Quando “riqueza” entrou no nosso léxico no século XIII, era enraizada em um termo que significava “bem-estar”. Então, por que o conceito de riqueza mudou de bem-estar para abundância de dinheiro e posse material? Existem razões evolutivas para isso. Mas a evolução não para aqui. O significado da palavra riqueza continuará a mudar. Foi sobre essa mudança e suas implicações para as novas gerações que buscam prosperidade que conversei com Jennifer Wines sobre o seu recém-publicado livro “Invisible Wealth” (“Riqueza Invisível”, em português, ainda não lançado no Brasil). Wines deixou uma carreira bem-sucedida em gestão de fortunas em empresas como J.P. Morgan, Fidelity e Goldman Sachs, para explorar o futuro da riqueza.
O livro é um convite para reimaginar e redefinir o que riqueza significa, dado que o momento atual é de profundas transformações, motivadas pela pandemia, guerras, crises sociais e mudanças climáticas. Segundo Wines, “os avanços tecnológicos e as mudanças sociais estão nos impulsionando para um novo paradigma, convidando-nos a revisitar o que valorizamos e por que. Quando revisitamos os nossos valores, revisitamos o que é riqueza, porque somos ricos quando temos uma abundância daquilo que valorizamos.
Para Jennifer Wines, autora do livro “Invisible Wealth”, os avanços tecnológicos e as mudanças sociais estão nos impulsionando para um novo paradigma, convidando-nos a revisitar o que valorizamos e por que — Foto: Divulgação
A abstração da riqueza e seus cinco princípios
“Invisível é outra palavra para intangível”, diz Wines. Então, o que é riqueza intangível? Quais são todas as coisas que valorizamos? Quais são todos os recursos, todos os ativos que valorizamos que não podemos tocar, mas que são valiosos em nossas vidas? Para materializar essa intangibilidade Wines identifica cinco princípios da riqueza:
- Riqueza de Dinheiro e Investimento: entendimento tradicional de riqueza, focado em ativos financeiros e investimentos;
- Riqueza e Qualidade de Vida: que inclui saúde, felicidade e qualidade de vida geral;
- Riqueza de Conhecimento, Status e Influência: que reconhece o valor da educação, posição social e a capacidade de influenciar os outros;
- Riqueza de Tempo, Energia e Experiências: que valoriza o tempo e a energia que temos, bem como as experiências que adquirimos ao longo de nossas vidas;
- Riqueza de Relacionamentos: consigo mesmo e com os outros.
Segundo a autora, esses cinco princípios respeitam a natureza multidimensional da riqueza: “essas são todas as coisas que queremos e que valorizamos, mas que não podemos tocar. Mesmo assim, são valiosas em nossas vidas. Todas ‘ativos’.”
A interconectividade das múltiplas riquezas
Wines enfatiza que todos os aspectos da riqueza estão interconectados. “Você precisa ter os relacionamentos para conseguir a introdução para o trabalho. Você precisa ter o conhecimento para fazer o trabalho. Você ganha o dinheiro para então investir o dinheiro. Mas você também precisa estar saudável para aproveitar a prosperidade que está construindo.”
Talvez, colocamos primazia em algumas riquezas mais do que outras em vários momentos da nossa vida, mas no final do dia, são todos recursos. Como Wines coloca, “não é isso ou aquilo. É isso e aquilo.”
Um algoritmo pessoal de riqueza
Quando questionada sobre seu conselho para aqueles que estão construindo sua prosperidade, Wines sugere que os indivíduos precisam honrar o que é mais importante para eles em um determinado ponto de suas vidas. “Para mim, era ser mais expansiva, desafiar-me de maneiras novas e diferentes, e também me preparar para o futuro. Entender onde você está focado é fundamental para como você está implantando seus recursos.”
Ela convida as pessoas a olharem para seus principais valores e considerá-los no contexto dos cinco princípios, compreendendo onde seus interesses estão mais alocados e por que. “Não se trata apenas dos aspectos quantitativos, mas também dos qualitativos. À medida que a sociedade se transforma ou que nos transformamos, a nossa compreensão da riqueza precisa evoluir também.”
A provocação de Wines deixa evidente que, no momento intenso de mudança de paradigma que passamos, nosso entendimento de riqueza também precisa se redefinir – sem dúvida com implicações profundas para modelos antigos que ainda nos cercam, desde como pensamos progressão de carreira, modelos de negócios à gestão de fortunas.