O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relativizou, durante visita à seleção brasileira de futebol feminino neste sábado (1), no estádio Mané Garrincha, em Brasília, as denúncias de corrupção na construção das arenas da Copa do Mundo de 2014.
Lula participa de treino da Seleção Brasileira feminina neste sábado, em Brasília, um dia antes de jogo na Copa do Mundo — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
“Não se provou corrupção em nenhum estádio. Já faz 10 anos que houve a Copa do Mundo e em nenhum estádio foi provado que teve corrupção, mas as denúncias aconteceram”, disse.
Na verdade, Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) promoveram investigações sobre suspeitas de desvios em vários estádios. Os processos estão em curso, mas até o momento não houve julgamento definitivo dos casos.
Não foi a primeira vez que Lula abordou o tema. Em setembro do ano passado, durante a campanha eleitoral, em um encontro com representantes do setor de turismo, Lula afirmou que houve um legado de transparência na realização da Copa do Mundo de 2014, durante a gestão Dilma Rousseff (PT).
Naquele dia, Lula citou um relatório de fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), publicado em 2011, que, segundo ele, teria apontado “problema” apenas na obra do Maracanã, no Rio de Janeiro. O documento estimou um custo superior a R$ 23 bilhões para a realização do evento. O orçamento das obras nos estádios superou em R$ 3 bilhões a estimativa inicial.
Naquela fala, Lula equivocou-se, porque o relatório do TCU, assinado pelo então ministro Valmir Campelo, enumerou cinco estádios que teriam apresentado problemas na execução das obras: Arena das Dunas, em Natal; Arena da Amazônia, em Manaus; Cidade da Copa, em Recife; Fonte Nova, em Salvador, e o Maracanã.
O mesmo documento apontou seis estádios com orçamentos e contratos regulares: o Verdão, em Cuiabá; a Arena Itaquera, em São Paulo; a Arena da Baixada, em Curitiba; o Beira-Rio, em Porto Alegre; o Castelão, em Fortaleza; e o Mané Garrincha, no Distrito Federal.
Posteriormente, entretanto, com o início e desdobramento da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal colheram provas, inclusive delações premiadas, indicando suspeitas de corrupção em estádios que haviam sido considerados “regulares” pelo TCU.
Por exemplo, PF e Ministério Público enumeraram suspeitas de desvios de recursos públicos também nos estádios Mané Garrincha, no Distrito Federal, do Corinthians (Itaquerão), em São Paulo, Arena Pantanal, em Cuiabá, o Castelão, em Fortaleza, que o TCU havia citado como regulares.
Um dos casos mais emblemáticos foi o do Mané Garrincha, em Brasília, visitado neste sábado por Lula, e que se tornou o estádio mais caro da Copa. Segundo as investigações da PF e do MPF, o valor inicial da obra era de R$ 745 milhões, e chegou em R$ 1,4 bilhão. Os ex-governadores Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PL) chegaram a ser presos, temporariamente, sob acusação de recebimento de propina.
A reforma do Maracanã custaria R$ 600 milhões, e acabou em R$ 1,05 bilhão. O ex-governador do Rio Sergio Cabral e integrantes do Tribunal de Contas do Estado foram acusados de receber propina das empreiteiras para execução da obra.
Na agenda deste sábado, Lula estava acompanhado de ministros e da primeira-dama Janja da Silva. As atletas receberam o casal no gramado antes do treino de reconhecimento para partida deste domingo (2) contra o Chile. O jogo será o último amistoso de preparação para Copa do Mundo.
No centro do campo, Lula disse que sonha com o dia em que o futebol feminino lote os estádios como ocorre com os homens. Ele disse também que gostaria de ter o Brasil como sede de uma Copa do Mundo feminina.
Falando para as jogadoras, o petista afirmou que é preciso mais investimento. “Vocês estão ganhando espaço e aos poucos o Brasil inteiro vai reconhecer o futebol feminino como a grande prática esportiva deste país. O vôlei conseguiu isso”, declarou.
Lula e Janja ganharam uma camisa da seleção e posaram para fotos com as jogadoras. O presidente também recebeu um modelo preto do padrão usado pela seleção em campanha contra o racismo.
Acompanharam o presidente os ministros Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência) Ana Moser (Esporte), Cida Gonçalves (Mulheres), Anielle Franco (Igualdade Racial) e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta.
Na noite deste sábado, Lula é esperado em festa junina do PT num clube de Brasília. No domingo, o presidente vai a Bahia para participar das celebrações do dia 2 de julho.