Joe Younger ficou surpreso ao ver que os preços dos hotéis para suas férias de dez dias em Montenegro em agosto subiram 80% desde que ele começou a pensar em uma viagem no ano passado, para até 800 libras, com a passagem aérea mais cara sendo outro custo doloroso. No entanto, esse engenheiro londrino de 30 anos está reduzindo a socialização para economizar dinheiro e está determinado a prosseguir. “Adoro viajar. Tive que cancelar viagens para Nova York, Amsterdã e outras cidades por causa da pandemia, de modo que agora estou animado para viajar o mundo todo”, diz ele.
Younger exemplifica o exército de viajantes que correram para agendar viagens nos dois anos desde que as restrições da covid-19 foram aliviadas. Mas a pergunta que está sendo feita por executivos e analistas à medida que a economia desacelera e os aumentos das taxas de juros pressionam os orçamentos domésticos, é se esse boom é apenas um soluço ou uma tendência duradoura.
Os preços dos hotéis no verão subiram mais de 50% em três quartos de 35 cidades europeias populares este ano, segundo uma pesquisa do Post Office, os correios britânicos.
Madri registrou o maior aumento, com o preço de uma estadia de dois dias saltando de 161 libras em 2022 para 385 libras este ano. Os hotéis em Londres, Roma, Madri e Paris estão aproveitando um “boom”, mesmo quando comparado à era pré-pandemia. Entre as quatro cidades, o maior aumento da receita por quarto disponível se deu em Roma, onde ela foi 60% maior em junho do que no mesmo mês de 2019, segundo a provedora de dados hoteleiros STR.
“Muitos hoteleiros conseguiram amenizar parte da pressão dos custos – seja os custos trabalhistas, custos com alimentos, a pressão inflacionária em geral – aumentando a tarifa média dos quartos”, diz Andreas Scriven, sócio e chefe de hospitalidade e lazer da Deloitte. “Mas por quanto tempo isso poderá durar? Tudo mundo vem fazendo a mesma pergunta.”
Muitos no setor de viagens e turismo, que respondeu por 9,6% do PIB da União Europeia (UE) em 2019, segundo o World Travel & Tourism Council, acreditam que o bom das viagens após a pandemia poderá persistir.
Patrick Mendes, presidente-executivo da divisão Premium, Midscale and Economy da Accor para a Europa e América do Norte, diz que viajar se tornou a “prioridade número um ou dois” entre os gastos das pessoas e se mostrará sustentável. “Trabalho nesse setor há mais de 20 anos e posso lhe dizer que estamos claramente em um grande momento”, acrescenta ele.
Três quartos dos europeus consultados pela Ipsos e a seguradora Europ Assistance disseram que pretendem viajar neste verão [terceiro trimestre no Hemisfério Norte], um aumento de 4% sobre 2022 e o maior nível desde 2011.
“Esta é uma época de ouro… as reservas de verão para muitos hotéis já ultrapassaram os números de 2019. Portanto, realmente esperamos um 2023 muito robusto para o setor de hospedagem”, diz Hina Shoeb, uma diretora da S&P Global Ratings.
Mas outros estão mais céticos de que o aumento possa ser mantido, já que os orçamentos dos turistas em potencial encontram-se sob pressão do aperto das condições econômicas.
“As famílias que já estão lutando com a crise do custo de vida poderão optar por cancelar os planos de férias no exterior ou escolher escapadelas mais curtas e menos caras”, diz William Duffey, chefe da área de mercados de capitais de hotéis e hospitalidade para a Europa, Oriente Médio e África da consultora imobiliária JLL.
Scriven da Deloitte acrescenta: “Precisamos ser realistas de que há um risco real em relação ao poder de compra das pessoas daqui para frente. Obviamente, você terá menos renda disponível se estiver exposto à redefinição dos financiamentos imobiliários de taxas variáveis e os custos para jantar fora de casa já subiram”.
Enquanto isso, as redes hoteleiras estão lucrando, mesmo que a escassez de pessoal tenha afetado a capacidade de ocupação de algumas. A Accor acredita que seu lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida) aumentará para algo entre 920 milhões e 960 milhões de euros este ano, em comparação aos 675 milhões de euros de 2022, graças aos preços médios mais altos dos quartos.
A rede Marriott aumentou sua projeção de lucro para o ano todo em 6%, para US$ 4,54 bilhões, enquanto a Whitbread, proprietária do Premier Inn, cujo preço dos quartos em Londres aumentou de 93 libras para quase 112 libras nos últimos três meses, disse que a receita por quarto disponível foi 40% maior do que os níveis pré-pandemia.
Uma falta de novos empreendimentos também está alimentando os preços. A oferta de quartos de hotel na Europa aumentou apenas 2,7% nos 12 meses até março deste ano, contra 3,6% no mesmo período de quatro anos atrás, segundo a consultoria imobiliária JLL, que diz que a desaceleração é resultado dos custos mais altos da construção e dos juros para o financiamento de projetos imobiliários.
As companhias aéreas também estão experimentando um boom. Em abril a EasyJet mais que dobrou sua projeção de lucro antes dos impostos no ano que se encerra em setembro, para 260 milhões de libras, devido ao grande número de reservas e os preços mais altos das passagens.
“O sentimento do consumidor europeu continua muito forte e robusto”, diz Johan Lundgren, presidente-executivo da companhia. “Há uma demanda muito forte por voos e viagens.”
Enquanto isso, a Ryanair, com sede em Dublin, disse que as reservas de verão estão “robustas”, apesar das passagens maios caras, o que o diretor financeiro Neil Sorahan atribui à demanda reprimida que dá poucos sinais de diminuição. “Se você olhar para a crise financeira, é bastante revelador o fato de as pessoas terem priorizado os pagamentos das prestações da casa própria, deixando as viagens em segundo plano. Na última década, houve continuamente um grande desejo de viajar, mas as pessoas ficaram trancadas em casa nos últimos dois, três anos”, diz Sorahan.
O setor defende os aumentos de preços, uma vez que a pressão da inflação está afetando tudo, dos custos com mão-de-obra aos preços dos alimentos.
O Dalata Hotel Group, operadora irlandesa das redes Maldron e Clayton, disse este mês que a receita por quarto disponível no primeiro semestre do ano deverá subir 29% sobre o mesmo período de 2019, com o presidente-executivo Dermot Crowley atribuindo a maior parte disso à alta da inflação.
Observando que a empresa não conseguiu devolver as margens de lucro aos níveis pré-pandemia, ele disse que “os aumentos dos custos têm sido muito, muito significativos”, apontando para os preços da energia (“três vezes os valores de 2019”) e os custos mais altos com a mão-de-obra e os alimentos. “As pessoas estão dispostas a pagar preços mais altos pelos quartos. Mas a realidade é que as pessoas estão pagando preços mais altos por tudo”, acrescenta ele.
Por enquanto, os turistas estão dispostos a engolir os aumentos. “A percepção de preço das viagens mudou”, diz Mendes da Accor. “Estamos vendendo a um preço mais caro e isso agora está se tornando lucrativo para o negócio da hospitalidade e aceitável para o cliente. Estamos apenas no começo de uma nova história.” (Tradução de Mario Zamarian)