Impeachment de Alexandre de Moraes: Alcolumbre barra tentativa e impõe derrota ao bolsonarismo no Senado
O debate sobre o impeachment de Alexandre de Moraes voltou ao centro do cenário político brasileiro após uma movimentação intensa no Senado, liderada por parlamentares bolsonaristas. A ofensiva, no entanto, sofreu um revés significativo quando o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se recusou a dar andamento ao pedido de afastamento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de Alcolumbre não apenas interrompeu o avanço do pedido, mas também foi interpretada como uma demonstração de força e de controle sobre a pauta do Senado, impondo uma derrota direta ao grupo de oposição alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
O que motivou a nova investida contra Alexandre de Moraes
O estopim para a nova tentativa de abrir um processo de impeachment de Alexandre de Moraes foi a recente prisão domiciliar decretada contra Jair Bolsonaro. A decisão judicial provocou forte reação de senadores bolsonaristas, que passaram a articular medidas de retaliação contra o ministro do STF, considerado um dos principais alvos do grupo por sua atuação nos inquéritos relacionados aos atos de 8 de janeiro de 2023 e à defesa da democracia.
Reunindo 41 assinaturas de parlamentares, a oposição anunciou que tinha a maioria do Senado favorável ao impedimento. Embora o número seja suficiente para dar peso político à proposta, o Regimento Interno do Senado estabelece que apenas o presidente da Casa pode decidir se o pedido será ou não apreciado.
O confronto no Senado e a ocupação do plenário
A tensão se intensificou entre os dias 5 e 6 de agosto de 2025, quando senadores bolsonaristas ocuparam a mesa diretora do plenário do Senado em protesto contra a inércia de Alcolumbre. O ato paralisou votações e foi visto como uma forma de pressionar a Presidência da Casa a colocar o impeachment de Alexandre de Moraes em pauta.
Por dois dias, as sessões deliberativas mais importantes da semana ficaram suspensas. A manobra da oposição, no entanto, teve efeito limitado. Ao retornar à mesa na manhã de quinta-feira (7), Alcolumbre deixou claro que não cederia à pressão e que não pautaria o impeachment em hipótese alguma.
Apoio político e isolamento da oposição
A recusa de Alcolumbre foi respaldada por líderes de diversas bancadas, inclusive de partidos que possuem senadores entre os signatários do pedido. Um exemplo emblemático foi o do senador Jayme Campos (União Brasil-MT), que, apesar de ter assinado o documento, se posicionou contra a obstrução do plenário.
Esse apoio revelou que, embora o grupo bolsonarista tenha alcançado simbolicamente a marca de 41 assinaturas, a base para sustentar o impeachment de Alexandre de Moraes é fragmentada. A falta de consenso interno e a leitura de que a iniciativa não teria êxito jurídico reforçaram a posição de Alcolumbre.
A estratégia de Alcolumbre para encerrar a crise
Segundo relatos de bastidores, Alcolumbre buscou um caminho para encerrar a rebelião sem abrir precedentes que fragilizassem a autoridade da Presidência do Senado. Ele manteve a postura de não negociar nenhuma pauta enquanto o bloqueio do plenário persistisse, afirmando que não haveria diálogo com o grupo oposicionista até que a ordem fosse restabelecida.
Essa tática funcionou. Na manhã de quinta-feira, líderes da oposição se reuniram no gabinete da senadora Tereza Cristina (PP-MS) e decidiram desocupar o plenário, liberando o espaço para a retomada dos trabalhos legislativos.
A simbologia das 41 assinaturas
Para os bolsonaristas, ter 41 assinaturas no documento é um argumento político poderoso. Representa mais da metade dos 81 senadores e serve como instrumento de pressão narrativa. Na prática, porém, a quantidade não tem efeito vinculante: a prerrogativa de abrir o processo continua sendo exclusivamente do presidente do Senado.
Esse aspecto institucional evidencia como o impeachment de Alexandre de Moraes é, até o momento, mais uma bandeira política e eleitoral do que um processo com perspectivas reais de avançar.
Comparação com a Câmara dos Deputados
A situação vivida no Senado contrasta com a experiência recente na Câmara dos Deputados, onde o presidente Hugo Motta (Republicanos) também enfrentou tentativa de obstrução. Diferente de Alcolumbre, Motta precisou atravessar fisicamente um plenário ocupado e contou com o apoio direto do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) para retomar o controle.
O episódio mostrou que, mesmo em momentos de confronto, cada Casa Legislativa lida de forma distinta com a pressão política. No caso do Senado, a negociação foi substituída por firmeza e isolamento da oposição até que a rebelião perdesse fôlego.
O “pacote da paz” e o contexto mais amplo
O impeachment de Alexandre de Moraes é apenas uma das peças de um conjunto de propostas apelidadas de “pacote da paz” por aliados de Bolsonaro. Esse pacote inclui ainda a anistia aos processados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e o fim do foro privilegiado.
O conjunto de medidas, no entanto, enfrenta resistências tanto no Senado quanto na Câmara, principalmente por sua natureza polêmica e pelo impacto institucional que poderiam gerar.
Cenário político e perspectivas
Com o recuo forçado do grupo bolsonarista no Senado, Alcolumbre saiu fortalecido, mostrando capacidade de enfrentar momentos de tensão sem abrir mão da prerrogativa institucional de definir a pauta.
Para a oposição, a batalha não está encerrada. O uso das 41 assinaturas como instrumento político deve continuar, especialmente como elemento de discurso em eventos públicos, redes sociais e durante o período eleitoral.
Ainda assim, o episódio reforça que, no curto prazo, o impeachment de Alexandre de Moraes dificilmente terá andamento no Senado. O cenário político é de manutenção da estabilidade institucional, mesmo diante de confrontos intensos.






