Louis Vuitton Processa Pequena Produtora de Licores em Portugal por Suposta Violação de Marca
Um caso inusitado envolvendo uma pequena produtora de licores localizada em Monção, Portugal, e a gigante do luxo Louis Vuitton tem chamado a atenção do mundo jurídico e empresarial. A marca francesa entrou com uma ação no Tribunal da Propriedade Intelectual português contra a Licores do Vale , acusando-a de violação de propriedade intelectual, concorrência desleal e aproveitamento indevido do prestígio de sua marca.
A disputa se dá em torno do logotipo da pequena empresa, que teria semelhança visual significativa com o famoso monograma LV da Louis Vuitton, usado globalmente em produtos de luxo, como bolsas, malas e roupas.
O caso: um logotipo sob suspeita
O foco da ação judicial é o registro da marca da Licores do Vale junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) de Portugal. O símbolo, composto pelas letras “L” e “V”, foi registrado pela produtora no início de 2025 na categoria de licores, compotas, biscoitos e mel — categorias que, segundo a Louis Vuitton, poderiam causar confusão entre consumidores.
Além disso, a marca francesa argumenta que houve “aproveitamento do prestígio da marca de terceiro” e promoveu “concorrência desleal”. Segundo documentos legais, a semelhança visual entre os dois logotipos é suficiente para criar associação mental negativa ou enganosa entre o público.
Defesa da produtora: inspiração nas montanhas locais
Do outro lado da história está André Ferreira , técnico de meteorologia e produtor amador de licores em Longos Vales, uma pequena vila no norte de Portugal. Ele afirma que o logotipo da marca foi criado com apoio de sua namorada, Tânia Afonso, antes de ser submetido ao INPI em agosto de 2024.
Segundo Ferreira, a escolha das letras “L” e “V” não faz referência à marca francesa, mas sim às palavras “licores” e “vale” . Além disso, ele explica que o design invertido das letras representa visualmente as montanhas que cercam a região, enquanto as folhas presentes no logo simbolizam a natureza local.
Apesar dessa explicação, a Louis Vuitton conseguiu suspender temporariamente o registro da marca através de um recurso judicial, deixando o futuro da Licores do Vale incerto até que o Tribunal da Propriedade Intelectual emita sua decisão final.
Concorrência desleal ou coincidência?
A ação da Louis Vuitton sustenta que a semelhança entre os logotipos é quase total e que a utilização desse símbolo por uma pequena produtora de licores pode gerar confusão entre consumidores. A marca também destaca que os produtos da Licores do Vale estão em categorias alimentícias que, embora diferentes dos artigos de luxo vendidos pela Vuitton, podem ser vistas como complementares em certos contextos comerciais.
“Trata-se de produtos com a mesma natureza, portanto destinados a satisfazer as mesmas necessidades do consumidor”, diz parte do texto da ação.
Esse argumento reforça a preocupação da marca internacional em proteger seu patrimônio visual e evitar qualquer tipo de diluição ou uso indevido de sua imagem comercial.
Expansão estratégica da Louis Vuitton no setor alimentício
Enquanto o caso segue no tribunal, a Louis Vuitton tem ampliado sua presença no mercado gastronômico . Recentemente, inaugurou cafés exclusivos em locais estratégicos:
- Le Café Cyril Lignac , dentro do Terminal 2 do Aeroporto de Heathrow, Londres
- Le Café Louis Vuitton , na loja da East 57th Street, em Nova York
Esses espaços oferecem menus sofisticados, com preços altos e experiência sensorial voltada ao luxo. Um croissant custa cerca de R$ 48 em Londres, enquanto pratos como ceviche e ravioli trufado chegam a mais de R$ 190 nos EUA.
O uso do logotipo LV é constante nos ambientes, menus e embalagens, reforçando a identidade visual global da marca — o mesmo elemento que agora está no centro da polêmica com a Licores do Vale.
Presença da Louis Vuitton no Brasil
A estratégia de expansão da Louis Vuitton não se limita à Europa e aos Estados Unidos. No Brasil, a marca também tem apostado em experiências sensoriais e gastronômicas para atrair clientes de alto poder aquisitivo.
Em março de 2025, o pop-up Blue Box Café da Tiffany abriu em São Paulo, no shopping Iguatemi, com preços que chegavam a R$ 500 por pessoa. Embora não seja da própria Louis Vuitton, esse movimento ilustra a tendência crescente entre marcas de luxo de integrar o universo culinário às suas estratégias de marketing.
“Hoje, o cliente busca muito além de produtos exclusivos; ele deseja momentos memoráveis, imersivos e sensoriais”, afirmou Ricardo Piochi, especialista em marketing de luxo.
Por que casos como este ganham força?
Casos de suposta violação de marca são cada vez mais comuns, especialmente quando grandes marcas globais enfrentam pequenas empresas locais. Isso ocorre porque:
- Grandes corporações têm recursos legais para defender ativamente seus direitos de propriedade intelectual
- A imagem visual tornou-se um ativo estratégico fundamental
- A digitalização e globalização facilitaram a propagação de marcas e designs
No entanto, críticos apontam que essas ações podem ser interpretadas como tentativas de intimidar concorrentes menores, muitas vezes sem condições de arcar com custos judiciais elevados.
Como proteger uma marca de pequeno porte?
Para pequenos empreendedores, é essencial entender a importância do registro adequado de marcas e a análise prévia de possíveis conflitos. Recomenda-se:
- Consultar registros públicos de marcas antes de criar logotipos
- Registrar oficialmente a marca em institutos competentes
- Contratar consultoria jurídica especializada em propriedade intelectual
- Evitar elementos visuais similares a marcas já conhecidas
A falta desses cuidados pode resultar em situações como a enfrentada pela Licores do Vale, que agora precisa lidar com uma disputa judicial complexa contra uma das marcas mais valiosas do mundo.
O processo movido pela Louis Vuitton contra a Licores do Vale coloca frente a frente uma gigante do luxo e uma pequena produtora local. Enquanto a marca francesa defende seus direitos de propriedade intelectual, o pequeno empreendedor português tenta provar que seu logotipo é resultado de inspiração local e não cópia deliberada.
Independentemente do desfecho judicial, o caso ilustra a importância de pequenas empresas registrarem suas marcas com cuidado e buscarem diferenciar-se visualmente de grandes corporações internacionais.
Enquanto isso, a Louis Vuitton continua expandindo sua influência além da moda , investindo pesadamente em experiências gastronômicas e sensoriais ao redor do mundo, reforçando seu papel como ícone global do luxo.






