Contexto atual dos juros futuros e a movimentação da curva DI
Em um cenário de alta volatilidade, os juros futuros apresentaram movimentos mistos no mercado brasileiro nesta terça-feira (22). Enquanto os contratos mais curtos encerraram o dia em leve baixa, os vencimentos mais longos fecharam em alta, refletindo incertezas tanto internas quanto externas. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 caiu de 14,745% para 14,720%. Já os contratos para janeiro de 2027 e janeiro de 2029 avançaram de 14,21% para 14,18% e de 14,02% para 14,08%, respectivamente.
Essa reação assimétrica da curva de juros futuros reflete uma combinação de fatores, como o alívio nas expectativas inflacionárias de curto prazo e as declarações mais duras por parte do Banco Central (BC), além da pressão fiscal crescente no cenário doméstico. A curva longa, em especial, tem sido afetada por receios sobre a condução fiscal do governo e o ambiente internacional incerto.
IPCA em queda reforça alívio de curto prazo, mas expectativas seguem desancoradas
No curto prazo, o Boletim Focus trouxe uma leve melhora nas projeções para a inflação. A expectativa de IPCA acumulado para os próximos 12 meses caiu de 5,01% para 4,95%, enquanto a projeção para 2025 recuou de 5,65% para 5,57%. Ainda assim, ambas permanecem bem acima do teto da meta oficial de 4,50%, sinalizando que a inflação segue desancorada.
Esse pequeno alívio teve impacto pontual sobre os juros futuros de curto prazo, especialmente nas primeiras horas de negociação. A valorização do real frente ao dólar também colaborou com esse movimento. No entanto, essas expectativas não foram suficientes para sustentar uma queda consistente da curva curta, diante de declarações consideradas “hawkish” por membros do Banco Central.
Declarações do BC sinalizam continuidade da alta da Selic
A atuação verbal do Banco Central foi decisiva para a reversão da queda dos juros de curto prazo. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o diretor de Política Monetária Gabriel Galípolo ressaltou que a inflação no Brasil continua disseminada, afetando desde bens industriais até serviços e alimentação.
O economista-chefe da Equator Investimentos, Eduardo Velho, interpretou a fala como uma sinalização clara de que a autoridade monetária está disposta a continuar o aperto monetário. Segundo Velho, a fala indica que o BC não está convencido de que a taxa Selic atual é suficientemente restritiva para conter a inflação, e novas altas nos juros podem ocorrer inclusive após a já precificada elevação de 50 pontos-base em maio.
Fiscal sob pressão: LDO, TCU e o impacto nas taxas longas
No lado fiscal, a curva longa de juros futuros reagiu à piora na percepção de risco. A divulgação de uma auditoria preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou medidas “heterodoxas” na condução das contas públicas pelo governo federal. As descobertas acenderam um alerta nos mercados sobre a sustentabilidade fiscal e a necessidade de ajustes mais duros adiante.
Além disso, o Tesouro Nacional tem enfrentado dificuldades para alongar a dívida pública sem pagar taxas extremamente elevadas. Nos leilões mais recentes, os títulos foram emitidos com juros reais muito altos, o que pressiona o custo da dívida pública por um longo período e reforça o mau humor do mercado com a gestão fiscal.
Pressões externas: Trump, Powell e o impacto nas Treasuries
Fora do Brasil, o ambiente também é de tensão. As taxas das Treasuries americanas, especialmente a T-Note de 10 anos, voltaram a subir, superando 4,40%, impulsionadas por ataques do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ao atual presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Trump acusou Powell de agir politicamente ao não reduzir os juros e insinuou que poderia demiti-lo rapidamente, caso volte à presidência.
Esse aumento das taxas americanas afeta diretamente os juros futuros no Brasil, principalmente nos vencimentos mais longos. O encarecimento do custo do capital global pressiona o prêmio de risco exigido pelos investidores para manterem posições em ativos brasileiros.
O que esperar da Selic e da curva de juros futuros nos próximos meses?
Com todos esses elementos em jogo, o mercado começa a precificar um novo ciclo de alta da Selic mais prolongado do que o inicialmente esperado. A possibilidade de uma nova elevação em junho — além da já precificada em maio — passa a ser considerada por analistas, diante do discurso mais conservador do BC.
Na prática, isso significa que os juros futuros seguirão voláteis, respondendo a qualquer nova sinalização da autoridade monetária, revisões das expectativas de inflação e mudanças na percepção de risco fiscal. Se o governo federal não conseguir avançar em medidas que reduzam o déficit primário e aumentem a confiança dos investidores, a curva longa continuará pressionada.
Impactos no crédito, na Bolsa e na economia real
A elevação dos juros futuros impacta diretamente o custo do crédito no Brasil. Com taxas mais altas, empresas adiam investimentos e consumidores reduzem o consumo, o que pode frear ainda mais a atividade econômica. No mercado de ações, a expectativa de juros mais elevados também reduz o apetite por ativos de risco, como ações, favorecendo setores defensivos e títulos atrelados à inflação.
Ao mesmo tempo, o aumento da Selic e dos juros futuros ajuda a controlar a inflação, o que pode trazer benefícios de médio prazo. A questão é até que ponto a economia brasileira conseguirá sustentar um aperto monetário tão prolongado sem entrar em estagnação.
Cenário de incerteza exige cautela e atenção aos sinais do BC
Diante de um cenário que combina pressões internas e externas, o investidor precisa ficar atento aos desdobramentos da política monetária e fiscal. A trajetória dos juros futuros será determinante para os rumos da economia brasileira em 2025. O Banco Central dá sinais de que continuará com uma postura conservadora, o que exige do governo um esforço maior para ancorar expectativas e restabelecer a credibilidade fiscal.
Nesse ambiente, a comunicação será uma ferramenta-chave. Qualquer falha em transmitir confiança ao mercado pode gerar novos episódios de estresse, com impacto direto sobre a curva de juros, o câmbio e os preços dos ativos.