Em decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que restabeleceu a alíquota de 4,65% do PIS/Cofins sobre receitas financeiras. Essa medida, adotada no primeiro dia do governo Lula, reverteu o decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que reduzia a alíquota para 2,33%. A decisão foi um marco na disputa jurídica e tributária entre empresas e governo, que envolvia bilhões de reais aos cofres públicos e a aplicação da chamada regra da noventena.
Contexto da alíquota do PIS/Cofins sobre receitas financeiras
A discussão sobre a alíquota do PIS/Cofins teve início com a decisão de Bolsonaro, em dezembro de 2022, de reduzir pela metade a tributação de receitas financeiras. No entanto, ao assumir o governo em janeiro de 2023, Lula editou um novo decreto restabelecendo a alíquota de 4,65%, que estava em vigor desde 2015. Essa alteração gerou um impasse entre o governo e as empresas, que alegavam que a nova alíquota só deveria ser aplicada após o cumprimento da anterioridade nonagesimal, conhecida como noventena.
A noventena é um princípio constitucional que determina a necessidade de uma espera de 90 dias entre o aumento de um tributo e o início de sua cobrança. De acordo com os contribuintes, o decreto de Lula só deveria ter efeito a partir de abril de 2023, enquanto o governo argumentava que a alíquota de 4,65% já era conhecida e vigente, não justificando a necessidade de uma nova adaptação.
Ação no STF e o posicionamento da AGU
Com o impasse instaurado, diversas empresas recorreram à Justiça para continuar pagando a alíquota de 2,33%. O governo, por sua vez, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), acionou o Supremo Tribunal Federal com uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), pedindo a confirmação da validade do decreto presidencial de Lula.
A AGU sustentou que a manutenção da alíquota de 4,65% era fundamental para preservar R$ 5,8 bilhões anuais aos cofres públicos, valor que seria perdido com a redução do tributo. Além disso, o órgão defendeu que o decreto de Bolsonaro, publicado no apagar das luzes de seu governo, não poderia gerar expectativas legítimas aos contribuintes, já que a norma tinha vigência a partir de 1º de janeiro de 2023, dia em que o novo governo assumiu e restabeleceu a alíquota anterior.
Decisão do Supremo Tribunal Federal
A decisão do STF foi marcada por uma votação unânime. Todos os ministros confirmaram a constitucionalidade do decreto de Lula e rejeitaram os argumentos das empresas. O relator do caso, ministro Cristiano Zanin, destacou que o decreto de Bolsonaro não criou expectativas legítimas para os contribuintes, uma vez que a redução temporária das alíquotas seria revertida com a posse do novo governo.
Segundo Zanin, o caso não se tratava de uma mudança brusca na tributação, mas da manutenção de um índice que estava em vigor desde 2015. Ele ainda acrescentou que o decreto de Bolsonaro estipulava que a mudança só entraria em vigor em janeiro de 2023, o que coincidia com a publicação do novo decreto de Lula, o que eliminava qualquer possibilidade de surpresa para os contribuintes.
Em março de 2023, o ministro Ricardo Lewandowski, agora aposentado, já havia concedido uma liminar a favor do governo, suspendendo as decisões judiciais que autorizavam empresas a continuar recolhendo a alíquota de 2,33%. A medida foi referendada por nove votos no Supremo, e agora, a Corte analisou o mérito da questão de forma definitiva, confirmando a liminar anterior.
Impacto para as empresas e para o governo
A decisão do STF representa uma vitória significativa para o governo Lula, que conseguiu garantir a manutenção da alíquota de 4,65%, preservando a arrecadação de bilhões de reais anualmente. Esse valor é crucial para o equilíbrio fiscal e para o financiamento de políticas públicas em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
Por outro lado, para as empresas, a decisão significa a continuidade de uma carga tributária maior sobre as receitas financeiras. A alíquota de 4,65% pode representar um impacto significativo para o caixa de muitas corporações, especialmente em um cenário econômico desafiador, com juros elevados e recuperação econômica lenta após a pandemia.
Empresas que planejavam manter a alíquota reduzida de 2,33% até abril de 2023 terão que se ajustar imediatamente às novas exigências fiscais, o que pode exigir uma reestruturação nos seus planejamentos financeiros. A disputa em torno da alíquota do PIS/Cofins também gerou debates sobre a previsibilidade e segurança jurídica para o ambiente de negócios no Brasil, uma vez que mudanças tributárias no final de um governo podem ter consequências duradouras para o setor privado.
Perspectivas futuras
A decisão do STF estabelece um importante precedente para futuras discussões tributárias envolvendo o princípio da noventena e a validade de decretos presidenciais. Além disso, reafirma o papel do Supremo como mediador em disputas entre governo e empresas, especialmente em temas sensíveis como a carga tributária e a arrecadação fiscal.
Com a validação do decreto de Lula, o governo ganha fôlego para manter o equilíbrio nas contas públicas e continuar implementando suas políticas econômicas. No entanto, o impacto da decisão no setor empresarial pode gerar novas discussões sobre a necessidade de uma reforma tributária mais ampla e que promova um ambiente de negócios mais estável e previsível.
A validação do decreto de Lula pelo STF sobre a alíquota do PIS/Cofins sobre receitas financeiras representa um marco importante na disputa tributária entre governo e empresas. A decisão unânime dos ministros garante ao governo a manutenção de R$ 5,8 bilhões em receitas anuais, ao mesmo tempo que impõe às empresas o desafio de lidar com uma carga tributária mais elevada. A questão destaca a importância de discussões contínuas sobre a segurança jurídica e a previsibilidade no sistema tributário brasileiro, essenciais para o desenvolvimento econômico do país.