelli e AGU prepara retorno da deputada ao Brasil
O Ministério Público da Itália deu parecer favorável à extradição de Carla Zambelli, marcando um avanço decisivo no processo que pode trazer de volta ao Brasil a deputada federal licenciada pelo PL-SP. A Advocacia-Geral da União (AGU) confirmou nesta quarta-feira (22/10) que está atuando junto às autoridades italianas para cumprir as determinações da Justiça brasileira.
Zambelli está presa preventivamente na Itália desde 29 de julho, após decisão da Corte de Apelação de Roma, que considerou haver grave risco de fuga. Condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica, em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto, a parlamentar fugiu do país logo após a sentença, o que motivou sua captura em território italiano.
O caso reacende o debate sobre cooperação internacional e extradições de condenados brasileiros, além de expor o desdobramento jurídico e político de uma das figuras mais controversas da base bolsonarista.
Parecer do Ministério Público italiano reforça pedido brasileiro
De acordo com a AGU, o parecer do Ministério Público da Itália representa uma vitória jurídica importante para o Brasil, uma vez que demonstra confiança da Justiça italiana nas instituições brasileiras. A decisão ainda será analisada pela Corte de Apelação de Roma, responsável por emitir o parecer final sobre a extradição.
O órgão italiano considerou que a prisão preventiva foi devidamente fundamentada, ressaltando que a conduta de Zambelli demonstrou intenção de se evadir do cumprimento da pena. Após a condenação no STF, a deputada viajou para a Itália sem autorização judicial, descumprindo as medidas cautelares impostas.
Fontes próximas ao processo afirmam que o governo brasileiro trabalha para acelerar os trâmites diplomáticos e jurídicos, garantindo que a extradição ocorra ainda neste ano, caso não haja recursos por parte da defesa da parlamentar.
A atuação da AGU no caso Zambelli
A Advocacia-Geral da União tem sido o principal órgão responsável por representar o Brasil nas negociações de extradição de Carla Zambelli. Segundo o órgão, o objetivo é assegurar o cumprimento da sentença proferida pelo STF e demonstrar à comunidade internacional que o país mantém rigor no combate a crimes digitais e à falsidade ideológica.
Zambelli está detida na penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma — uma das maiores da Itália —, onde cumpre prisão cautelar até a conclusão do processo. A AGU, em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), acompanha o caso de perto, articulando com o Ministério da Justiça italiano os próximos passos do procedimento de repatriação.
Condenação no STF e fuga para a Itália
A trajetória judicial de Carla Zambelli ganhou notoriedade após o STF condená-la a 10 anos de prisão em 4 de junho. A decisão envolveu os crimes de invasão de sistemas públicos e falsidade ideológica, cometidos em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por sua participação em ataques cibernéticos a instituições brasileiras.
Logo após a sentença, Zambelli deixou o país de forma clandestina e viajou para a Itália. A fuga foi interpretada pelas autoridades brasileiras e italianas como tentativa deliberada de escapar da Justiça, o que justificou a emissão de um mandado de prisão internacional e posterior pedido de extradição.
O Supremo Tribunal Federal destacou, na decisão, que a ex-deputada agiu de maneira coordenada para fraudar sistemas institucionais e divulgar informações falsas, com o objetivo de interferir em processos judiciais e políticos.
Outras condenações e perda do mandato parlamentar
Além da sentença de 10 anos, Carla Zambelli acumula outra condenação: 5 anos e 3 meses de prisão e pagamento de multa equivalente a 400 salários-mínimos, referentes a crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento determinou ainda o regime inicial semiaberto e a perda definitiva do mandato parlamentar.
Essas decisões colocam a deputada entre os políticos mais severamente punidos pelo STF nos últimos anos, representando uma reviravolta na trajetória de uma das principais vozes da direita bolsonarista no Congresso.
A defesa de Zambelli tenta reverter parte das sentenças, alegando perseguição política, argumento que vem sendo sistematicamente rejeitado tanto por tribunais brasileiros quanto por autoridades estrangeiras.
Implicações políticas da extradição de Carla Zambelli
A extradição de Carla Zambelli pode ter desdobramentos políticos significativos no Brasil. Integrante histórica do Partido Liberal (PL), ela era considerada uma das figuras mais próximas do ex-presidente Jair Bolsonaro e desempenhou papel ativo na articulação política e digital da direita brasileira.
A eventual repatriação e cumprimento da pena em território nacional podem fragilizar ainda mais o núcleo político do bolsonarismo, já pressionado por investigações relacionadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e a esquemas de desinformação.
Analistas políticos avaliam que a extradição representa uma mensagem simbólica de reafirmação da soberania jurídica brasileira, demonstrando que nem mesmo figuras com influência política escapam do alcance da lei.
Entendimento jurídico: como funciona o processo de extradição
O pedido de extradição de Carla Zambelli segue os parâmetros do Tratado de Cooperação Jurídica entre Brasil e Itália, que prevê colaboração mútua em casos criminais.
No procedimento, o Ministério da Justiça brasileiro solicita formalmente a extradição ao governo italiano, que, por sua vez, submete o pedido ao Ministério Público da Itália e à Corte de Apelação de Roma. Após o parecer favorável, o caso é encaminhado ao Ministro da Justiça italiano, responsável pela assinatura do decreto que autoriza a devolução da cidadã estrangeira ao país requerente.
A partir da decisão final, a extradição pode ocorrer em até 30 dias, período em que são organizadas as operações de transferência, geralmente sob custódia da Polícia Federal e com apoio da Interpol.
Reação pública e jurídica no Brasil
A confirmação do parecer favorável à extradição gerou ampla repercussão nas redes sociais e no meio político. Parlamentares de oposição comemoraram a decisão, enquanto aliados do PL optaram por silêncio estratégico.
Juristas brasileiros consideram que o caso servirá como precedente importante em futuras cooperações internacionais, reforçando a legitimidade das decisões do Supremo Tribunal Federal perante outros países.
De outro lado, setores da direita afirmam que a extradição é resultado de uma “perseguição ideológica”, tese sem respaldo jurídico, mas frequentemente utilizada por defensores da parlamentar para mobilizar apoiadores.
O simbolismo do caso Zambelli
O episódio da extradição de Carla Zambelli transcende o campo jurídico e se insere no debate sobre responsabilidade política, ética pública e cooperação internacional.
Para o Brasil, representa um teste institucional de credibilidade: garantir que decisões judiciais firmes, mesmo contra figuras públicas influentes, sejam efetivamente cumpridas. Para a Itália, a decisão reforça seu compromisso com a aplicação imparcial da justiça, sem interferências políticas.
A extradição também ilustra o novo cenário político brasileiro, no qual autoridades eleitas e ex-aliados de Bolsonaro enfrentam as consequências legais de suas ações, em um contexto de reconstrução institucional e combate à desinformação.
Próximos passos e possível cronograma
Com o parecer já emitido, a expectativa é que a Corte de Apelação de Roma julgue o caso nas próximas semanas. Se mantida a decisão favorável, o Ministério da Justiça italiano deverá assinar o decreto de extradição.
Fontes diplomáticas indicam que a transferência de Zambelli ao Brasil poderá ocorrer até o final do ano, sendo recebida sob custódia da Polícia Federal e encaminhada a um presídio de segurança média, onde deverá iniciar o cumprimento da pena.
Enquanto isso, a defesa da parlamentar deve apresentar recursos administrativos e judiciais na Itália, buscando adiar a execução da medida — uma estratégia comum em casos de extradição internacional.






