Discurso de Lula na ONU: contraponto a Trump em meio a tensões entre Brasil e EUA
Lula abre Assembleia Geral da ONU em Nova York
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta terça-feira (23), o debate de líderes da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Esta é a primeira viagem de Lula aos Estados Unidos desde o início do novo governo de Donald Trump, em janeiro, e ocorre em um momento marcado por fortes tensões entre os dois países após a imposição do chamado tarifaço sobre produtos brasileiros.
Seguindo a tradição, coube ao Brasil inaugurar a sessão que reúne presidentes, primeiros-ministros e diplomatas de 193 nações. O discurso de Lula ganhou atenção internacional pela expectativa de se consolidar como um contraponto às posições defendidas por Trump, que discursaria em seguida, representando os EUA.
Relações Brasil-EUA no pior momento em décadas
A viagem de Lula acontece em um contexto de relações bilaterais fragilizadas. O governo americano anunciou, recentemente, sanções contra cidadãos brasileiros em reação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre as medidas, está a revogação do visto americano do advogado-geral da União, Jorge Messias, além da aplicação da lei Magnitsky contra Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes.
Essas sanções se somam às sobretaxas de 50% impostas por Trump a produtos brasileiros, o que levou especialistas a classificarem o atual cenário como o mais tenso das últimas décadas nas relações entre Brasil e EUA. O discurso de Lula na ONU foi preparado justamente para reafirmar a defesa da soberania nacional diante dessas pressões externas.
Pautas centrais do discurso de Lula na ONU
O pronunciamento de Lula buscou enfatizar temas que dialogam diretamente com a agenda internacional, mas também com as tensões diplomáticas recentes. Entre os principais pontos abordados, destacam-se:
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Soberania nacional: reafirmação da independência das instituições brasileiras diante de pressões externas.
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Defesa da democracia: valorização do Estado de Direito e das decisões do STF.
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Crítica ao protecionismo: posicionamento contrário ao tarifaço e às barreiras comerciais que prejudicam países emergentes.
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Reforma da ONU: defesa da atualização da estrutura do Conselho de Segurança para refletir a geopolítica atual.
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Agenda ambiental: destaque para a COP30, que será realizada no Brasil, e compromisso com a preservação da Amazônia.
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Conflitos internacionais: apelo por soluções diplomáticas para as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia.
Com esse conjunto de temas, Lula buscou consolidar sua imagem de liderança global voltada ao multilateralismo e em oposição ao isolacionismo de Trump.
Lula e Trump: antagonismo político reforçado
A expectativa em torno do discurso também se deve à rivalidade recente entre Lula e Trump. Os dois líderes trocaram críticas públicas após o governo americano tentar interferir no julgamento de Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo STF por tentativa de golpe.
Lula classificou as ações dos EUA como ofensivas à soberania brasileira e prometeu reforçar a defesa da independência do Judiciário. O palco da ONU serviu para marcar essa diferença de posições, ainda que, segundo assessores, Lula não tenha a intenção de mencionar diretamente o nome de Trump em sua fala. O objetivo foi construir uma narrativa de contraste, sem personalizar o embate.
Impacto das sanções americanas no Brasil
As recentes medidas adotadas pelo governo Trump ampliaram a tensão diplomática. Ao bloquear bens e restringir transações de cidadãos brasileiros nos EUA, Washington deixou clara sua disposição de pressionar politicamente.
No Brasil, a decisão foi recebida como uma interferência indevida, especialmente pelo fato de atingir diretamente figuras do Judiciário e seus familiares. Para o governo Lula, a escalada de sanções reforça a necessidade de buscar apoio internacional na ONU e de ampliar alianças com outros países que também defendem o multilateralismo.
O simbolismo da abertura do debate geral
Tradicionalmente, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU. Esse espaço simbólico tem sido usado por presidentes brasileiros para apresentar uma visão crítica sobre os desafios globais.
No caso de Lula, o discurso foi visto como oportunidade para retomar protagonismo internacional após anos de desgaste da imagem do Brasil. Além disso, a possibilidade de que Trump assistisse à fala de Lula ou que os dois se cruzassem nos corredores da ONU aumentou a expectativa sobre um eventual embate indireto entre os dois líderes.
Desafios futuros para Lula na diplomacia internacional
O discurso de Lula na ONU não se limita ao contexto atual das relações Brasil-EUA. Ele também faz parte de uma estratégia mais ampla de reposicionar o Brasil no cenário global. Os próximos desafios envolvem:
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Condução da COP30 – o Brasil terá protagonismo nas negociações ambientais.
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Ampliação de parcerias comerciais – buscando reduzir a dependência do mercado americano.
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Reforma da ONU – liderança do Brasil em debates sobre a governança internacional.
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Conflitos globais – mediação e defesa da paz em áreas de tensão como Gaza e Ucrânia.
Com essa agenda, Lula pretende reforçar a imagem de estadista e consolidar o Brasil como ator relevante nas discussões multilaterais.






