Marcos do Val pede salvo-conduto ao STF e acende alerta jurídico sobre violações judiciais
O pedido de salvo-conduto ao STF feito pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) reacendeu o debate sobre os limites da autoridade judicial, a imunidade parlamentar e as possíveis violações de medidas cautelares no Brasil. Em meio a um cenário político e jurídico delicado, a solicitação de habeas corpus preventivo tem implicações profundas para o caso do senador, que se encontra nos Estados Unidos com retorno previsto para o dia 4 de setembro.
Apesar de estar formalmente proibido de sair do país, Marcos do Val conseguiu viajar com a família para Orlando, nos EUA. A decisão judicial que impedia a viagem foi emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e incluía o cancelamento de seus passaportes. Ainda assim, o parlamentar conseguiu embarcar, o que levanta sérias questões sobre a efetividade das medidas de restrição.
O que é salvo-conduto e por que Marcos do Val recorreu ao STF?
O salvo-conduto ao STF, também conhecido como habeas corpus preventivo, é uma medida jurídica utilizada para proteger alguém contra uma possível ordem de prisão arbitrária ou iminente. No caso de Marcos do Val, a solicitação visa garantir que ele possa retornar ao Brasil sem ser detido no aeroporto de Brasília, onde deve desembarcar com a família após passar férias nos Estados Unidos.
Segundo os advogados do parlamentar, há temor de que uma ordem de prisão sigilosa tenha sido expedida e que seja executada assim que ele colocar os pés em território nacional. A defesa alega que há vazamentos seletivos à imprensa indicando a existência de tal mandado, sem qualquer notificação formal à equipe jurídica do senador.
Além do salvo-conduto ao STF, a petição enfatiza que diversas medidas restritivas já foram impostas ao senador — como o bloqueio de bens, a proibição de uso de redes sociais e limitações sobre movimentações financeiras —, todas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de inquéritos envolvendo figuras ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
O polêmico embarque mesmo com passaportes cancelados
Mesmo com o recolhimento dos passaportes diplomático e comum determinado pelo STF, o senador conseguiu embarcar para os Estados Unidos. A defesa sustenta que a mera ordem de recolhimento não equivale, automaticamente, a uma proibição legal de deixar o país.
Marcos do Val argumenta que, teoricamente, poderia até viajar para países do Mercosul com apenas um documento de identidade, o que reforça a tese de que não houve impedimento explícito. A Polícia Federal, embora tenha tentado localizar e apreender os passaportes, não obteve sucesso a tempo, e o Itamaraty, que é o único órgão competente para cancelar passaportes diplomáticos, não formalizou a anulação dentro do prazo.
STF, medidas sigilosas e a legalidade das restrições
A tensão entre o Legislativo e o Judiciário ganha novo capítulo com o pedido de salvo-conduto ao STF. A defesa do parlamentar argumenta que as medidas restritivas estão sendo aplicadas de maneira desproporcional, sem o devido processo legal, e com base em decisões judiciais sigilosas, às quais a defesa não teve acesso integral.
Outro ponto central é a falta de clareza nas decisões. O bloqueio de bens, por exemplo, foi determinado sem justificativa pública e sem intimação formal, o que a defesa classifica como “estranho” e “incompatível com o devido processo legal. Esses argumentos foram reforçados no pedido ao Supremo como base para justificar o habeas corpus preventivo.
Marcos do Val sob investigação em múltiplos inquéritos no STF
Marcos do Val é alvo de ao menos dois inquéritos em tramitação no STF. O primeiro apura seu possível envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado em 2023. Já o segundo investiga sua suposta participação em uma campanha de intimidação contra autoridades públicas envolvidas em investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.
Essas investigações motivaram diversas sanções judiciais ao senador, como:
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Proibição de uso de redes sociais;
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Limitação de movimentações financeiras;
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Multa de R$ 50 milhões por descumprimento de ordens judiciais;
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Bloqueio de bens e ativos;
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Restrições à sua atuação parlamentar.
A insistência da defesa em obter o salvo-conduto ao STF indica a gravidade da situação e o receio concreto de que a liberdade do senador esteja sob ameaça iminente.
Repercussões políticas do salvo-conduto ao STF
O caso gerou reações intensas no meio político e jurídico. Parlamentares aliados a Marcos do Val denunciam perseguição política, enquanto críticos apontam desrespeito às instituições e às decisões judiciais. A solicitação de salvo-conduto também reacendeu o debate sobre os limites da imunidade parlamentar e o papel do STF na fiscalização de membros do Legislativo.
O Senado, até o momento, não tomou nenhuma providência oficial sobre a viagem do parlamentar em descumprimento de decisão judicial. No entanto, caso uma ordem de prisão seja efetivada, será inevitável que a Casa analise a situação, podendo levar a debates sobre eventual cassação de mandato.
O que esperar dos próximos passos?
O Supremo Tribunal Federal deverá julgar o pedido de salvo-conduto ao STF nos próximos dias, antes do retorno de Marcos do Val ao Brasil. Se o pedido for aceito, o senador não poderá ser preso ao desembarcar. Se for negado, sua prisão imediata poderá ser executada, o que deve gerar um novo episódio de tensão institucional entre os poderes.
Enquanto isso, o caso permanece sob sigilo parcial, e os detalhes completos das investigações ainda não foram divulgados. O cenário permanece incerto, e a decisão do STF pode estabelecer um precedente importante sobre os limites das medidas cautelares contra parlamentares em exercício.
Salvo-conduto ao STF expõe tensão entre Judiciário e Legislativo
O pedido de salvo-conduto ao STF feito por Marcos do Val é mais do que uma manobra jurídica de autoproteção: é reflexo de um embate crescente entre o Supremo Tribunal Federal e setores do Legislativo. O caso escancara brechas na aplicação das medidas cautelares, desafia a atuação do Itamaraty e da Polícia Federal, e coloca em xeque a efetividade das decisões judiciais frente à prerrogativa parlamentar.
Independentemente do desfecho, o episódio levanta questões importantes sobre:
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A transparência das decisões judiciais;
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O equilíbrio entre os Poderes da República;
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A legalidade das sanções aplicadas a parlamentares;
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E os limites da imunidade parlamentar frente a crimes comuns.
A expectativa em torno do julgamento do habeas corpus preventivo será, sem dúvida, um dos temas mais acompanhados do início de setembro no cenário político brasileiro.






