Lula fortalece parcerias estratégicas com viagem ao Sudeste Asiático
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma nova ofensiva diplomática voltada ao fortalecimento da posição do Brasil no cenário internacional, com foco no Sudeste Asiático, uma das regiões de maior crescimento econômico do mundo. A viagem, que inclui visitas oficiais à Indonésia e à Malásia, pretende consolidar parcerias comerciais, agrícolas e energéticas, além de ampliar o diálogo político com países estratégicos do eixo Ásia-Pacífico.
A agenda marca um passo decisivo na estratégia de diversificação das relações externas brasileiras, com ênfase no fortalecimento do Sul Global e no reposicionamento do Brasil em fóruns multilaterais, como o Brics e a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
Brasil e Indonésia reforçam laços bilaterais
A primeira etapa da viagem ocorre em Jacarta, capital da Indonésia, onde Lula realiza uma visita de Estado em retribuição ao encontro com o presidente Prabowo Subianto, ocorrido em Brasília em julho de 2025. O objetivo central é aprofundar a cooperação econômica, energética e agrícola, setores nos quais as duas nações apresentam fortes complementaridades.
A Indonésia, maior economia do Sudeste Asiático e integrante do Brics, é vista por diplomatas brasileiros como um parceiro-chave para a expansão da presença do Brasil na Ásia. A relação bilateral, que vinha sendo tratada com menor intensidade em governos anteriores, ganha novo impulso com a aproximação de Lula e Subianto.
O governo brasileiro busca aumentar o fluxo comercial entre os dois países, com especial atenção às áreas de agropecuária, bioenergia, segurança alimentar e desenvolvimento sustentável. O diálogo também deve abranger defesa e cooperação tecnológica, reforçando a estratégia do Brasil de estabelecer pontes com potências regionais emergentes.
De acordo com dados do Itamaraty, em setembro de 2025 o comércio bilateral entre Brasil e Indonésia somou US$ 567,8 milhões, sendo US$ 373,3 milhões em exportações brasileiras e US$ 194,5 milhões em importações. O Brasil ocupa o 19º lugar entre os destinos das exportações indonésias, com destaque para produtos como farelo de soja, petróleo bruto, açúcar e melaço. Em contrapartida, as importações incluem gorduras vegetais, calçados, têxteis e peças automotivas.
Parceria com a Malásia e participação inédita na Asean
Após a visita à Indonésia, Lula segue para Kuala Lumpur, onde cumpre agenda oficial a convite do primeiro-ministro Anwar Ibrahim. O ponto alto da passagem pela Malásia será a participação inédita de um chefe de Estado brasileiro na 47ª Cúpula da Asean, que ocorre entre os dias 26 e 27 de outubro.
A Asean, criada em 1967, reúne países do Sudeste Asiático com o propósito de promover a estabilidade política, integração econômica e desenvolvimento regional. Desde 2023, o Brasil mantém com o bloco uma parceria de diálogo setorial, o que permite a ampliação do comércio e a cooperação técnica em diversas áreas. A presença de Lula no evento reforça o interesse brasileiro em aprofundar os laços com economias que representam o quinto maior parceiro comercial do País.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a Asean é responsável por mais de 20% do superávit do comércio exterior brasileiro, com saldo positivo de aproximadamente US$ 15,5 bilhões. O bloco também representa uma porta de entrada estratégica para novos mercados e investimentos em infraestrutura, energia e tecnologia verde.
Na Malásia, o comércio bilateral atingiu US$ 487,2 milhões até setembro de 2025, com US$ 346,4 milhões em exportações brasileiras e US$ 140,9 milhões em importações. O país ocupa o 23º lugar entre os principais destinos das exportações nacionais. O governo brasileiro busca ampliar o acesso de produtos agroindustriais e abrir espaço para investimentos em biotecnologia, semicondutores e energias renováveis.
Expansão comercial e novos mercados abertos
A viagem de Lula ao Sudeste Asiático ocorre em um momento de expansão das exportações brasileiras. Apenas nesta semana, o governo anunciou a abertura de novos mercados em diversos países asiáticos: castanha-do-brasil para o Japão, ovos processados para Singapura, heparina purificada suína para a Coreia do Sul, carne de pato e coelho para o Egito, e derivados de ossos bovinos para a Índia.
Com esses avanços, o agronegócio brasileiro alcançou 460 novas oportunidades comerciais desde 2023, consolidando-se como um dos principais vetores da política externa. A meta, segundo fontes do governo, é atingir R$ 1 trilhão em exportações anuais até 2030, impulsionado pela diversificação de parceiros fora do eixo tradicional Europa–Estados Unidos.
Diplomacia econômica como eixo da política externa
A política externa do atual governo tem como diretriz central a diplomacia econômica, que busca posicionar o Brasil como ator relevante na transição energética global e no comércio sustentável. O Itamaraty vê no Sudeste Asiático um território de oportunidades para investimentos recíprocos e para o fortalecimento das cadeias produtivas regionais.
Segundo o embaixador Everton Lucero, diretor do Departamento de Índia, Sul e Sudeste da Ásia do Ministério das Relações Exteriores, tanto o Brasil quanto a Indonésia são “lideranças naturais do Sul Global”, com economias diversificadas, sociedades plurais e forte capacidade de articulação política em organismos internacionais.
O governo Lula busca aproveitar o momento de reorganização geopolítica mundial para aproximar-se de países que compartilham a agenda de sustentabilidade, segurança alimentar e multilateralismo econômico. A ampliação dos laços com a Indonésia e a Malásia é vista como um passo decisivo na construção de uma rede de cooperação entre economias emergentes, com o Brasil desempenhando papel de liderança.
Asean e Brics: dois polos do novo equilíbrio global
A participação do Brasil na 47ª Cúpula da Asean e na 30ª Cúpula do Leste Asiático reforça o alinhamento entre o bloco e o Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — agora ampliado com novos membros, como a Indonésia. A convergência de pautas, especialmente nas áreas de comércio, energia limpa e desenvolvimento inclusivo, mostra o avanço de uma agenda coordenada entre países do Sul Global.
Durante a Cúpula, Lula apresentará a visão brasileira sobre resiliência econômica, defendendo maior cooperação entre as economias da Asean e do Brics para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas, a segurança alimentar e a reforma das instituições financeiras internacionais.
O discurso deve reforçar o papel do Brasil como líder diplomático regional e voz de equilíbrio em meio à disputa geopolítica entre EUA e China, especialmente em um contexto de transição energética e reconfiguração das cadeias globais de valor.
Brasil mira futuro de parcerias estratégicas com o Sudeste Asiático
A presença de Lula no Sudeste Asiático marca um reposicionamento estratégico do Brasil no mapa da economia global. Além de abrir mercados e atrair investimentos, o governo pretende estabelecer bases duradouras de cooperação tecnológica e ambiental, promovendo inovação, industrialização verde e inserção nas cadeias produtivas de alto valor agregado.
Analistas avaliam que o Brasil tem condições de se tornar parceiro preferencial da Ásia em produtos agrícolas, biotecnologia e energia renovável, ao mesmo tempo em que expande sua diplomacia comercial e científica. a aproximação com o Sudeste Asiático consolida a visão multipolar da política externa brasileira, reforçando o papel do país como elo entre América do Sul, África e Ásia.






